Notícias dos Principais Jornais Brasileiros (04-10-2012)

04/10/2012 17:52

 

AGRONEGÓCIO
CRESCE OFERTA DE BIOCOMBUSTÍVEIS NO REINO UNIDO

Uma das maiores usinas de etanol da Europa está prestes a iniciar sua produção no norte da Inglaterra e contribuir para um esperado aumento da capacidade de oferta de biocombustíveis do Reino Unido. A usina da Vivergo Fuels, localizada perto da cidade de Hull, deverá começar a operar ainda neste ano e vai se somar à usina do grupo Ensus em Teesside, que estava desativada mas retomou operações em setembro.

O Reino Unido continua sendo um peixe pequeno na produção de biocombustíveis em comparação a países como Estados Unidos e Brasil, mas a nova capacidade vai eliminar sua desvantagem em relação à França, Alemanha e outros países europeus. As unidades também deverão ajudar o Reino Unido a chegar mais perto de suas metas de produção de energia limpa, já que ficou definido que os biocombustíveis deverão responder por 10% dos combustíveis consumidos pelo setor de transporte até 2020.

Entretanto, embora o etanol seja menos poluente que os combustíveis fósseis, seu uso como uma alternativa ao petróleo tornou-se motivo de controvérsia por causa da utilização pesada de grãos, o que ajuda a provocar aumentos nos preços mundiais dos alimentos.

As usinas da Vivergo e da Ensus usam trigo com baixos teores de proteínas, empregado na alimentação de animais, em vez de grãos de qualidade, que acabam nos pães consumidos pelos britânicos. Mas críticos afirmam que isso ainda afeta os preços dos alimentos e a oferta, ao elevar os custos de produção de carne bovina e suína e usar terras que poderiam ser empregadas na produção de grãos comestíveis.

Ruth Kelly, consultor de políticas econômicas da Oxfam no Reino Unido, diz que há um apoio crescente do governo e da União Europeia a um recuo na política dos "combustíveis em detrimento dos alimentos", em razão de seu efeito sobre os preços dos alimentos. "Portanto, é desapontador ver que o setor privado está se movimentando na outra direção e optando por erguer refinarias".

No mês passado, a França pediu uma pausa no desenvolvimento de biocombustíveis que competem com os alimentos, enquanto a União Europeia tenta impor um teto de 5% ao uso dos biocombustíveis de primeira geração nos transportes.

No entanto, Jack Watts, analista sênior do Agriculture and Horticulture Development Board, diz que o mercado de trigo é globalizado e mais afetado por acontecimentos como a decisão da Rússia de conter as exportações e a seca nos Estados Unidos do que pelo aumento da produção de biocombustíveis pelo Reino Unido. "O Reino Unido representa 1,5% da produção mundial de trigo. Somos um participante muito pequeno".

Os investidores nas usinas estão certos de que não contribuirão para a alta dos preços, nem influenciarão na oferta de alimentos. A Vivergo, apoiada pela BP, a multinacional de gás e petróleo, e pela Associated British Foods (ABF), que controla o grupo varejista Primark e também tem operações consideráveis no segmento de gêneros alimentícios, informa que vai usar o trigo que, de outra maneira, seria exportado.

Mark Carr, presidente-executivo da divisão AB Sugars da ABF, acrescenta que quase metade do trigo que a usina usa será "substituída" por rações animais ricas em proteínas, que são um subproduto das usinas que produzem bioetanol a partir do trigo.

Assim que a usina da Vivergo estiver em operação, o Reino Unido poderá converter 2,2 milhões de toneladas de trigo - cerca de 15% da produção local - em 820 milhões de litros de etanol por ano. Isso continuará sendo uma fração dos 38 bilhões de litros de capacidade instalada do Brasil e dos 51,7 bilhões de litros dos EUA. Mas colocará o Reino Unido mais perto da Alemanha, que produz 1,2 bilhão de litros, e da França com 2,1 bilhões. E mais usinas britânicas estão em fase de planejamento.

Todavia, analistas afirmam que o aumento da capacidade poderá continuar não sendo suficiente para o Reino Unido atender seus objetivos para os biocombustíveis. Harry Boyle, analista de bioenergia da Bloomberg New Energy Finance, uma consultoria especializada em pesquisas energéticas, diz que "pouquíssimas" usinas foram propostas desde que as metas para os biocombustíveis foram estabelecidas, "principalmente porque os investidores decidiram não seguir adiante".

As duas novas unidades também vão ajudar suas economias locais: a Vivergo avalia que empregará 80 pessoas e dará suporte indireto a outras mil em funções de armazenagem, transporte e manutenção. (Tradução de Mario Zamarian)

 
04/10/2012 
AGRONEGÓCIO
CRISE INFLUENCIA FUSÃO DE EMPRESAS DE AVES NO PR

Um mês depois de o secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, informar que bancos trabalhavam com a possibilidade de estimular fusões e aquisições de empresas que atuam na área avícola para evitar quebras no segmento, a primeira negociação foi fechada. A Averama, que tem sede em Umuarama, vai unir-se à BR Frango, de Santo Inácio, municípios localizados no noroeste do Estado.

A conversa entre os dois começou há seis meses e o acordo para a fusão foi fechado na noite de terça-feira. As empresas agora estão em processo de due diligence (auditoria). O BB Investimentos vai ajudar na consolidação, para definir os percentuais de cada sócio. Não devem ser feito desembolsos, segundo informou o dono da Averama, Célio Batista Martins, que fundou a empresa há 25 anos. "Passaremos a ser uma das maiores empresas do segmento no Paraná", completou.

 

A Averama tem dois frigoríficos, um em Umuarama e outro em Rondon (onde opera com a marca Pramin), ambos habilitados para exportação. A empresa abate cerca de 150 mil frangos por dia nessas unidades. Martins contou que a planta da BR Frango estava parada. Desde a semana passada, no entanto, a Averama passou a abater cerca de 30 mil aves por dia no local.

 

A planta da Frango BR entrou oficialmente em operação em março, com capacidade para abater 210 mil frangos por dia em dois turnos de trabalho. Com investimentos em ampliações, pode dobrar de tamanho.

No mês passado, Reinaldo Morais, presidente da BR Frango, disse que o aumento nos preços dos grãos levou a dificuldades com capital de giro e crédito e que algumas conversas estavam acontecendo entre empresários da área. "Todo dia recebo ligações com sondagens, especulações e interesse de investidores", contou. "Todo mundo está se movimentando. Falta aparecer o primeiro corajoso."

O Valor apurou que a empresa manteve conversas com pelo menos duas concorrentes, a GT Foods e a Tyson Foods. A BR Frango possui dívidas de aproximadamente R$ 100 milhões. A companhia foi a segunda empreitada de Morais no setor de aves. O empresário era um dos cinco sócios da Frangobras, um frigorífico com capacidade para abater cerca de 160 mil aves por dia, localizado em Campo Mourão, inaugurado em 2008 e vendido para a americana Tyson Foods naquele mesmo ano.

 

Morais tinha planos ambiciosos para a BR Frango. Sua meta era transformá-la na terceira maior processadora de aves do país (atrás apenas de BRF-Brasil Foods e Seara, da Marfrig) por meio da participação majoritária em pelo menos cinco novas plantas nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. A expectativa era investir cerca de R$ 800 milhões até 2017 e alcançar a marca de R$ 1 bilhão de faturamento em 2014. Só em Santo Inácio foram investidos R$ 120 milhões.

Para financiar essa expansão, a BR Frango buscou um sócio-investidor disposto a adquirir pelo menos 30% de seu capital. A processadora manteve conversas com pelo menos três fundos - um nacional e dois estrangeiros, com sede na Europa e no Oriente Médio -, mas as condições adversas do mercado inviabilizaram a negociação

 
04/10/2012 
AGRONEGÓCIO
CURTAS

Sementes - Monsanto tem perda no quarto trimestre

 

 

A Monsanto reportou ontem um prejuízo de US$ 229 milhões no quarto trimestre do ano fiscal de 2012, ante um prejuízo líquido de US$ 112 milhões um ano antes.

Estratégia - Até 2020, Hershey só terá cacau certificado

A Hershey anunciou que sua produção de chocolate será feita só com cacau certificado até 2020. Hoje, a certificação não atinge 5% da oferta mundial.

 

 
04/10/2012 
AGRONEGÓCIO
HERINGER SINALIZA TRIMESTRE FRACO E AÇÕES RECUAM 17,24%

A administração da Fertilizantes Heringer conversou com analistas e sinalizou que seus resultados neste semestre serão fracos. Como consequência, Bank of America Merrill Lynch (BofA) e Itaú Corretora rebaixaram recomendações e previsões para lucro e Ebitda da companhia. Nos dois últimos pregões, as ações da empresa se desvalorizaram 17,24%. O giro do papel foi de R$ 5,1 milhões na terça e de R$ 8,7 milhões ontem - valores muito acima da média diária do ano, de R$ 858 mil. O valor de mercado da Heringer caiu R$ 121 milhões, para R$ 581,6 milhões. Procurada, a empresa não deu entrevista.

A analista Isabella Simonato, do BofA Merrill Lynch, rebaixou a recomendação para as ações de "compra" para "abaixo do desempenho do mercado". Reduziu, em 34%, a estimativa para o preço-alvo do papel, que passou de R$ 19,00 para R$ 12,50.

A avaliação de Giovana Araújo, da Itaú Corretora, para a ação saiu de "outperform" (desempenho acima da média de mercado) para "market perform" (em linha com a média de mercado). O preço justo foi reduzido em 22%, de R$ 20,90 para R$ 16,30. Isabella, analista do banco americano, identifica uma deterioração nos resultados da empresa no curto prazo. "Atrasos no início da temporada de plantio no Brasil e a alta dos estoques de fertilizantes no canal de distribuição provavelmente levaram à redução das margens do varejo no terceiro trimestre", diz o relatório.

