Notícias dos Principais Jornais Brasileiros (15 de outubro de 2012)

15/10/2012 17:31

 

AGRONEGÓCIO
BRASIL ULTRAPASSARÁ ESTADOS UNIDOS E SERÁ MAIOR PRODUTOR DE SOJA NA SAFRA 2012/2013

O Brasil deve superar a produção de soja dos EUA e ocupar a primeira posição de produtor e exportador do grão na safra de2012/2013. A estimativa do Departamento de Agricultura dos EUA é que a produção do país seja de 81 milhões de toneladas ante 77,8 milhões de toneladas norte-americanas. A exportação brasileira deverá atingir 39,1 milhões de toneladas. A americana, 34,4 milhões de toneladas.

 
15/10/2012 
AGRONEGÓCIO
COTAÇÃO DE GRÃOS EM RITMO DE ACOMODAÇÃO

Um relatório sem grandes surpresas, mas ainda assim emblemático. É assim que a nova compilação sobre oferta e demanda mundial de grãos divulgada na quinta-feira pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) foi recebido pelo mercado.

Os dados apontaram com mais clareza os efeitos da seca sobre a produção americana e forneceram munição para delinear a tendência de preços para o último trimestre - que, ao que tudo indica, deve ser mais altista para o milho que para a soja e o trigo, mas, em geral, de acomodação. Conforme já era esperado, houve a confirmação de que as lavouras de soja dos EUA não sofreram tanto com a estiagem quanto se imaginava. O USDA elevou em 7,9% sua estimativa para a safra 2012/13 do país ante o relatório de setembro, para 77,84 milhões de toneladas, mas compensou com um esmagamento 35% maior e uma alta de 19% nas exportações. Mesmo assim, o Brasil segue firme na liderança dos embarques mundiais da oleaginosa, com 38,9% das vendas totais, segundo o órgão.

A reação imediata dos preços na bolsa de Chicago foi positiva. Na quinta-feira, os contratos futuros de segunda posição de entrega de soja (normalmente os de maior liquidez) fecharam em alta de 1,62%. Na sexta-feira, porém, houve uma reversão motivada pela realização de lucros dos investidores e os contratos terminaram o dia em baixa de 1,71%, a US$ 15,22 por bushel.

 

"O avanço da demanda na mesma proporção que a oferta não deveria ser novidade, dada a necessidade de racionamento da commodity, mas creio que os traders temiam uma safra maior", diz Vinícius Ito, analista do Jefferies Bache, em Nova York.

O fato é que o cenário não se mostra mais tão "altista" para a soja. Os estoques finais globais em 2012/13, por exemplo, representam agora 22,2% da demanda total, ante 20,7% em setembro. "Acredito que os US$ 18 por bushel não serão mais atingidos em 2012. Talvez possa passar de US$ 16,50 com algum problema climático no Brasil", prevê Ito.

Giovani Damiano, consultor da FCStone, também acredita em uma desaceleração e calcula que os contratos para janeiro ficarão entre US$ 14,90 e US$ 15,70. No caso do milho, a sinalização de uma produção americana ainda mais combalida - por conta da seca, previu-se um recuo de mais 0,2%, para 271,94 milhões de toneladas - e um novo enxugamento dos estoques devem sustentar as cotações.

"O grão pode oscilar entre US$ 7,30 e US$ 7,50 por bushel no curto prazo, mas o objetivo é US$ 8", afirma Ito. Na sexta-feira, o milho fechou com queda de 2,65% em Chicago, a US$ 7,5275 por bushel, que se seguiu aos expressivos ganhos de 4,81% do dia anterior.

Os números revelados pelo órgão americano indicaram, ainda, que o Brasil está se consolidando como um exportador regular de milho. Atualmente, o país é o terceiro maior vendedor do grão, com 19 milhões de toneladas embarcadas no ciclo 2011/12 e 16 milhões em 2012/13, embora as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sejam mais magras para 17,7 milhões e 15 milhões, respectivamente

 

Abalada por problemas climáticos na Austrália, na Rússia e na União Europeia, a safra global 2012/13 de trigo foi levemente reduzida em 0,86%, para 653,05 milhões de toneladas, mas o USDA projetou uma queda nos estoques mundiais de 2,09%, menor que a prevista por analistas.

Ainda assim, as cotações do cereal subiram 1,81% em Chicago na quinta-feira, porém, como os demais grãos, mudaram de lado na sexta-feira e caíram 3,09%, a US$ 8,6925 por bushel. E no último trimestre, o trigo deve ceder um pouco. "Acredito em algo entre US$ 7,65 e US$ 8,55 por bushel", diz Daniel D'Ávila, analista da Newedge.

