Biocombustível. A corrida pelo ambiente pode provocar 1400 mortes em 2020

13/01/2013 14:16

 

Por Diogo Pombo, 

UE apostou nos biocombustíveis até 2020. Consequências? Alimentos mais caros, mais emissões de CO2 e menos terras para cultivar

 

O biocombustível é desde 2009 uma das apostas da União Europeia, (UE) no esforço para reduzir o efeito estufa e as emissões de gases nocivos para a atmosfera do nosso planeta, mas a aposta pode estar, afinal a ser feita numa opção poluente e até 2020 poderá ser responsável por quase 1400 mortes prematuras na Europa e pela redução da produção agrícola para consumo humano e por uma escalada de preços nos alimentos, de acordo com um estudo publicado pela revista “Nature Climate Change”.

O biocombustível é uma fonte de energia sem origem fóssil, derivada de materiais agrícolas, como a cana-de-açúcar, milho ou soja ou de qualquer tipo de biomassa, como árvores e plantas. O relatório em causa, da autoria de um grupo de investigadores britânicos da Universidade de Lancaster, em Inglaterra, prevê que a produção de biocombustível, apesar de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, como o CO2, quando comparada com combustíveis fósseis – petróleo, carvão ou gás – possa contribuir ainda mais para a poluição.

Uma das conclusões aponta o exemplo de alguns tipos de árvores, como o eucalipto ou o salgueiro, cujos resíduos são utilizados para produzir biocombustível. No processo libertam uma substância, o isopreno, que, conjugada com outros poluentes presentes no ar, forma ozono, o que pode ser tóxico. “Produzir biocombustível é visto como uma coisa boa porque reduz a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera”, diz Nick Hewitt, um dos responsáveis pelo estudo, à Reuters. “O que estamos a dizer é que sim, é óptimo, mas os biocombustíveis também podem vir a ter um efeito negativo na qualidade do ar”, avisou. Nick Hewitt refere efeitos nas “colheitas agrícolas”, que podem ser “pequenos, mas significativos”.

 

PRIMEIRA META: 2020 Em 2009, a Comissão Europeia aprovou a sua Directiva de Energia Renovável (RED), com que determinou vários objectivos a cumprir até 2020. Um deles passa por garantir que 10% dos combustíveis utilizados nos transportes de cada Estado-membro seja oriundo de fontes renováveis.

O biocombustível não é a única hipótese – existe a electricidade -, mas é a que mais implicações traz para o meio ambiente, porque exige terrenos agrícolas que revertam exclusivamente para a produção de biocombustíveis e isso leva a uma corrida à procura de solos aráveis e uma competição com terrenos dedicados ao cultivo de produtos para consumo humano.

O resultado: uma tendência para a redução de terras das quais possam brotar alimentos. “Estamos a colocar em concorrência directa a produção de alimentos com a produção de produtos agrícolas para combustíveis”, sublinha Nuno Sequeira. O presidente da Quercus diz ao i que “fruto desta concorrência, será expectável que os preços [dos alimentos] continuem a subir” e que surjam “eventuais problemas de abastecimento de alimentos a populações humanas”.

Hoje, cerca de dois terços do óleo vegetal gerado na UE é consumido pela produção de biocombustíveis e um relatório publicado pela Quercus em Dezembro, baseado em estudos conduzidos por várias organizações ambientais internacionais, estimou que até 2021 o preço dos óleos vegetais venha a subir 36%. O preço do milho poderá aumentar até 22%, e o preço do açúcar também pode subir mais 21%.

Em 2011, cerca de 37 milhões de hectares de terreno tinham já sido adquiridos com o objectivo de produzir biocombustível, de acordo com a International Land Coalition. Até 2020, a meta estipulada pela UE, a área poderá aumentar de 4,7 a 7,9 milhões - sensivelmente o tamanho da Irlanda.

No ano em que a RED foi aprovada, a Europa registava uma extensão de terrenos agrícolas dedicados à produção de biocombustível suficientes para, num ano, alimentar 127 milhões de pessoas, segundo a Oxfam – um número que ronda as actuais populações de Portugal, Espanha e França juntas.

A confederação de organizações unidas na luta contra a fome e pobreza revelou ainda que, em 2020, e tendo em conta os objectivos traçados, a UE seria responsável pelo consumo de quase um quinto da produção mundial de óleo vegetal.

 

Fonte: ionline.pt

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