 

O BofA cortou em 40%, para R$ 200 milhões, a sua estimativa para o lucro operacional antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da empresa no ano. Para 2013, a expectativa para o Ebitda caiu de R$ 280 milhões para R$ 224 milhões. A analista acredita ainda que, neste ano, a empresa terá prejuízo e informa que as projeções foram revistas depois de conversas com a administração da Heringer.

 

Ao comentar seus resultados no segundo trimestre, a Heringer alertava para a alta nos estoques - em dias, eles atingiram a quantidade de 113 no segundo trimestre, ante 67 no mesmo intervalo de 2011. A alta foi relacionada a um maior volume e preço médio em reais em função da expectativa da demanda do segundo semestre. Os dias de contas a pagar fecharam em 209, superando os 147 do mesmo trimestre do ano anterior.

 

A analista observa ainda que o cenário de estoques em alta remete à situação enfrentada pela companhia no quarto trimestre de 2008, mas ela avalia que o fato não irá se repetir nas mesmas proporções. Naquela ocasião, a Heringer liquidou seus estoques, o que a deixou com uma margem Ebitda negativa de 14%. Giovana, da corretora brasileira, fez ajustes ainda maiores em suas projeções. O Ebitda estimado para o terceiro trimestre agora é 66% menor do que a projeção anterior - caiu de R$ 130 milhões para R$ 44 milhões. As estimativas para o lucro no período caiu 90% - de R$ 70 milhões para R$ 7 milhões.

 
04/10/2012 
AGRONEGÓCIO
VAIVÉM

Commodity sobe 25% neste ano, mas cai em 2013, diz banco

 

 

O preço das commodities deve acumular alta de 25% neste ano, mas cai 9% no próximo. O preço dos grãos vai continuar elevado, enquanto o de metais apresentará alta modesta e o de energia permanecerá inalterado.

 

Essas são as estimativas dos economistas Giovanna Siniscalchi e Artur Manoel Passos, com base no ICI (Índice de Commodities do Itaú), queacompanha o comportamento dos preços de metais, energia e produtos agrícolas. Setembro foi caracterizado por uma redução nosagrícolas, após a aceleração em agosto, e por um bom impulso nos metais, devido às medidas de incentivo à economia nos Estados Unidos, na União Europeia e no Japão.

 

Apesar da queda de preços no setor de grãos no mês passado, osagrícolas devem voltar a subir nas próximas semanas. A demanda continua forte e precisa ser racionada antes da colheita da América do Sul, que depende ainda de uma boa evolução do clima.

Siniscalchi estima a cotação do milho em US$ 9 por bushel no final do ano, enquanto a soja deverá atingir US$ 19 por bushel.

Os economistas do Itaú lembram que agora o "risco clima", tão influente na safra dos EUA, migra para as lavouras da América do Sul, região importante para a recomposição mundial dos estoques.

Por ora, as indicações são de que o mercado vai continuar analisando de perto as previsões de chuva, principalmente na fase de desenvolvimento das plantas. O açúcar, outro produto importante no cenário nacional, terá oferta maior do que a demanda, fazendo com que os preços fiquem próximos de US$ 0,20 por libra-peso.

Do lado da energia, o barril de petróleo encerra o ano em US$ 112, e sobe para US$ 116 no final de 2013. A demanda, o dólar fraco e os riscos geopolíticos após as eleições nos EUA vão dar sustentação aos preços.

A recuperação dos preços dos metais, ocorrida em setembro, não deve se sustentar. O impacto das recentes medidas de apoio às principais economias vai ser suave. Com isso, os preços dos metais vão ter apenas ligeiros ganhos, segundo avaliação dos dois economistas do Itaú.

 

Venda de colheitadeiras aumenta 11% neste ano O bom cenário para as commodities neste ano, principalmente para soja e milho, continua incentivando as vendas de máquinas e equipamentos agrícolas. No mês passado, foram vendidas 536 colheitadeiras, 36% mais do que em 2011. Até setembro, a indústria havia repassado 3.629 unidades para as revendedoras, 11% mais do que no ano passado. As vendas de tratores, cujo cenário não era muito favorável no início do ano, já superam as de 2011. Em setembro, as indústrias repassaram 5.160 unidades para as revendedoras, somando 41,4 mil tratores nos nove primeiros meses deste ano. No mesmo período do ano passado, as vendas haviam somado 40,9 mil unidades, conforme informações do mercado.

 

Selo californiano O etanol produzido nas cidades paulistas de Pitangueiras e Guaraci, pela Guarani, recebeu registro para ser exportado para a Califórnia, um dos Estados que tem uma legislação ambiental das mais rígidas nos Estados Unidos.

 

Efeito  China O algodão continua caindo no mercado internacional, mas conseguiu um pequeno aumento na China, devido à política de compra do governo.

 

Suporte 
Na safra 2011/12, os chineses conseguiram dar suporte aos preços devido às compras internas e externas para a formação de estoques. O suporte interno deverá continuar em 2012/13, mas as importações chinesas poderão recuar.

 

Oferta 
O Icac (comitê internacional do algodão) prevê uma produção mundial de 25,5 milhões de toneladas na safra 2012/13. O consumo será de 23,6 milhões de toneladas. Importações Mesmo pisando no freio, os chineses continuarão sendo os principais importadores mundiais.

 

 
04/10/2012 
AGRONEGÓCIO
VARREDURA EMENDA QUE PREVIA ROLAGEM DE DÍVIDAS DO CACAU

Por Carine Ferreira | De São Paulo

 

Com uma dívida de quase R$ 1 bilhão acumulada ao longo dos anos em virtude do declínio da cacauicultura brasileira, produtores de cacau terão mais um problema a enfrentar: o veto presidencial a uma emenda que prorrogava prazos de pagamento dos débitos para dezembro de 2013.

 

A crise no setor foi iniciada há mais de 20 anos com a entrada da doença da vassoura-de-bruxa na mais importante região cacaueira do país - o sul da Bahia - e a queda dos preços internacionais da amêndoa naquele período.

 

Na semana passada, conforme publicado no Diário Oficial da União (DOU), o poder executivo vetou os artigos 13 e 42 da Lei 11.775, que se referiam à liquidação antecipada das operações de crédito rural e prorrogação do prazo de pagamento das dívidas para o fim do ano que vem.

 

A legislação de 2008 estabelece medidas de estímulo à liquidação ou renegociação de débitos de operações de crédito do Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira Baiana (PRLCB), cujo risco parcial ou integral é do Tesouro Nacional, Tesouro do Estado da Bahia, da Agência de Fomento da Bahia, do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste.

O governo argumenta, entre outros pontos, que a ampliação de negociação já realizada em programas anteriores demandaria novo e excessivo desconto, o que representaria impacto de R$ 2,3 bilhões ao Tesouro Nacional. Além disso, a proposta de prorrogar o prazo geraria dificuldades operacionais e desordem dos processos de renegociação em curso.

 

O prazo de pagamento das dívidas foi adiado várias vezes desde 2008, deixando como data-limite 30 de junho de 2011, conta Guilherme Galvão, presidente da Associação dos Produtores de Cacau (APC). Mas, segundo ele, foi feita uma emenda à medida provisória 565, que garantiu novas condições para quitação do crédito rural e estabeleceu prazo de pagamento para dezembro de 2013.

Antes disso, um dispositivo interno à legislação em forma de acordo com o governo da Bahia e Banco do Nordeste foi firmado há cerca de dois anos para ampliar o prazo de 4 para 8 anos de carência e de 8 para 12 anos o pagamento das dívidas no âmbito do PRLCB.

Galvão acredita que o veto à legislação vai gerar muitos problemas, pois os produtores serão acionados pela Justiça. Ele afirma que os bancos já estão entrando com ações judiciais contra todos devedores desse programa. Conforme o representante dos produtores, foram liquidados R$ 174,3 milhões de um total de R$ 542,3 milhões no âmbito desse programa (PRLCB). Sobrariam R$ 368 milhões a serem cobrados, mas a conta hoje chega a R$ 514,4 milhões porque desde o início de 2008 correm juros de 8,75% e de 11,75% ao ano para estes débitos.

 

 

 

 
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04/10/2012 
COMÉRCIO EXTERIOR
BALANÇA COMERCIAL ENCOLJHE COM A DESACELERAÇÃO GLOBAL

Apolítica americana de afrouxamento monetário, tão criticada pelo governo, mostrou seu lado positivo, ironicamente, na balança comercial brasileira. Bem ou mal, essa política está ajudando a manter os Estados Unidos à tona, apesar do impacto no câmbio global. Com a previsão de um crescimento relativamente morno de 2% neste ano - mas até acima do 1,6% esperado para o Brasil pelo Banco Central (BC) -, os americanos voltaram a comprar mais produtos brasileiros, especialmente manufaturados, amenizando a tendência de queda generalizada das exportações.

 

O saldo de setembro da balança comercial brasileira caiu 16,8%, para US$ 2,6 bilhões, em comparação com igual mês de 2011. As exportações diminuíram 5,1%, para US$ 19,99 bilhões; e as importações, 4,6%, para US$ 17,44 bilhões. No acumulado do ano, o saldo comercial despencou 31,8%, para US$ 15,7 bilhões. As exportações encolheram 4,9%, para US$ 180,597 bilhões; e as importações, 1,2%, para US$ 164,87 bilhões.

 

Foi o crescimento da venda de manufaturados que evitou a queda mais significativa das exportações brasileiras no mês passado e isso foi possível por causa dos negócios com os Estados Unidos. Em setembro, as vendas para os Estados Unidos cresceram 4,8% e, de janeiro a setembro, 11%, indo na contramão da trajetória de queda das exportações totais do país. Cerca de 45% dos embarques para os americanos são manufaturados, incluindo de suco de laranja, óleo combustível, etanol e celulose a ferro fundido, motores e turbinas de aviões.