 
15/10/2012 
AGRONEGÓCIO
CURTAS

Política agrícola - Embrapa extingue braço internacional

 

 



O novo presidente da Embrapa, Mauricio Antônio Lopes, não informou as razões para a extinção do braço internacional da estatal. Segundo ele, os motivos serão apontados depois do processo de sindicância.

Estratégia - Bunge Fertilizantes aumenta capital

 

A Bunge Fertilizantes anunciou que elevou o capital social da empresa em R$ 213,894 milhões. Por meio do aumento, o capital social da companhia passou de R$ 2,314 bilhões para R$ 2,528 bilhões.

Clima - RS se prepara para colher menos trigo

 

As chuvas e as quedas de granizo prejudicaram as lavouras gaúchas de trigo. A safra chegará a 2,3 milhões de toneladas, 260 mil toneladas a menos que as projeções iniciais, de acordo com a Emater.

 

 
15/10/2012 
AGRONEGÓCIO
EMBARQUES DE CAFÉ SEGUEM LENTOS E VÃO RECUAR ESTE ANO

Lentos nos últimos meses em virtude de adversidades climáticas em regiões produtoras e da "queda de braço" entre importadores com os cintos apertados e exportadores capitalizados e sem pressa para vender, os embarques brasileiros de café caminham para fechar 2012 com uma queda de até 15% em volume.

 

Especialistas lembram que é de se esperar que os importadores do Hemisfério Norte acelerem um pouco as compras nos próximos meses, já que a demanda aumenta na medida em que as temperaturas caem, mas que esse maior apetite será suficiente apenas para reduzir as variações negativas em relação ao ano passado.

 

Um aumento sazonal mais substancial da demanda externa encontra resistência no cambaleante cenário econômico-financeiro mundial, atenta Gil Barabach, analista da Safras & Mercado. Com a crise, afirma, muitos compradores estão adquirindo café "da mão para a boca", conforme suas necessidades mais urgentes. Além disso, enfrentam mais dificuldades para obter crédito, o que acaba por segurar as encomendas.

 

Em meio às turbulências, o volume exportado pelo país somou 19,6 milhões de sacas de 60 quilos de janeiro a setembro, 19,3% menos que em igual intervalo de 2011. Com a queda das cotações internacionais entre os dois períodos, a receita das vendas caiu ainda mais: 26,1%, para US$ 4,5 bilhões, conforme o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Para a entidade, o volume anual deverá ser de 10% a 15% inferior ao de 2011 (33,5 milhões).

 

A retração chama mais a atenção pelo fato de a safra que começou a ser colhida no fim do primeiro semestre (2012/13) ser o polo positivo da bienalidade que marca a cultura e sempre gera um ciclo mais "gordo" seguido de outro mais "magro".

 

Segundo Michael Timm, diretor-geral da Stockler Comercial e Exportadora, a empresa continua sem fechar contratos de longo prazo e deverá exportar 7,1 milhões de sacas em 2012, 11,25% menos que no ano passado. "Espero que os negócios se recuperem nos próximos meses". Timm ressalta que os torrefadores de países importadores continuam a elevar a compra de café robusta, mais barato que o arábica. Ele acredita que as cerca de 5 milhões de sacas que o Brasil exportará a menos este ano poderão ser "abocanhadas" pelo Vietnã, tradicional fornecedor de robusta.

"Talvez haja essa substituição, mas até quando?", pergunta Barabach. E ele chama a atenção para outro fator importante: como os produtores brasileiros estão retraídos, à espera de melhores preços, o café arábica do país está até mais caro que o de fornecedores concorrentes.

Em relação às cotações praticadas na bolsa de Nova York, o arábica do Brasil está com um desconto de cerca de 10 centavos de dólar por libra-peso. Sem problemas climáticos ou "quedas de braço" entre importadores e exportadores, seria normal que esse desconto fosse maior nesta época de safra colhida. Não bastassem esses fatores, os preços mais elevados no mercado doméstico do que no externo turvam um pouco mais a equação que resulta em queda das exportações, como nota Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Consultoria e Gerenciamento de Risco.

 

Tudo isso levando-se em consideração que os produtores estão, em geral, mais capitalizados após boas temporadas, a ponto de limitarem suas tradicionais vendas antecipadas à espera de melhores cotações. "O produtor pode escolher o momento de vender conforme o preço", afirma Guilherme Braga, diretor-geral do Cecafé.

Segundo a Safras & Mercado, 43% do café desta safra 2012/13 foi vendido até o fim de setembro, ante 56% de igual intervalo de 2011.

Braga observa, ainda, que o ritmo das vendas da safra já colhida também depende da expectativa da futura produção. Neste momento, as atenções estão voltadas para a florada, cujos primeiros indícios apontam uniformidade, o que é um bom sinal para o ciclo 2013/14, mesmo sendo ele um "polo negativo" da bienalidade.

