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EUA devem importar milho do Brasil para abastecer pecuária, diz professor de Iowa
12/09/2012 17:59
Para Bruce Babcock, produção estadunidense de etanol não sofrerá queda, pois demanda continuará alta
por Daniela Bernardi I Vinicius Galera de Arruda (Globo Rural)
O volume da produção de etanol dos Estados Unidos não diminuirá, mesmo com o aumento do custo do milhoprovocado pela seca que assola o país. É o que diz BruceBabcock, diretor do Centro de Estudos em Bioenergia e professor de economia agrícola da Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos. Para o especialista, que falou com exclusividade à Globo Rural, “o Brasil deve investir em novas refinarias para se tornar o maior exportador mundial de etanol”. Confira a íntegra da entrevista.
GLOBO RURAL – Quais são as projeções para o mercado de etanol mundial, após a seca que atingiu os Estados Unidos?
Bruce Babcock – A seca diminuiu a produção de milho dos Estados Unidos em 25%, aproximadamente, em comparação com volumes anteriores. Essa queda causou um aumento de mais de 50% no preço do cereal. Como o milho representa uma grande parcela dos custos da produção de etanol, o preço do combustível também cresceu substancialmente. A maioria dos analistas das companhias de petróleo acredita que o preço do etanol nos Estados Unidos crescerá por conta do mandato do Governo que força as companhias a continuar usando uma alta quantidade de etanol [10% de mistura]. Nesse caso, é provável que a produção de etanol nos EUA não caia significantemente, apesar do aumento nos custos da produção.
GLOBO RURAL – Você acredita que os Estados Unidos serão capazes de manter o mesmo volume de exportação de etanol?
Bruce Babcock – É provável que o aumento do preço do etanol de milho dos Estados Unidos faça as exportações para o Brasil caírem. Assim, em geral, as exportações do biocombustível sofrerão uma queda significante. O Canadátambém tem um mandato que impõe certa quantidade de etanol em seus combustíveis [5% de mistura]. Isso cria uma alta demanda pelo produto. Caso o país continue importando etanol, os EUA continuarão a exportar.
GLOBO RURAL – Alguns especialistas brasileiros acreditam que os Estados Unidos terão que escolher para onde destinar a produção de milho: para ração de porcos e aves; ou para etanol. O que você acredita que acontecerá?
Bruce Babcock – Eu acredito que o volume da produção de etanol não cairá significantemente. Mas isso significa que as exportações de milho dos Estados Unidos sofrerão uma queda. Assim como acontecerá com a quantidade de grão destinada para a indústria pecuária. As únicas possibilidades para que os Estados Unidos tenham milho para a pecuária são a diminuição da produção de ovos, de leite e de carne ou a importação do grão de outros países, como o Brasil.
GLOBO RURAL – Como o Brasil pode tirar vantagem desse momento?
Bruce Babcock – O mandato sobre o combustível estadunidense está sendo atendido pelo etanol de cana brasileiro. Esse quadro se manterá pelos próximos anos. Além disso, se a União Europeia continuar com suas diretrizes para energia renovável, haverá também uma forte demanda no continente europeu. É provavel, porém, que a própria demanda interna do Brasil supere a oferta do país nos próximos cinco anos. Assim, é difícil dizer se será o mercado internacional ou o próprio mercado interno que estará mais atrativo para o etanol brasileiro. Basta dizer que, enquanto o preço do petróleo continuar alto, continuará a existir uma forte demanda por etanol, seja produzido no Brasil ou nos Estados Unidos.
GLOBO RURAL – Você acredita que o Brasil é capaz de voltar a ser o maior exportador de etanol?
Bruce Babcock – O Brasil tem uma vasta capacidade para aumentar sua produção de etanol. Certamente, o país poderá se tornar o grande produtor e exportador mundial de etanol. O que falta é investimento: tanto em novos campos para plantação de cana-de-açúcar como em novas refinarias. Só quando houver esses investimentos, o Brasil alcançará um maior potencial.
Bruce Babcock será responsável pelas palestra “Agribusiness do Futuro”, no dia 26 de setembro, durante o Global Agribusiness Fórum. O evento acontecerá em São Paulo e trará diversos especialistas para discutir o agronegócio nacional e mundial. Mais informações no site: globalagribusinessforum.com.br.
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