Os Estados Unidos compensaram, assim, a forte queda dos negócios do Brasil com a Argentina, tradicional cliente dos manufaturados brasileiros, que praticamente fechou suas fronteiras neste ano por conta das dificuldades no balanço de pagamentos. A Argentina reduziu em cerca de 25% as compras do Brasil em setembro, em comparação com o mesmo mês de 2011, o equivalente a US$ 700 milhões, e em 20% neste ano, em função das barreiras introduzidas, muitas delas informais. Sua participação nas exportações brasileiras caiu de quase 9% para 7,5%. O Brasil reagiu de modo semelhante, com barreiras técnicas e sanitárias que provocaram a queda de 6,5% nas importações de produtos argentinos nos primeiros nove meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2011.

Os dois países têm negociado desde julho, conseguindo uma melhora das relações comerciais bilaterais. Em setembro, as vendas ao país vizinho aumentaram 7,4% em comparação com agosto. Mas não dá para esperar muita coisa, uma vez que os limites são impostos pelas dificuldades argentinas, que se aprofundam cada vez mais. Por causa do peso da Argentina no Mercosul, as exportações brasileiras para o bloco diminuíram 18,2% em setembro e 12,6% de janeiro a setembro.

Até os negócios com a locomotiva do mundo, a China, diminuíram em função da perda de fôlego do país asiático, cujo Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 7,5% neste ano, deixando para trás os picos de 10%. Com a economia crescendo menos, Pequim cortou as compras de commodities, que compõem a maior parte dos embarques brasileiros para o país. As exportações brasileiras para a China caíram 23,1% em setembro e 3,8% no acumulado do ano, com a redução das compras de açúcar em bruto, polímeros plásticos, soja em grão, minério de ferro, celulose, ferro-ligas e produtos siderúrgicos.

Mas a China continua como o maior destino das exportações brasileiras (e maior fonte de importações também), com US$ 32,3 bilhões neste ano, seguida pelos Estados Unidos, com US$ 20,7 bilhões, e pela Argentina, com US$ 13,5 bilhões.

 

A perda de vitalidade do comércio exterior não é um problema exclusivo do Brasil. A desaceleração está reduzindo os negócios no mundo todo. Há a expectativa de que o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai anunciar a redução do crescimento global previsto para este ano, de 3,5% para 3%, na reunião da próxima semana, em Tóquio. A Organização Mundial do Comércio (OMC) já cortou para 2,5% a previsão de crescimento do comércio global de bens neste ano, a metade dos 5% de 2011 e muito menos do que os 14% de 2010.

 

Nesse cenário, de nada adiantam barreiras comerciais e elevação de tarifas, motivo de questionamento do Brasil na OMC que, de resto, cada vez mais se assemelha à casa do velho ditado, em que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão.

 
04/10/2012 
COMÉRCIO EXTERIOR
RECUO DO COMÉRCIO MUNDIAL

A globalização que levou a economia mundial a crescer por mais de uma década está encolhendo com a forte desaceleração do comércio mundial. Ninguém mais pensa no parceiro comercial, todos se defendem para evitar a recessão. O FMI deve confirmar esta semana que o PIB mundial este ano vai ficar mesmo em 3%, e isso, se a zona do euro não afundar ainda mais. E a OMC informou que o comércio mundial não vai crescer mais do que 2,5%, ou seja, 5% menos do que em 2011. Não contem com ele para recuperar a economia mundial.

 

A alternativa é o consumo interno, mas isso implica diretamente ou não, em estímulo à produção local e defesa de mercado. Comprem de nós, não deles!

 

Protecionista é você! Nesse novo cenário de "salve-se quem puder,"os ânimos se acirram e todos se acusam de protecionistas. Até os bancos centrais, coitados, entram na história... É esse o novo cenário do comércio mundial, o que se pensava poderia salvar o mundo. EUA e Europa acusam o governo de transformar medidas provisórias em "política industrial protecionista". Eles estão de olho no único mercado consumidor mundial que, ainda vigoroso, cresce 7% ao ano e não dá sinais de arrefecer. Só que a economia brasileira estava crescendo mais de 3%, agora mal e mal chega a 1,6% Quem protege mais. Vamos aos fatos e aos números da OMC, levantados para a coluna por Jamil Chade, corrrespondente do Estado em Genebra:

1 - Em 4 anos de crise, o acúmulo de barreiras adotadas por todos os governos já atinge 3% do comércio mundial - US$ 500 bilhões, o equivalente a toda a exportação brasileira e indiana juntas.

2 - Em 4 anos, EUA adotaram mais de 120 medidas protecionistas e a Europa mais de 80.

 

3 - Desde outubro de 2011, foram adotadas 124 medidas de defesa pelos governos do G-20, afetando 1,1% do comércio desses países. O que mais preocupa, porém, é que barreiras adotadas desde 2008, e que eram tidas como "temporárias", jamais foram retiradas.

Foram 802 medidas. Hoje, o acúmulo de barreiras comerciais no mundo já afeta 3% do comércio mundial e 4% do intercâmbio do G-20. Desde a quebra do Lehman Brothers, foram 802 medidas adotadas e só 18% foram retiradas. Outra constatação da OMC é que países emergentes, como China e Rússia, elevaram nos últimos anos o apoio à agricultura. Pequim passou de um apoio negativo de 2,6% aos agricultores em 1999 para uma situação em que garantia, em 2010, 17% da renda do campo na China. Na Rússia, o governo apoiava o setor com o equivalente a 1% da renda agrícola em 1999. Hoje, é de 20%.

 

E o Brasil? O que se faz agora no Brasil, é uma tentativa atrasada de defender o mercado interno para recuperar o tempo perdido. Chegou tarde, as medidas estão sendo apressadas e intensificadas, o que explica a reação dos seus parceiros comerciais.

Ao todo, o Brasil adotou 17 novas barreiras contra importações, número que superou todos os demais países, inclusive a Argentina, que é acusada de estar adotando uma postura nacionalista. Além disso, o governo brasileiro anunciou nos últimos seis meses um total de cinco medidas de apoio à indústria nacional. Para comparar, também nos últimos seis meses, Itália, Espanha, França, Alemanha e os demais governos europeus colocaram em prática 13 planos de incentivo às suas indústrias. Mas, nenhum governo isolado chegou perto dos cinco planos do governo de Dilma Rousseff. Estados Unidos e Rússia, por exemplo, adotaram dois planos de incentivo cada.

Defesa. Enquanto a proteção crescia no mercado mundial, o Brasil limitou-se nos últimos dois anos à implementação de medidas antidumping. Em 2010 e abril de 2011, foram 25 ações. Já entre outubro de 2011 e abril de 2012, o número caiu para 16. Mas ainda assim lidera esse tipo de ação. Os europeus adotaram 13, contra doze dos Estados Unidos. No total, países adotaram 73 medidas.

Os números da OMC mostram que estamos entrando em uma nova fase do comércio mundial. O da proteção e autodefesa. A OMC e outras instituições internacionais já alertaram que isso pode aumentar ainda o risco de recessão, pois, na ausência de mercados internos, resta apenas o aumento das transações comerciais entre países. Assunto para o G-20 que promete tudo e nunca resolve nada. Não há dúvida alguma de que, numa economia mundial contraída e recessiva, se defender e proteger seus mercados é o caminho errado. Mas fica a pergunta: já disseram isso para eles, para os Estados Unidos, a União Europeia, a China ( a China, sim!) e o Japão? / COLABOROU JAMIL CHADE

 
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04/10/2012 
ECONOMIA
APAGÃO DE NOVO

GABRIELA VALENTE, DANILO FARIELLO, HENRIQUE GOMES BATISTA, RENATA LEITE E AGUINALDO NOVO economia@oglobo.com.br

BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- Uma pane num transformador de Furnas, em Foz de Iguaçu, causou um apagão em diversas partes do Brasil ontem à noite. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a interrupção ocorreu das 20h55m às 21h22m e afetou áreas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além de municípios do Acre e de Rondônia. No entanto, a real extensão do blecaute só deverá ser conhecida hoje, quando os técnicos começarem a investigar as suas causas.

 

As informações preliminares do ONS são de que houve a perda de 3.500 megawatts (MW) de um total de 60.000 MW produzidos, ou seja, pouco mais de 5%. A subestação que apresentou a falha — que integra o circuito de 50 Hertz que passa pela cidade de Ivaiporã, no Paraná — faz parte do sistema de transmissão que conecta a usina de Itaipu a São Paulo.

 

De acordo com o presidente brasileiro da hidrelétrica binacional, Jorge Samek, a usina gerava por volta de 5.000 MW no momento da interrupção. Mesmo sem confirmação sobre o motivo da queda de energia, ele garantiu que a falha não ocorreu em Itaipu.

— Não houve nenhum problema na usina, que continuou gerando normalmente — afirmou Samek. Ele informou que, porvolta das 21h50m, o sistema já havia sido restabelecido e o nível de carga transmitido a partir de Itaipu já ultrapassava a marca de 4.000 MW, ou seja, próximo do nível gerado antes da interrupção.

APAGÃO NO JOGO DA SELEÇÃO TEVE OUTRA CAUSA 
Assim que houve a falha, o ONS enviou uma mensagem para comunicar a perda de carga em Itaipu e um pedido às empresas distribuidoras de energia para que dessem um “alívio de carga no sistema”. Na prática, foi uma determinação para que outras usinas gerassem energia suficiente para garantir a luz de serviços básicos e de segurança, como hospitais e cadeias. Essa manobra é realizada como forma de proteger os equipamentos.

 

O ONS informou ainda que a falta de luz que interrompeu a partida de futebol entre Brasil e Argentina, em Resistência, no país vizinho, não foi provocada pelo problema no Brasil. Segundo a Light, os locais afetados no Rio foram: Cascadura, Campo Grande, Higienópolis, Guadalupe, Penha, Rocha Miranda, Comendador Soares, Taquara, Nova Iguaçu, Seropédica e Itaguaí. A distribuidora afirma que a luz já havia sido restabelecida às 22h em todos os pontos, nas dez subestações que foram afetadas. No interior fluminense, a Ampla afirmou que houve falta de luz em diversos pontos do estado. São Gonçalo e Niterói registraram cortes de luz.