 
15/10/2012 
AGRONEGÓCIO
EMBRAPA DARÁ ÊNFASE ÀS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O novo presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Antônio Lopes, diz que os trabalhos de cooperação da instituição junto a outros países serão intensificados na sua gestão

 
15/10/2012 
AGRONEGÓCIO
EMBRAPA SOB NOVA DIREÇÃO

A presidenta Dilma Rousseff nomeou, na quarta-feira 10, Maurício Antônio Lopes para a presidência da Embrapa. Lopes ocupava o cargo de diretor de pesquisa e desenvolvimento da estatal e substituirá Pedro Arraes, que pediu demissão do cargo no início do mês por estar insatisfeito com as críticas feitas pelo conselho da estatal aos procedimentos da Embrapa Internacional. Arraes também vinha sendo criticado pela perda de espaço da Embrapa no agronegóciopara multinacionais como a Monsanto, Syngenta e Bayer: há cinco anos, sementes da Embrapa correspondiam a 50% da soja nacional. Hoje, a apenas 10%.

 

 

 

 
15/10/2012 
AGRONEGÓCIO
LUCRO GLOBAL DA CARGILL CRESCE 313%

Por Bettina Barros e Fernando Lopes | De São Paulo
Impulsionada por melhores resultados em suas cinco divisões de negócios, a americana Cargill, maior empresa de agronegócios do mundo, registrou lucro líquido consolidado de US$ 975 milhões no primeiro trimestre de seu exercício 2013, encerrado em 31 de agosto. Em igual intervalo do ano-fiscal anterior, o lucro apurado foi de US$ 236 milhões.

 

A Cargill divide seus negócios em cinco segmentos: serviços agrícolas, ingredientes alimentícios, originação e processamento, industrial e financeiro e gerenciamento de risco. Juntos, eles geraram vendas de US$ 33,8 bilhões entre os meses de julho e agosto, ante os US$ 34,6 bilhões do mesmo período do ano passado.

 

O salto de 313% do lucro líquido e a queda de 2,3% das vendas são faces de uma mesma moeda, já que a queda da oferta global de grãos decorrentes de estiagens no Hemisfério Sul na safra 2011/12 e no Hemisfério Norte no ciclo atual 2012/13 levou à escalada das cotações de commodities como milho, soja e trigo, que são originados, processados e comercializados pela companhia, a níveis recordes.

"Agora, mais do que nunca, a Cargill está usando sua expertise e sua compreensão do mercado para ajudar seus clientes a gerenciar os negócios nesses tempos de oferta apertada, preços elevados e volatilidades nos mercados", diz Greg Page, "chairman" e CEO da múlti, em comunicado. Nesse sentido, o executivo lembrou que a Cargill investiu cerca de US$ 8,1 bilhões nos últimos dois anos em produtos e serviços voltados a seus clientes.

 

De acordo com informações da empresa, o impacto da seca nos Estados Unidos - a pior em mais de 50 anos - e na região no Mar Negro, sobretudo na Rússia, ainda terá desdobramentos em seus negócios. E o ponto chave é como a demanda global por alimentos e rações vai se ajustar nos próximos meses se os preços de suas matéria-primas seguirem nos patamares atuais.

 

Nesse contexto, informou a Cargill, os reflexos da estiagem sobre suas atividades continuarão "mistos" nos próximos meses, já que a adversidade mudou o curso normal da distribuição mundial das commodities afetadas e levou os importadores a ampliarem as compras fora dos Estados Unidos. As exportações brasileiras de milho, por exemplo, dispararam com o aperto da oferta no Hemisfério Norte.

 

 

 

 
15/10/2012 
AGRONEGÓCIO
NOVO RECORDE NA EXPORTAÇÃO DE ALGODÃO

As exportações brasileiras de algodão do Brasil deverão bater um novo recorde nesta safra, que vai até abril do ano que vem, prevê a Safras & Mercado. A estimativa da consultoria é que os embarques alcancem 975 mil toneladas, 3,8% acima das 940 mil do ciclo passado. É a segunda safra consecutiva em que a exportação da pluma supera o consumo no mercado doméstico brasileiro, previsto nesta temporada em 900 mil toneladas.

 

O Brasil é atualmente o terceiro maior exportador de algodão do mundo, atrás dos Estados Unidos e da Austrália. Entre maio e setembro deste ano, o país já embarcou 406 mil toneladas da pluma, ante as 290 mil toneladas registradas em igual intervalo de 2011, segundo levantamento da Safras com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC).

