Mulheres conquistam espaço na aviação agrícola

20/08/2012 17:47

 

Habilidade e dedicação delineiam a participação feminina no setor 

O mercado de trabalho na aviação, assim como em muitas outras áreas, não é mais exclusivo dos homens, já que a participação feminina vem aumentando ao longo dos anos. Elas têm se destacado, inclusive ocupando cargos de liderança e chefia, no comando de jatos comerciais, dos aviões das forças armadas, na aviação desportiva e agrícola.

Números da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) mostram o crescimento do número de mulheres que procuram o mercado aéreo. Nós último três anos ocorreu um aumento de 410% no número de emissão de novas licenças de piloto para mulheres.

Ada Leda Rogato foi uma pioneira da aviação no Brasil e a primeira mulher piloto agrícola do país, segundo historiadores. Em 1948, quando as autoridades decidiram dar combate aéreo à broca-do-café - praga que ameaçava as plantações do principal produto de exportação na época -, ela aceitou o desafio de cumprir a tarefa que a transformou em pioneira do polvilhamento aéreo no Brasil. Desde então, outras mulheres apaixonadas por aviação passaram a ingressar no setor.

Para a piloto Rochele Barcellos Teixeira, 30 anos, de Canoas (RS), a aviação agrícola representa evolução da tecnologia no campo, aumento de produtividade na lavoura e alimento na mesa para a população. “Me orgulho muito de fazer parte disto, e por isso executo meu trabalho com dedicação”, diz. Formada na escola Aero Agrícola Santos Dumont, em Cachoeira do Sul (RS), ela fez seu primeiro voo solo no dia 7 de setembro de 2009, sagrando-se a primeira mulher no comando da aeronave Embraer 201 Ipanema PR-LAU.
Ela conta que quando decidiu fazer o CAVAG (Curso de Aviação Agrícola), esperava ter dificuldades com a aceitação dos clientes, por ser uma área de atuação mais masculina, mas foi surpreendida. “Os clientes gostam de me receber nas pistas, acreditam no meu trabalho e quando são atendidos por outros colegas, normalmente perguntam: e a Rochele? Eu acho isso muito bacana, pois gosto do serviço bem feito, e levo a sério o meu trabalho, então fico muito feliz quando sou retribuída desta forma”, conta orgulhosa de sua escolha profissional. Quanto a reação dos colegas de profissão, ela diz que “a maioria são curiosos e incentivadores, mas infelizmente não posso dizer que são todos”.

Rochele já trabalhou com diversas culturas, todas nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Na última safra trabalhou em uma usina que cultiva cana-de-açúcar e soja, no estado de São Paulo. Também já atuou em lavouras de laranja e eucalipto. “A aplicação aérea cumpre o objetivo sendo extremamente eficiente e ágil”, assegura.

Para a piloto Maria Aparecidas dos Santos, 29 anos, de Rondonópolis (MT), a aviação sempre foi seu sonho. Iniciou carreira na aviação executiva e acabou optando pela aviação agrícola por considerar que a executiva ainda é um espaço muito restrito aos homens. “Enfrentei muito machismo e preconceito. Me aconselhavam a linha aérea, mas não era o que eu queria naquele momento. Tive algumas pressões por parte de alguns colegas de trabalho, mas também muitos conselhos e ajuda dos que atuam na área agrícola”.

Atuando um ano nesse setor, trabalhou em lavouras de algodão, soja e milho. Na última safra operou na região de Sapezal (MT). “O trabalho e realmente cansativo, a nossa região e quente e isso deixa o voo um pouco turbulento, mas são áreas boas e isso compensa. É minha primeira safra e tenho certeza que foi uma experiência valiosa”, comemora. Ela conta que ver as desfolhas nas lavouras foi um fato que a marcou nesse tempo na profissão. “Após o tempo que o produto age você sobrevoa a área aplicada e consegue visualizar claramente teu trabalho e ver que ficou bem feito. Isso e gratificante!”, completa.

A gaúcha Rochele Barcellos Teixeira considera como uma das vantagens da profissão, poder exercer plenos poderes como comandante da própria aeronave, quanto a decisão de executar o trabalho ou não, dependendo das condições climáticas, características da pista, obstáculos na lavoura, e até quanto a poder questionar as condições de manutenção do equipamento. “Sou responsável por tudo o que envolve a minha operação, e a minha segurança depende de uma boa avaliação de diversos fatores”, diz a piloto. A única dificuldade real que ela aponta é a distância dos familiares, o que segundo ela prejudica sua vida pessoal.
 
Em três anos de atividade, ela diz ter vivido algumas situações tanto engraçadas, quanto tristes, duas das quais amarcaram muito. “Trabalhei próximo a um lugarejo onde as crianças eram dispensadas da aula para ficar olhando a operação ao lado da pista. Elas ficavam tão impressionadas que me presenteavam com refrigerantes durante o trabalho, tentando me agradar. Achei aquilo tudo curioso e ao mesmo tempo muito bom, pois aquelas crianças vão crescer sabendo que é normal uma mulher escolher pilotar aviões. A segunda foi numa operação dentro de uma usina, quando um grupo de mulheres cortadoras de cana, pediram a um colega se eu podia abrir a janela do avião para que elas tirassem uma foto. Fiquei realmente emocionada quando vi que aquele simples aceno gerou muitos sorrisos, afinal, eu não sou mais importante do que elas”.