 

O blecaute atingiu sete cidades da Região Metropolitana de São Paulo, além da capital paulista. De acordo com a Eletropaulo, concessionária que atende a 24 municípios da região, as interrupções no fornecimento de energia duraram entre dois e cinco minutos, todas a partir das 20h55m.

 

Na cidade de São Paulo, houve registro de blecaute principalmente nas regiões Sul e Leste. Em bairros como Santo Amaro, por exemplo, o problema durou em média três minutos (das 20h55m às 20h58m).

Fora da capital, foram afetados os municípios de Cotia, Itapecerica, Juquitiba, Diadema, Itapevi, Embu das Artes e Taboão da Serra. A Eletropaulo informou ainda que, até ontem à noite, não havia registro de prejuízo a instalações ou equipamentos da empresa.

O professor e diretor da Coppe/UFRJ e especialista em energia Luiz Pinguelli Rosa afirmou que há indícios de que o sistema de distribuição de energia do país está enfrentando problemas, pois recentemente houve falhas na distribuição da energia nas regiões Norte e Nordeste.

No dia 22 de setembro, um apagão numa subestação em Imperatriz (MA) afetou cidades de seis estados do Nordeste. Cerca de 6 milhões de pessoas ficaram sem luz. Segundo o ONS, a falta de energia durou cerca de 23 minutos. Foram registrados problemas no sistema de integração de energia Norte/Nordeste e Sudeste/Nordeste.

— A boa notícia desta vez é que conseguiram isolar o problema, não afetou estados e grandes e regiões inteiras, e que o restabelecimento foi muito rápido — afirmou Pinguelli.

 

PARA ANALISTA, PROBLEMA ESTÁ NA DISTRIBUIÇÃO

 

Ele acredita, contudo, que é necessária agora uma ampla apuração do ocorrido e uma análise detalhada da situação da distribuição, pois não há no país excesso do demanda ou problema de geração de energia. Ele afirmou ainda que o fato de Itaipu deixar de fornecer 3.500 MW é muito relevante para o início da noite, quando há o pico do consumo doméstico do país. Segundo informações do “Jornal da Globo”, a pane na subestação de Furnas teria sido causada por um incêndio. 
 

OS SEM-TELEVISÃO

‘A culpa é da Carminha’ Internautas reclamam no Twitter de queda de luz na hora da novela ‘Avenida Brasil’

 

Dezenas de internautas usaram o Twitter para manifestar indignação em relação à falta de luz. O apagão, no entanto, não era a principal queixa, mas sim a impossibilidade de assistir às cenas da novela “Avenida Brasil”. O microblog passou a exibir diversas tiradas de humor relacionando a queda na eletricidade com Car-minha, a vilã interpretada por Adriana Esteves no programa da TV Globo.

Thaissa Quintanilha escreveu “Apagãoooooo! Sem luz eu quero ver Carminha. ;//” (sic.). Thatiane Araujo manifestou indignação pelo apagão ter ocorrido justo na hora da novela: “Legal pra caramba.. Faltou luz na hora da Carminha”, afirmou. Houve quem encarasse a situação com bom humor, como Fábio Aguiar, que disse “Viu. Só foi eu avisar para a Carminha que ia mandar o vídeo que eu tenho dela, para o Tufão que na hora a luz voltou.... hehehe”. Alana Takano também comemorou a volta da luz: “Gelei por um minuto, faltando dois minutos pra começar a Carminha, acabou a luz aqui, se não tivesse voltado, ia ficar mais que chateada”.

 

Com a eletricidade restabelecida na maior parte do país, as mensagens no microblog passaram a se referir ao jogo do Brasil, na Argentina, que sofreu atraso também por conta da falta de luz. O perfil Humor Tricolor postou: “Se o Palmeiras e o Neymar podem cair por que a Luz não?”. Alexandre Oliveira também lançou uma piada: “Acho que agora o nem o Mano Menezes tá vendo luz no fim do túnel“.

Houve quem aproveitasse para pedir a volta da novela “Avenida Brasil”, diante do atraso no jogo. O perfil de Tom & Arnaldo postou que “Tom: Carminha ficou brava que encurtou a novela e desligou a luz do jogo do Brasil!”.  (Renata Leite)

 

 

 

 
04/10/2012 
ECONOMIA
DÓLAR REGISTRA LEVE BAIXA Á ESPERA DE ATUAÇÃO DO BC

A monotonia que se instalou no mercado de câmbio só deve ser quebrada neste mês caso o Banco Central decida antecipar a rolagem de US$ 2,99 bilhões em swaps cambiais reversos que vencem no dia 1º de novembro, segundo operadores. Enquanto isso não ocorre, o equilíbrio entre volume de compras e vendas deve se manter, praticamente eliminando a volatilidade e limitando as variações diárias no fechamento.

"Não acontecendo nada de novo e muito grave no mundo, o câmbio vai ficar nisso que estamos vendo até o fim do ano", disse Reginaldo Siaca, superindentente de câmbio da Corretora Advanced.

Ontem, a moeda americana fechou o dia em queda de 0,2%, a R$ 2,023, menor cotação em uma semana e meia.

Os agentes do mercado acreditam que o BC realmente fará a rolagem dos títulos, para evitar pressão de baixa do dólar caso os deixe vencer. Alguns, inclusive, apostam que o mercado deve testar o piso de R$ 2, forçando o BC a efetivamente rolar os contratos de swap antecipadamente.

Há a expectativa, também, que a autoridade monetária possa realizar uma colocação de novos "swaps reversos", que têm o efeito de uma compra de dólar futuro, caso a cotação volte a se aproximar muito de R$ 2, piso da banda informal que impôs ao mercado.

A última intervenção do BC no câmbio ocorreu no dia 17 de setembro, quando vendeu US$ 2,172 bilhões dos US$ 3,5 bilhões em contratos de swap cambial reverso que ofereceu em leilão.

"O mercado só vai se mexer mesmo se alguém tentar peitar o BC, cutucando para ver quando ele entra", disse Sérgio Machado, gestor da Vetorial Asset. Segundo ele, nem mesmo o fluxo cambial de setembro, anunciado ontem, causou grande impacto nos negócios com a moeda americana. "O mercado está totalmente equilibrado", disse ele.

O fluxo cambial fechou setembro negativo em US$ 543 milhões, após saída líquida de US$ 1,181 bilhão apenas na semana passada, segundo dados apresentados ontem pelo BC. A conta comercial, que acompanha as entradas e saídas de recursos provenientes de exportações e importações, fechou o mês passado com déficit de US$ 1,739 bilhão. A conta financeira, por sua vez, apresentou saldo positivo de US$ 1,205 bilhão em setembro.

Como o mercado esperava, o fluxo do mês passado não indicou grandes entradas de recursos no país, mesmo após a nova rodada de estímulo econômico nos Estados Unidos, o QE3, promovida pelo Federal Reserve em 13 de setembro.


 
04/10/2012 
ECONOMIA
INFLAÇÃO NO BRASIL SE DESCOLA DO PADRÃO GLOBAL

A inflação do Brasil se descolou ainda mais dos padrões internacionais no terceiro trimestre. De 22 países que adotam o regime de metas inflacionárias, e já divulgaram números referentes a agosto, em apenas três o índice de preços ao consumidor superou os 5,2% acumulados pelo indicador brasileiro em 12 meses. Até junho, seis países ainda mostravam variação de preços acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que, na época, marcava alta anualizada de 4,9%.

Dentro desse grupo de 22 países, em 12 deles a inflação acumulada em 12 meses está acima do centro do alvo perseguido pelo banco central - o Brasil é um deles. A meta brasileira, de 4,5%, no entanto, é elevada se comparada à de outras economias. Apenas Guatemala e Indonésia miram o mesmo nível de inflação que o BC brasileiro, enquanto Turquia e Gana trabalham com metas mais folgadas, de 5% e 8,7%, respectivamente. Nos demais, o alvo é inferior ao brasileiro, a maioria entre 2% e 3%.

Para economistas, o mercado de trabalho apertado, o alto grau de indexação, a baixa taxa de investimento e o descompasso entre oferta e demanda continuam por trás da resistência dos preços no país, mas dois fatores passaram a ter papel predominante sobre a dinâmica inflacionária nos últimos meses: o choque de commodities e a depreciação cambial.

Analistas avaliam que o efeito da escalada dos grãos após a estiagem nos Estados Unidos poderia ter sido ao menos parcialmente neutralizado por alguma valorização do real, o que está descartado diante das ações do governo para controlar a taxa de câmbio.

Daniel Moreli Rocha, superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners (BI&P), calcula que, desde 1º de março, quando o dólar ainda estava em R$ 1,71, a moeda brasileira se desvalorizou 18,5% em relação à americana, enquanto uma cesta de moedas de sete países produtores de commodities ficou praticamente estável frente ao dólar no período.

"Nos ciclos anteriores de altas de commodities, o real estava se valorizando, então um movimento compensava o outro", diz Rocha, para quem a inflação brasileira "certamente" sofrerá mais impacto da disparada dos grãos do que a de outros países cujas moedas se apreciaram. Caso não tivesse ocorrido novo choque de matérias-primas neste ano, ele acredita que o IPCA poderia encerrar 2012 com aumento de 5,1%, projeção que foi elevada em 0,4 ponto percentual após a forte subida dos grãos.

Para Tony Volpon, diretor da Nomura Securities International, o Banco Central e o governo não têm como evitar a volatilidade causada por choques externos, mas podem escolher qual canal será afetado por movimentos imprevistos. Em um regime de câmbio flutuante, diz, o impacto esperado seria a apreciação da moeda. "Quando há um câmbio tabelado, necessariamente parte dessa volatilidade tem de ir para outro lugar. Se o BC não está disposto a apertar as condições monetárias, esse lugar é a inflação."

Segundo Volpon, o regime de câmbio passou de uma flutuação "suja" para outra inexistente, o que dificulta estimar o repasse da variação cambial para os preços internos. "A única coisa que sabemos é que em um regime de câmbio fixo, o choque externo tem de se internalizar via aumento dos juros ou mais inflação. Sem os juros, o 'pass through' (repasse) será maior", explica.

Com base em fundamentos econômicos, a tendência natural seria que a moeda brasileira estivesse em apreciação, de acordo com Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria. Para ele, definir piso e teto para a taxa de câmbio não é uma ação compatível com o regime de metas inflacionárias. Além desse antagonismo, Jensen aponta que o centro da meta não é mais o primeiro objetivo do BC, ao contrário do que acontece em outros países da América Latina, onde as expectativas futuras de inflação são alinhadas ao alvo central.

Levantamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostra que o Brasil tem a terceira maior expectativa de inflação do mercado para 2013 entre os oito países latino-americanos que adotam o regime de metas, de 5,5%, atrás apenas de Uruguai (6,9%) e Paraguai (5,6%).

Chefe de pesquisa para América Latina do Goldman Sachs, o economista Alberto Ramos observa que a inflação brasileira já parte de um nível mais alto do que o de outras economias. Enquanto no Brasil, o centro da meta perseguido pelo BC é de 4,5% - o mesmo percentual desde 2005 -, no Chile e na Colômbia, os alvos são de 3%. No Peru, o centro é de 2%.

O que diferencia o Brasil dessas economias, além do câmbio mais depreciado no momento, diz Ramos, é a inércia inflacionária, fenômeno pelo qual a inflação passada alimenta a inflação futura, o que, aliado ao baixo desemprego, permite repasses maiores nos preços de serviços. Nos 12 meses encerrados em agosto, o grupo de preços formado por aluguel, mensalidade escolar, cabeleireiro e empregado doméstico subiu 7,9% no IPCA.

Ramos também chama atenção para a taxa de investimento brasileira, na casa de 18% do PIB, o que limita a capacidade de a economia crescer sem gerar inflação. "Todas as economias latinas estão crescendo acima de 5% e investindo entre 26% e 28% do PIB. Com a taxa de investimento brasileira, qualquer aumento da demanda gera pressões inflacionárias", afirma.

Júlia Braga, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e colaboradora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), concorda com a avaliação de que a baixa taxa de investimento contribui para repasses maiores aos preços - ao limitar ganhos de produtividade -, mas não vê a desvalorização cambial como principal vetor de aceleração de preços este ano. Apesar de ter chegado aos alimentos derivados de grãos no IPCA, o repasse cambial, diz ela, não alcançou os bens industrializados no varejo, o que reduziu o efeito do câmbio na inflação.

Para Júlia, os problemas climáticos que diminuíram a produção interna de alimentos foram cruciais para desviar ainda mais o IPCA da inflação em outros países, ao lado do choque externo de commodities. Apenas em agosto, o preço do tomate saltou 18,9%, após alta de 50,3% em julho.


 
04/10/2012 
ECONOMIA
MUITO ALÉM DA CONTA

Em 2012 o PIB do país vai crescer um pouco mais de 1% e por isso a arrecadação não está sendo tão boa quanto esperado. Não haveria nada demais em descumprir a meta fiscal. O problema é que o governo descumpriu também no ano em que cresceu 7,5%. Na área fiscal, o que preocupa não é um ano atípico, mas sim o conjunto da obra que mostra um contínuo relaxamento.

 

O governo em anos anteriores usou de vários artifícios e truques para fazer com que os números encontrassem a meta. Desde expurgar gastos, antecipar dividendos, registrar como recebido contabilmente royalties de petróleo ainda não encontrado, e repassar dinheiro para bancos públicos como se fossem empréstimos. A confusão que está sendo feita nas contas públicas é que assusta, e não a informação de que o governo Dilma se prepara para comunicar que não cumprirá a meta de 3,1% de superávit primário este ano.

 

O Brasil vem mantendo a política de superávits primários - poupança para a redução da dívida - desde 1999. É da natureza da política fiscal ser mais expansionista nas crises e mais contracionista nos momentos de crescimento. Por isso, se o governo tivesse tido em 2010 mais temperança poderia agora sem preocupar ninguém desviar-se da meta ligeiramente.

 

Mas o governo tem aumentado os gastos como proporção do PIB todos os anos e isso é insustentável. Ele cumpriu a meta porque o contribuinte pagou mais impostos. Os números que prefere exibir são os que favorecem. Os que atrapalham não são ressaltados. A queda da dívida líquida é enfatizada, o aumento da dívida bruta é deixado de lado.

 

Na dívida líquida, o governo desconta os ativos, como reservas cambiais. Mas a dívida bruta é o conceito usado internacionalmente. Este ano, ela vai subir três pontos percentuais e vai terminar em 57% do PIB, um desempenho inaceitável para um país que não está em crise.

Uma fonte do aumento da dívida bruta são as liberações para o BNDES, Banco do Brasil e Caixa. O governo se endivida e transfere recursos para os bancos públicos com juros menores do que paga. Assim, eles aumentam a oferta de crédito. O que num momento de crise foi usado como mecanismo de emergência virou rotina. Acabou se transformando em orçamento paralelo, numa repetição apavorante de um mecanismo que alimentou a desordem das contas públicas do governo militar: a conta movimento

Só este ano serão R$ 61 bilhões injetados nos três bancos. Em anos anteriores, o Tesouro enviou mais de R$ 300 bi ao BNDES. Tenho dito que esse mecanismo, além de todos os defeitos, é um retrocesso no processo virtuoso que a democracia impôs às contas públicas. Todo o esforço do regime democrático tem sido para dar mais transparência aos gastos. O custo dessas transferências não fica registrado no Orçamento e, portanto, vai no sentido inverso: o de tornar as despesas mais opacas.

 

Com a queda forte das taxas de juros o governo está gastando menos com a rolagem da sua dívida. Era para estar reduzindo a dívida bruta e não aumentando, era para estar derrubando o déficit nominal, no qual fica contabilizado o custo financeiro do Tesouro. Portanto, as contas estariam melhores e o governo teria um motivo a mais - além do baixo crescimento - para reduzir o superávit.

 

O valor de 3,1% de superávit primário não é mágico nem obrigatório. Ele pode ser reduzido em momentos de necessidade. Principalmente se for para ampliar os investimentos dos quais o Brasil precisa e que garantirão crescimento futuro. O problema é o conjunto da obra. Devagar o governo vai demolindo as bases do edifício fiscal do país que custou tanto para pôr em pé.

 

Os pontos-chave

 

1 Devagar o governo vai demolindo as bases do edifício fiscal que o país custou para pôr em pé

 

2 A queda dos juros diminui o custo financeiro do governo. Ainda assim, a dívida bruta vai subir 3%

 

3 Mesmo quando o PIB cresceu 7,5%, em 2010, a meta fiscal só foi cumprida com truques contábeis

 
04/10/2012 
ECONOMIA
TECNOLOGIA REDENÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR

JOÃO GUILHERME SABINO OMETTO

 

Apesar do bem-sucedido processo de inclusão socioeconômica verificado nos últimos anos, o Brasil, segundo dados do próprio governo, ainda tem cerca de 16 milhões de pessoas vivendo na linha da miséria. Parte importante da solução para esse grave problema pode estar no agronegócio, com a extensão aos pequenos produtores rurais do acesso a todos os avanços que a tecnologia agrícolapropiciou ao setor. Em recente reunião do Conselho Superior do Agronegócio da Federação/Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp), o pesquisador Eliseu Alves, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), apresentou interessantes dados que referendam esse potencial.

 

O desenvolvimento tecnológico no campo transformou o País em diversificado e respeitado exportador de alimentos, commodities e numerosos produtos agropecuários. Além disso, esse avanço teve impacto bastante positivo na queda dos preços dos alimentos, contribuindo para o combate à pobreza, e gerou poupança para financiar o desenvolvimento. De 1975 até 2010, as áreas plantadas com milho, soja, arroz, feijão, trigo e algodão cresceram 183% no Brasil. A produtividade aumentou 326%, levando a produção a uma expansão acumulada de 597%. Quanto às áreas de pastagens, diminuíram 4%, de 1975 a 2006, mas a produtividade da pecuária de corte evoluiu 385%. Fica muito claro, portanto, que a tecnologia explica o grande salto do agronegócio brasileiro e o seu destaque internacional.

Todo esse avanço da produtividade e da produção do setor se reflete de modo relevante no barateamento dos alimentos. Nesse aspecto, evidencia-se com clareza parte importante da contribuição social doagronegócio: de 1977 a janeiro de 2007, os preços reais da cesta básica brasileira caíram 62,79%. Agora, o próximo passo é ampliar o espectro dessa conquista, gerando renda para os pequenos proprietários rurais, especialmente aqueles que continuam com dificuldade de acesso ou na utilização das novas tecnologias.

Depois de crescer de 1940 a 1970, quando chegou a 41,6 milhões de habitantes, a população campesina no Brasil caiu para 29,8 milhões em 2010, representando, mesmo com essa diminuição, um contingente muito importante de pessoas. Por isso é preciso modernizar a agricultura familiar, e somente a tecnologia pode melhorar a distribuição da renda e gerar mais bem-estar no meio rural de nosso país.

 

Além disso, o estudo do pesquisador mostra que os produtores de 56% dos 4,4 milhões de estabelecimentos rurais brasileiros não sabem administrar o seu patrimônio, aplicar e monitorar a tecnologia disponível. Dessa maneira, o Brasil precisa mudar este cenário. Para isso, o governo tem de investir nas necessidades específicas das pequenas propriedades, oferecendo aos trabalhadores do campo a devida orientação técnica, pondo à disposição nossa avançada tecnologia, garantindo crédito e viabilizando um seguro agrícola mais completo, competitivo e capaz de oferecer segurança à produção.