Para aqueles que desejam ingressar na profissão ou mesmo, estão iniciando a atuação no setor, Rochele lembra que seria um "clichê" dizer: "escolha um trabalho que você ama, e não precisarás trabalhar nem um dia". Por isso, ela deixa outro conselho: “Faça do seu trabalho a sua imagem, sendo reconhecido pela dedicação e qualidade, e aplique a lavoura do seu cliente como se fosse sua, pois uma boa reputação se constrói em anos de trabalho duro, mas uma má reputação em apenas alguns dias”.

Maria Aparecida reforça os conselhos da colega e diz que aqueles que querem entrar nessa área devem persistir. “As dificuldades são diárias, mas a profissão e gratificante”, garante a mato-grossense.

O presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Nelson Antônio Paim, destaca que as mulheres estão ocupando cada dia mais espaço na aviação civil, e ter duas pilotos agrícolas é muito satisfatório. “Isso prova que as mulheres possuem a mesma capacidade e habilidade que os homens, e que a aviação agrícola é uma atividade atraente para todos”, assegura.

Entretanto, em meio as comemorações do Dia Nacional da Aviação Agrícola, neste domingo (19), os 65 anos do Sindag e importantes conquistas como novo regulamento para o setor e a possibilidade de conversão para o etanol dos motores de aeronaves, o setor enfrenta grandes desafios. Projetos de leis e normas que proíbem ou limitam o uso de aviões em lavouras podem, segundo o Sindicato, determinar a viabilidade ou não da sobrevivência do setor.

Para Paim, o IBAMA se precipitou na proibição da pulverização aérea desses princípios ativos (Imidacloprido, Tiametoxam, Clotianidina ou Fipronil). “Falta informação suficiente sobre os dados das pulverizações aéreas, e proibir essa tecnologia e não proibir os outros sistemas é um erro muito grande, porque o problema mencionado sobre as abelhas pode ser relativo aos princípios ativos dos defensivos, e não sobre o método de pulverização”, diz. Ele explica que os argumentos usados pelos técnicos são insuficientes, quando relatam que o problema está relacionado com a deriva de pulverização aérea, mas os equipamentos terrestres produzem derivas da mesma forma. “Todos os equipamentos, se bem operados e ajustados, podem operar com total segurança para o Meio Ambiente”, observa o presidente do Sindag. “Então condenar um método e manter outros não vai resolver o problema”, completa.

Ele ressalta ainda que os estudos técnicos levantados dizem que o problema da mortalidade das abelhas não estão relacionados diretamente aos defensivos agrícolas, que também pode haver vários outros problemas relacionados e que podem ser prejudicais para a apicultura. O Sindicato das Empresas de Aviação Agrícola juntamente com todos os representantes do setor produtivo, coordenados pelo Ministério da Agricultura, estão realizando reuniões e levantamentos técnicos para que seja montado um plano estratégico que possibilite a integração e convivência entre agricultura e apicultura. “Isso é possível e inclusive temos exemplos deste manejo na cultura do citros no Estado de São Paulo”, afirma Paim.

Para a piloto Rochele Barcellos Teixeira, a população em geral está muito preocupada com a questão ambiental hoje em dia, mas estão esquecendo de fazer isto de uma forma racional. “O uso de agrotóxicos aumenta a produtividade da lavoura, o que diminui o preço do alimento para o consumidor. Houve uma grande evolução na produção de agrotóxicos menos nocivos durante os últimos anos, e respeitado as carências, o índice de contaminação da maioria é igual a zero. Estes produtos ainda são permitidos serem aplicados por tratores, mas os especialistas do setor sabem que o avião não é o causador do problema, muito pelo contrário, é a solução! É lamentável o país responsável pela invenção do avião estar neste momento se voltando contra a tecnologia”.

Conforme divulgado no jornal Diário de Cuiabá, “na última quinta-feira (16), a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e demais entidades do setor produtivo, como a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), receberam resposta positiva da ministra-chefe da Casa Civil, Gleise Hoffman, às reivindicações sobre a medida que proibiu a pulverização aérea de alguns agroquímicos. Com a decisão, a restrição valerá apenas para as próximas safras”.
 
Em comemoração ao Dia Nacional da Aviação Agrícola (19), o Portal Agrolink parabeniza todos os profissionais que fazem parte desse setor, que contribui de forma vital para o sucesso da agricultura.



"Há 65 anos levamos em nossas asas o desenvolvimento da agricultura de nosso País. Combatemos incêndios que ameaçam nossas florestas, ajudamos no manejo de matas e somos a guarda do meio ambiente quando as lavouras necessitam de tratamentos. Preparamo-nos para isso, vivemos disso e amamos isso". Confira a mensagem na íntegra.
Nelson Antônio Paim - presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag)



 
“Gostaria de fazer um chamado a todos os colegas de profissão para que se
respeitem e procurem se unir em benefício do setor, pois os aviões e as tecnologias de aplicação evoluíram muito desde o começo, mas a categoria está cada vez mais depreciada. Estamos sendo banidos por todos os lados e não conseguimos reagir. Também desejo que tenham todos sempre um bom trabalho, com segurança, e que possam trabalhar, receber, e retornar sempre com saúde”.
Rochele Barcellos Teixeira – piloto

 



“Parabéns aos colegas e todos aqueles que se dedicam e estão envolvidos na aviação. Um forte abraço!”
Maria Aparecidas dos Santos - piloto
 
 
Fonte: Agrolink

 

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