Neste contexto, a Embrapa, cuja excelência é mundialmente reconhecida, desempenha um papel primordial, especialmente na geração de pesquisa e inovação tecnológica para aqueles produtos que não são atrativos o suficiente para mobilizar os fortes investimentos das empresas privadas de tecnologia ou de máquinas e implementos agrícolas, por exemplo.

 

A partir daí, entra a responsabilidade dos governos estaduais, por meio dos seus institutos de assistência técnica e extensão rural. A estes organismos cabe a estratégica missão de assegurar que a tecnologia gerada pela pesquisa chegue aos pequenos produtores rurais.

Intensificando essas ações, o País aceleraria o processo já observado de redução da miséria e geração de bem-estar social não só no campo, mas para toda a nossa população brasileira.

 

 

 

 
 recolher LOGÍSTICA
04/10/2012 
LOGÍSTICA
AVANÇA, OS PROJETOS DE LOGÍSTICA DA COPERSUCAR

Por Fabiana Batista | De São Paulo

 

Maior comercializadora de açúcar e etanol do Brasil, a Copersucar deverá concluir até o fim desta safra 2012/13 um quarto de um ambicioso plano de investimentos em logística iniciado em 2011/12. Até abril do ano que vem, o grupo deverá completar aportes da ordem de R$ 500 milhões nessa área, de um total de R$ 2 bilhões previsto até 2015.

 

O maior investimento realizado até agora no período foi no projeto da Logum, empresa criada para construir e operar um sistema de transporte integrado de dutos, hidrovias, rodovias e cabotagem. O projeto, que prevê o escoamento de etanol de regiões de Goiás, São Paulo e Minas Gerais até o litoral de São Paulo e Rio de Janeiro, prevê aportes de R$ 6 bilhões até 2020.

 

Com 20% de participação na Logum, a Copersucar aportou até agora R$ 230 milhões na empreitada e ainda tem a investir até o fim do projeto um valor adicional de R$ 970 milhões. Os outros sócios na Logum são Camargo Corrêa (10%), Raízen (20%), Odebrecht TransPort (20%), Petrobras (20%) e Uniduto Logística (10%).

 

Além da aposta na Logum, a Copersucar também está investindo em projetos complementares de logística de etanol. A trading iniciou este ano a aplicação de R$ 150 milhões para implantar um terminal em Paulínia (SP) com capacidade total para armazenar 2 bilhões de litros de etanol. Na primeira fase, que será inaugurada em 2014, a capacidade instalada de movimentação anual será de 180 milhões de litros. Integrado ao projeto da Logum, o terminal atenderá também a embarques do biocombustível ao exterior.

Na área de açúcar, a comercializadora, que deve faturar US$ 7,5 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões) no atual ciclo, inaugurou três terminais desde meados de 2011, com investimentos de R$ 50 milhões. Em março deste ano começou a funcionar a ampliação do terminal de Ribeirão Preto (SP), que tem recepção de cargas por via rodoviária e expedição por ferrovia. A estrutura de armazéns anexa à via férrea foi adquirida em meados de 2010, por R$ 10 milhões (da extinta trading Crystalsev, controlada pela Santelisa Vale, cujo controle foi comprado pela Louis Dreyfus).

 

Atendido pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), o terminal, que tinha capacidade de movimentação de 150 mil toneladas de açúcar por ano, foi expandido para suportar 1,5 milhão de toneladas da commodity.

Os outros dois terminais inaugurados no período foram o de São José do Rio Preto (SP), também multimodal (rodovia e ferrovia), e o de contêineres do Guarujá (SP), com capacidade de estufagem de 20 mil contêineres anuais. Todos os investimentos estão sendo feitos para dar suporte à produção de açúcar e etanol de sócios e de terceiros. Nesta safra em curso, a 2012/13, a trading deve movimentar 8,7 milhões de toneladas de açúcar - ante as 7,6 milhões da temporada 2011/12 - e 4,8 bilhões de litros de etanol.

 

Outro importante player de logística, a Rumo Logística, controlada pela Cosan, planeja investir R$ 1,4 bilhão entre 2010 e 2015 no transporte de açúcar e grãos. Desse total, R$ 500 milhões foram aportados no período para compra de 50 locomotivas e 929 vagões. Os aportes na construção e ampliação de terminais no interior e no porto de Santos, que somarão R$ 360 milhões, estão em curso, assim como os R$ 600 milhões para a reativação de trechos ferroviários que estavam fora de operação.

 

 

 

 
04/10/2012 
LOGÍSTICA
DILMA QUER AMPLIAR EFICIÊNCIA NA EXPORTAÇÃO DE BENS

Por Fernando Exman | De Brasília

 

A obstinação da presidente Dilma Rousseff em elevar a competitividade do Brasil tem orientado as discussões no governo para a elaboração do conjunto de medidas voltadas aos portos do país. Um dos objetivos do Executivo é impulsionar o comércio exterior, assegurando que as exportações brasileiras sejam embarcadas rumo ao mercado internacional com a maior eficiência possível. O pacote, encomendado por Dilma a seus auxiliares para este mês, não deve apenas criar as condições para destravar os investimentos no setor.

De acordo com a chefe da Casa Civil da Presidência da República, ministra Gleisi Hoffmann, o conjunto de medidas deve conter soluções específicas para melhorar a capacidade e a operação de cada porto a fim de facilitar o escoamento da produção nacional. "A carga não tem que ficar passeando. Ela tem que ir para onde ela tem que ir, aonde for mais propício", disse a ministra.

O governo realiza uma radiografia detalhada do setor portuário brasileiro e suas conexões com outros modais logísticos. Além de classificar as movimentações efetuadas e calcular as projeções da capacidade de cada porto e a demanda para a movimentação de cargas a longo prazo, estudos do governo federal têm mensurado os custos logísticos e projetado as possibilidades de ampliação dos empreendimentos. Outras questões avaliadas são as tarifas cobradas e a eficiência de cada porto.

 

A partir dessa avaliação, o governo busca elaborar o melhor arcabouço institucional para cada empreendimento. São as respostas a essas perguntas que direcionam as discussões do governo sobre a renovação de concessões, realização de novas licitações ou autorizações para a operação de terminais privados. Um fator observado pelo governo serão os investimentos no setor. Segundo a ministra da Casa Civil, antes da liberação para a construção de terminais privados o governo avaliará se o operador oferecerá tarifas módicas e uma maior eficiência

 

O Executivo também faz projeções sobre como os portos do país serão demandados para escoar a produção nacional. De acordo com Gleisi, por exemplo, o porto de Paranaguá deve continuar a exportar parte dos grãos produzidos no Centro-Oeste. O porto de Santos, acrescentou, deve ter a capacidade de embarcar de tudo devido ao polo industrial existente na região. Já os terminais do Nordeste e do Norte, além de grãos e minérios, devem ter a capacidade para movimentar petróleo e produtos petroquímicos.

Atualmente, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, seis portos são responsáveis por quase 64% das exportações brasileiras. Entre janeiro e agosto de 2012, os portos que mais exportaram foram os de Santos, Vitória, Sepetiba (RJ), Paranaguá (PR), Rio Grande (RS) e São Luís. As mercadorias embarcadas em Santos para o exterior, por exemplo, somaram US$ 41,7 bilhões no período. Em seguida, aparecem Vitória (US$ 16 bilhões), Sepetiba (US$ 15,9 bilhões), Paranaguá (US$ 11,8 bilhões), Rio Grande (US$ 8,7 bilhões) e São Luís (US$ 8,4 bilhões).

 

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, o porto de Santos serve de base para exportações de commodities e também produtos industrializados. Por meio do porto de Vitória, o Brasil exporta principalmente minério de ferro, pasta química de madeira e soja, entre outros bens,

 

Enquanto o porto de Sepetiba embarca principalmente óleo bruto de petróleo, minério de ferro e produtos semimanufaturados de ferro e aço, as exportações realizadas pelo porto de Paranaguá concentram-se em soja, aves, açúcar, óleo de soja e automóveis. Já os embarques de São Luís são principalmente de minério de ferro, soja, ferro fundido e minério de cobre.

 

 

 

 
 recolher MEIO AMBIENTE
04/10/2012 
MEIO AMBIENTE
PROGRESSO AMPLIA CONFLITOS E PIORA A QUALIDADE DE VIDA

ANNA BEATRIZ LISBÔA

 

Nos últimos dois anos, o país viu crescer em 15% o número de conflitos ambientais decorrentes de ocupações territoriais e da expansão de atividades econômicas poluentes e pouco sustentáveis. O Mapa da Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil, da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a ONG Fase, aponta 343 casos onde houve piora significativa da qualidade de vida das populações locais decorrente de atividades industriais, agropecuárias, mineradoras e de obras de infraestrutura, entre outras.

 

Ausente das listagens feitas até agora, o Distrito Federal será incluído ainda este ano no mapa, com o problema do Lixão da Estrutural. O conflito com os índios que ocupam uma a área do Setor Noroeste também deve integrar levantamentos futuros.

 

O estudo destaca que a queda da qualidade de vida das comunidades é a principal consequência dos conflitos ambientais, e se reflete no aumento da incidência de doenças crônicas — como câncer e enfermidades respiratórias —, da insegurança alimentar e da violência. São Paulo registra o maior número de disputas ambientais, com 34 casos, seguido de Minas Gerais, com 27 registros, e do Rio de Janeiro, com 21.

 

Pó de grafite

 

Moradora há 55 anos do bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, a dona de casa Maria Sueli Barreto, 62 anos, sofre de rinite alérgica, contraída após a instalação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), da ThyssenKrupp, no bairro.

 

De acordo com especialistas, o contato direto com pó de ferro e grafite emitido pela fábrica, inaugurada há dois anos, pode desencadear as reações. “Nossa área era uma das melhores da cidade. Hoje, não posso mais ficar na varanda por causa do pó de ferro. Quando saio para cuidar das plantas, me sinto mal, os olhos lacrimejam”, disse ela.

 

A CSA recebeu multas dos órgãos ambientais que somam R$ 3,6 milhões por causa da emissão de fuligem e foi obrigada a investir R$ 14 milhões em saúde e infraestrutura na região.

 

A bióloga da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Mônica Lima, que acompanha o caso, garante que a poeira liberada pelo ferro, em contato com o ar, pode causar aumento na pressão sanguínea, problemas cardíacos e pulmonares, alergias, asma, conjuntivites e rinites. “Atualmente, estudos de impacto ambiental têm sido feitos de maneira muito rápida, sem levar em conta os impactos na saúde da população”, critica.

 

Em nota enviada ao Correio, a Thyssenkrupp esclarece que, nos últimos 21 meses, não ocorreram emissões de grafite na atmosfera e que está investindo em medidas para diminuir o risco de acidentes. “A empresa implantou um novo sistema de despoeiramento, inédito no mundo, no qual investiu R$ 33 milhões”, destaca a nota. Segundo a empresa, o sistema é “capaz de conter esse material e impedir que o mesmo chegue à casa dos moradores vizinhos”.

Meio século de problemas

 

Logo após a inauguração de Brasília, o lixo da capital começou a ser depositado na área entre o Plano Piloto e Taguatinga. Na mesma época, surgiram os primeiros invasores. No início dos anos 1990, a invasão já somava cerca de cem barracos, que deram origem à Vila Estrutural. Em 2004, o Estudo de Impacto Ambiental para a área recomendou a elaboração de projeto de reurbanização e adoção de medidas de controle ambiental, como a desativação do aterro sanitário. Atualmente, mais de 2 mil pessoas da Vila Estrutural têm como única fonte de renda o material retirado do lixão.

Minorias atingidas

 

O coordenador do projeto e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, Marcelo Firpo, diz que o Brasil vive um processo de intensificação dos conflitos ambientais, que têm impacto, principalmente, nas populações indígenas, de agricultores familiares e de quilombolas (veja quadro). “O modelo atual de desenvolvimento, da monocultura e de atividades industriais pesadas aumentam os conflitos por terra. Essas atividades geram impactos pela poluição e uso de recursos naturais, não devidamente negociados com as populações, que sofrem mudanças significativas no modo de vida”, explica.

 

A pesquisa mostra que, no Centro-Oeste, por exemplo, os conflitos estão, na maioria dos casos, relacionados ao agronegócio e ao uso de defensivos agrícolas e fertilizantes tóxicos, que contaminam os lençóis freáticos e podem, até mesmo, estar presentes na água da chuva. “Há uma série de indícios de que o aumento na incidência de câncer esteja associado ao uso de agrotóxicos”, alerta Firpo.

Áreas contaminadas

 

Nos centros urbanos, os problemas estão relacionados, principalmente, à ocupação de áreas poluídas, próximas de fábricas e aterros sanitários. O chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Fernando Carneiro, coordenou a pesquisa que resultará na inclusão do Lixão da Estrutural no mapa. O depósito de lixo, que existe desde os anos 1960, deu origem à invasão que, hoje, está urbanizada e conta com 35 mil habitantes.

De acordo com o professor, o lixão atrai catadores que vivem em situação de extrema pobreza. Também ameaça a represa Santa Maria, no Parque Nacional de Brasília, que é responsável pelo abastecimento de 30% da água potável do DF. “Há milhares de pessoas trabalhando de forma precária, que se alimentam no lixo e moram em barracas de madeirite e chão de terra batida”.

A desativação do lixão é uma medidas acertadas pelo Governo do Distrito Federal com o Ministério Público para minimizar o problema da poluição, melhorar o tratamento de resíduos no DF — com a implantação da coleta seletiva — e promover o desenvolvimento social e econômico dos catadores de lixo.

 

O Comitê de Resíduos Sólidos do Distrito Federal prevê o lançamento, até o fim do ano, do edital de licitação das obras de pavimentação e drenagem da área onde será construído o Aterro Oeste, em Samambaia, que vai receber os resíduos do Df com a desativação do Lixão da Estrutural.

 

Mas Fernando Carneiro ressalta que não basta acabar com o lixão. “São 50 anos sem políticas públicas que garantam o trabalho digno e a emancipação econômica dessas pessoas”. O conflito envolvendo as etnias indígenas que ocupam uma área no novo Setor Noroeste também deve ser incluído no mapa.

 

 


 
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04/10/2012 
POLÍTICA
A TURMA DO ZÉ

A turma do Zé

 

O julgamento do mensalão começa a rachar o Campo Majoritário do PT em dois grupos: o que considera importante e necessário a presidente Dilma Rousseff sair logo em defesa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu antes do voto dos outros magistrados do STF e aquele que acha mais acertado a presidente manter uma distância segura do julgamento. Essas duas facções vão, sem sombra de dúvida, se digladiar dentro do maior grupamento petista tão logo terminem as eleições municipais.

 

Até agora, ninguém ouviu uma avaliação pública de Dilma sobre o julgamento. E, se depender daqueles que a rodeiam, ela não falará tão cedo sobre esse tema. Afinal, Dilma é presidente da República e “meter o bico” (para usar uma expressão que está na moda) no julgamento feito em outro Poder não é aconselhável. Dentro do núcleo petista mais próximo de Dilma, formado basicamente por seus ministros, há a certeza de que ela ajuda mais o partido trabalhando nos projetos governamentais do que tratando do mensalão. Ontem, por exemplo, o balanço do Brasil Carinhoso feito no Planalto dividia espaço de capa dos principais dos sites de notícias, nos quais o destaque no fim da tarde era o voto do relator Joaquim Barbosa pela condenação de Dirceu, do ex-presidente do PT José Genoino e do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares.

 

O grupo de Dirceu considera esse comportamento de Dilma equivocado. Em conversas reservadas, “a turma do Zé”, apelido dos petistas ligados ao ex-ministro, afirma ser ingenuidade política a presidente achar que sobreviverá ao tsunami que se abate sobre o PT a partir do julgamento do mensalão neste momento de eleições municipais. E que ela erra ao se deixar embalar pelos altos índices de popularidade.

Esses amigos do Zé construíram inclusive uma ópera em três atos tentando prever o futuro. O primeiro ato começou ontem e, calculam esses petistas, se encerrará com a condenação de Dirceu pelo colegiado do Supremo Tribunal Federal. O segundo ato será um movimento para atingir Lula. Não por acaso, volta e meia alguém diz, “se tudo isso aconteceu, como é que Lula não sabia de nada?”. Cumprida essa etapa, a luz do terceiro ato recai forte sobre a presidente Dilma Rousseff. Sem muito jogo de cintura para lidar com aliados e garantir uma maioria no Congresso, ela entrará 2013 duramente atacada no principal atributo que o presidente Lula apresentou ao eleitor para trabalhar a candidatura dela em 2008: a capacidade gerencial. E, assim, Dilma perderá musculatura.

O grupo dos amigos de José Dirceu avalia que não será difícil a oposição — tão logo termine o julgamento do mensalão e as eleições municipais — começar a bater pesado nas paralisações dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um conjunto de obras de infraestrutura que a privatização — das rodovias, por exemplo — já deixou menor do que o lançado originalmente. Dentro dessa perspectiva de ataques diários à gestão por parte dos oposicionistas e com os aliados migrando para outros projetos, a turma do Zé acredita que o fim desse enredo será uma queda na popularidade presidencial e uma vitória da oposição.

 

A turma de Dilma, entretanto, considera essa visão pessimista fruto da imaginação daqueles que hoje vivem uma tragédia e tentam transportar as agruras para todo o PT e o governo. Como já bem deixou claro o deputado André Vargas (PT-PR) dia desses a esta coluna, “as pessoas em julgamento têm CPF, e não CNPJ”. E Dilma vem trabalhando os fundamentos da economia nacional de forma prudente, logo, não é seguro que sua popularidade vá desabar.

Apostas à parte, é dentro desse clima de guerra interna entre facções mais afeitas ao estilo Dilma e outra a José Dirceu é que se darão as próximas reuniões petistas, em especial a de 10 de outubro, quando o partido fará uma avaliação dos resultados eleitorais e da Ação Penal 470. Não por acaso, há quem defenda a candidatura de Lula a presidente pelo Partido dos Trabalhadores em 2014, se a saúde do ex-presidente permitir. É que Lula é hoje o único ser petista que paira absoluto sobre todos os grupos. Dilma conquistou mais simpatias para seu governo perante o eleitor, mas, dentro do PT, esse pódio ainda é de Lula.

 

Enquanto isso, na Avenida Paulista…

Há tempos São Paulo não vive uma disputa municipal tão acirrada, na qual ninguém é capaz de dizer ao certo quem irá para o embate final. Celso Russomanno, José Serra, Fernando Haddad e até Gabriel Chalita, do PMDB, que pega uma onda tardia de conquista de votos, passam por um teste de nervos. O tempo de hoje até 7 de outubro parecerá uma eternidade para esses quatro cavaleiros. Que vença o melhor.

 

 

 

 
04/10/2012 
POLÍTICA
CHANCE PEQUENA DE ÊXITO NA OEA

Um dia depois de o deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) anunciar que vai recorrer a cortes internacionais contra sua condenação no julgamento do mensalão, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e juristas afirmaram ontem que o réu não terá êxito nessa tentativa. Dois ministros ouvidos pelo Correio observam que o réu tem o direito de apelar à Organização dos Estados Americanos (OEA), mas avaliam que o órgão não teria motivo para reverter a decisão do STF, uma vez que os direitos de defesa dos acusados foram respeitados.

 

Em entrevista concedida na terça-feira, o parlamentar condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha afirmou que recorrerá à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA devido a “atropelos” do processo no STF.

 

Para o ministro Marco Aurélio Mello, não houve nenhum atropelo. Segundo ele, todas as normas foram observadas no que se refere ao direito à ampla defesa e ao contraditório dos réus. O ministro acrescentou que a decisão da Suprema Corte brasileira sempre prevalecerá, mesmo se a decisão da OEA fosse contrária, uma vez que o Brasil é um país soberano.

 

“A possibilidade de recorrer é latente, mas evidentemente passará pelos filtros da OEA, por uma triagem. E é preciso lembrar que o Supremo atua a partir de um predicado da República que é a soberania. A decisão de uma corte internacional não implica a possibilidade de cassação de um pronunciamento soberano”, destacou Marco Aurélio, antes de ironizar a atitude de Valdemar. “Vai levar o que para a OEA? Que foi condenado? Isso não encontrará ressonância. Depois que o Supremo bate o martelo, tudo mais está circunscrito ao direito de espernear”, completou o ministro.

 

Outro integrante do STF, que pediu para não ser identificado, ponderou que jamais a OEA consideraria que o STF estaria violando garantias dos réus, pois o processo está sendo conduzido em conformidade com a Constituição e as leis brasileiras. Alguns defensores de réus avaliam que seria um desgaste para os acusados a adoção de qualquer atitude que confrontasse a decisão do Supremo.

México
Nos bastidores, advogados de réus do mensalão comentam com pessimismo a possibilidade de um recurso na OEA. Segundo o defensor de um dos acusados, um caso ocorrido no México é um precedente desalentador. O governo do país contratou um advogado para defender cidadãos mexicanos condenados nos Estados Unidos. A OEA entendeu que eles não tiveram direito de defesa, porque sequer falavam inglês e não tinham defensor que os representassem dignamente. Os EUA, no entanto, ignoraram a manifestação da OEA.

 

Na avaliação do especialista em direito constitucional Erick Wilson Pereira, o efeito de um possível recurso seria inócuo, uma vez que os direitos e garantias observados a qualquer cidadão brasileiro foram respeitados pelo Supremo. “A plausibilidade desse recurso é praticamente zero, porque fizemos um processo válido, com o devido processo legal observado e diante de um tribunal constitucional de um país soberano”, afirmou Pereira.

 

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirma que não há espaço para a atuação de qualquer corte internacional. “É algo que não tem mais a mínima viabilidade, porque isso só seria cabível se estivéssemos presenciando um julgamento em que desatendidas as garantias asseguradas pela Constituição e asseguradas internacionalmente a qualquer réu”, opinou Gurgel.

 

"Vai levar o que para A OEA? Que foi condenado? Isso não encontrará ressonância. Depois que o Supremo bate o martelo, tudo mais está circunscrito ao direito de espernear" Marco Aurélio Mello, ministro do STF

 
04/10/2012 
POLÍTICA
DIRCEU, O MANDANTE

HELENA MADER DIEGO ABREU ANA MARIA CAMPOS

 

O julgamento do homem que já foi apontado como o segundo mais poderoso da República começou com um voto pela condenação por corrupção ativa. O relator, Joaquim Barbosa, considerou o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu o mandante do esquema de desvio de recursos públicos e pagamento à base aliada do governo Lula.

Joaquim Barbosa ocupou quase todo o tempo ontem em seu voto para descrever minuciosamente a atuação de Dirceu na organização criminosa. Para o relator, o ex-ministro mantinha uma relação direta com o empresário Marcos Valério, operador do mensalão, e agia para direcionar os votos e apoios dos partidos aliados em benefício do governo liderado pelo PT. “Marcos Valério era o broker (corretor) de José Dirceu”, disse o relator.

 

Barbosa condenou também o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, além de Marcos Valério, três ex-sócios e a ex-diretora financeira da SMP&B Simone Vasconcelos. Absolveu o ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto e a ex-gerente financeira da agência Geiza Dias.

 

O aguardado julgamento dos petistas no processo do mensalão começou com divergências sobre a atuação dos réus no esquema de pagamento de propina a políticos. O revisor, Ricardo Lewandowski, surpreendeu o plenário ao anunciar, depois das 19h, que queria começar a leitura de seu voto ainda na sessão de ontem. Em pouco mais de uma hora, ele condenou Delúbio, mas absolveu Genoino, de quem fez uma arraigada defesa. O voto de Lewandowksi sobre Dirceu, entretanto, ficou para hoje.

Depois de ficar vazio durante algumas semanas, o plenário do Supremo estava movimentado ontem. Era grande a expectativa dos advogados para o início do julgamento dos acusados do crime de corrupção ativa.

 

Joaquim Barbosa acolheu na íntegra as acusações contra Dirceu. Descreveu a atuação do ex-ministro como chefe da quadrilha do mensalão, conforme aponta a denúncia. O relator refutou uma a uma as alegações da defesa de que ele teria se afastado das atividades partidárias depois de assumir a Casa Civil. “O responsável pela articulação da base aliada era o réu José Dirceu. Com ele se reuniam cotidianamente os líderes parlamentares que receberam dinheiro em espécie. O papel de Dirceu na condução dos rumos das votações da base é mais que conhecido”, afirmou o relator.

O ministro acrescentou que Dirceu se reunia com os cabeças do esquema e tinha relação próxima com Marcos Valério, apesar das negativas do ex-ministro. Joaquim observou que a própria mulher de Valério, Renilda Santiago, relatou que Dirceu se reuniu com dirigentes das instituições financeiras que emprestaram ao PT os recursos usados para alimentar o mensalão. “No meu sentir está comprovado que José Dirceu controlava os destinos da empreitada criminosa, especialmente mediante seus braços executores mais diretos, isto é, Marcos Valério e Delúbio Soares”, disse Barbosa.

 

Acelerado

Com um tom de voz mais alto, muito diferente do usado em votos anteriores, Lewandowski não levou mais que 10 minutos para condenar o empresário Marcos Valério, dois ex-sócios e a ex-diretora financeira da SMP&B Simone Vasconcelos. Também absolveu Geiza Dias e Rogério Tolentino, sob a alegação de falta de provas.

Também de forma resumida, o ministro revisor condenou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, a quem chamou de “onipresente” no escândalo do mensalão. “Ele agia com plena desenvoltura ao lado de Marcos Valério. Ao longo dessas 30 sessões, este nome Delúbio Soares sempre foi uma constante”, afirmou Lewandowski.

O voto do revisor começou a se estender quando ele se pronunciou sobre as condutas apontadas contra o ex-presidente do PT José Genoino. O ministro foi enfático ao rejeitar qualquer participação do petista no esquema de compra de apoio parlamentar ao governo Lula, citando que a Procuradoria Geral da República não apontou, em momento algum, conduta individualizada em relação a Genoino. “Não se pode condenar alguém pelo simples fato de ocupar um cargo. Mesmo depois de encerrada a instrução criminal, o Ministério Público não conseguiu apontar nem de longe os ilícitos que teriam sido praticados por José Genoino”, destacou Lewandowski. “

Ao fim da sessão de ontem, o advogado de José Dirceu, José Luiz de Oliveira Lima, afirmou que irá entregar um memorial até amanhã aos ministros do STF, contestando alguns pontos do voto de Barbosa. Ele preferiu não criticar o relator, mas voltou a alegar que não há provas contra o petista. “Quero ratificar mais uma vez que tenho confiança na absolvição do meu cliente, uma vez que as provas produzidas na Ação Penal 470 demonstram a total improcedência das acusações do Ministério Público”, disse o defensor.

 

Principais pontos

Confira trechos dos votos proferidos ontem pelo relator, Joaquim Barbosa, e pelo revisor, Ricardo Lewandowski.

 

Joaquim Barbosa, o relator

 

Condenou por corrupção ativa José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério, Cristiano Paz, Ramon Hollerbach, Rogério Tolentino e Simone Vasconcelos. Absolveu Anderson Adauto e Geiza Dias.

Delúbio confessou ter determinado a Marcos Valério o repasse de R$ 8 milhões para o PP; R$ 4 milhões para o PTB; R$ 2 milhões para o PMDB; e entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões para o PL. Apontou Dirceu como o coordenador político da base aliada que se reunia cotidianamente com os líderes parlamentares dos partidos que receberam dinheiro. Tinha papel importante na condução dos rumos das votações da base. Era o mentor. Em depoimento, a mulher de Marcos Valério, Renilda Santiago, afirmou que o empresário se reuniu com José Dirceu no hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte, para tratar dos financiamento e dos empréstimos. O petista teve também “duas reuniões capitais” com a direção das duas instituições financeiras que forneceram empréstimos, o BMG e o Banco Rural.

 

Marcos Valério falava em nome de Dirceu quando participava de reuniões em Portugal. Era um “broker”, ou seja, o corretor do então chefe da Casa Civil. Não há provas suficientes de envolvimento de Anderson Adauto, ex-ministro dos Transportes, acusado de intermediar repasses para o PTB. Como o STF já a absolveu de outras imputações, como lavagem de dinheiro, não há como condená-la por corrupção ativa.

Ricardo Lewandowski, o revisor

 

Condenou por corrupção ativa Delúbio Soares, Marcos Valério, Cristiano Paz, Ramon Hollerbach e Simone Vasconcelos. Absolveu José Genoino, Anderson Adauto e Geiza Dias. Falta julgar José Dirceu.

Marcos Valério e seus sócios operacionalizaram o repasse de recursos para os partidos da base aliada do governo. Não ficou provado o dolo e nem a conduta criminosa do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto. E, assim, o absolveu por falta de provas.

Delúbio Soares era uma “figura onipresente”. “Agia com plena desenvoltura” e sempre associado a Marcos Valério. Ao longo de 30 sessões do julgamento o nome Delúbio Soares “foi uma constante”.

A denúncia não aponta nenhuma conduta individualizada em relação ao ex-presidente do PT José Genoino. Não se pode condenar alguém pelo simples fato de essa pessoa ocupar um cargo. Genoino agia apenas na articulação dos caminhos políticos do PT. É um político que não fez fortuna. Tem apenas um apartamento de classe média, sustenta os pais no Ceará e vive do salário.

 

 

 

 


 
04/10/2012 
POLÍTICA
PROTESTO

Trabalhadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) farão um ato público hoje, em Brasília, para exigir mudanças na conduta da direção da estatal e investigar denúncias de irregularidades. Será nesta manhã, na sede da empresa.

 

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