 

O que aconteceu neste ano é que o Brasil vendeu antecipadamente um volume elevado da commodity. Assim, o mercado consumidor para o país foi garantido antes desse período de baixa demanda mundial", diz Élcio Bento, analista da consultoria.

 

Por outro lado, a indústria nacional, após passar por uma série crise no ano passado - em parte, por ter feito compras antecipadas de um grande volume de algodão a cotações elevadas - botou o pé no freio e não firmou contratos antecipados e passou a comprar a pluma comedidamente, na expectativa de queda dos preços internos com a entrada da colheita, em julho.

 

No entanto, o início da colheita atrasou e os volumes disponíveis passaram a ser direcionados para atender aos contratos já firmados de exportação. Com isso, do começo de agosto até meados de setembro os preços internos do algodão chegaram a se descolar das reprimidas cotações internacionais, puxados por uma menor disponibilidade interna do produto. "A indústria nacional não estava muito abastecida e, com a colheita atrasada, a prioridade do mercado foi exportar o que já estava previamente acordado", explica.

Em agosto, o indicador Cepea/Esalq para a pluma, que vinha de cotações em torno de R$ 1,55 a libra-peso, começou a subir e atingiu R$ 1,68 a libra-peso em 11 de setembro. "As indústrias entraram comprando, recompuseram parte do estoque e agora voltaram a pôr o pé no freio", pondera Bento. Por isso, agora, os preços no mercado interno voltaram a diminuir. Na quinta-feira, o indicador Cepea/Esalq para a pluma recuou 0,05%, para R$ 1,5413, a libra-peso. No mês de outubro, o saldo é uma desvalorização de 2,38%.

 

 

 
 

 
15/10/2012 
AGRONEGÓCIO
O NOVO ANO A AGRICULTURA

Um novo recorde na safra de grãos e oleaginosas poderá ser obtido em 2012-2013, segundo a primeira estimativa de plantio divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os cálculos iniciais indicam uma produção na faixa de 177,7 milhões a 182,3 milhões de toneladas de algodão, amendoim, arroz, feijão, milho, soja, trigo e umas poucas lavouras menos importantes. O aumento ficará entre 7,2% e 10%. O governo divulgará levantamentos atualizados nos próximos meses. Por enquanto, as perspectivas são de boas condições de abastecimento no próximo ano e de resultados satisfatórios nas exportações do agronegócio. No entanto, quase todo o aumento de área, estimado entre 0,2% e 2,7%, dependerá de uma única lavoura - – a da soja – com variação prevista entre 5,5% e 9,1%. A decisão dos produtores é obviamente uma resposta às condições do mercado internacional. Em outras circunstâncias, essa decisão poderia ser um indício de problemas no mercado interno.

Embora com expansão de área menor que a da soja, ou mesmo com redução, a oferta de produtos essenciais ao consumidor brasileiro deverá ser satisfatória. A produção de soja deve aumentar entre 13,7 milhões e 16,4 milhões de toneladas. Na primeira safra, o acréscimo na colheita de milho fica rá entre 653 mil e 2 milhões de toneladas - – uma boa notícia para os produtores e exportadores de frangos e suínos e para os consumidores internos. O feijão da primeira safra deve resultar entre 45,9 mil e 84,5 mil toneladas mais volumoso que o de um ano antes. A colheita de arroz poderá ser mais ou menos igual à de 2011-2012 – em qualquer caso, sem risco para o abastecimento.

Alguns fatores permitem uma avaliação tranquila do cenário. Uma produtividade maior poderá garantir boas colheitas em áreas menores. De janeiro a agosto as entregas de fertilizantes foram 4,8% maiores que as de igual período de 2011. Projeções da Conabindicam entregas de 30,2 milhões de toneladas até o fim do ano, com acréscimo de 6,7% sobre o volume do ano anterior. A venda de máquinas agrícolas – 44 mil unidades até agosto – foi 0,2% inferior à de um ano antes, mas até dezembro o total projetado – 66 mil – poderá superar o de 2011.

 

Outro fator é a fluidez do comércio. Amplamente integrado no mercado global, oagronegócio tanto aproveita as oportunidades de exportação quanto garante, pela importação, condições adequadas de abastecimento, quando necessário. Fatores incontroláveis, como a seca deste ano nos EUA e o aumento de demanda em grandes mercados, podem forçar aumentos de preços, mas com efeitos geralmente passageiros.

 

O governo tomou uma excelente decisão para os consumidores brasileiros, há mais de duas décadas, quando resolveu deixar de protegê-lo por meio de controles de preços e de intervenções, quase sempre desastradas, no comércio internacional de produtosagrícolas. O aumento da produtividade e o superávit crescente do agronegócio foramacompanhados de condições estáveis de suprimento e de preços melhores para os consumidores nacionais.

O governo manteve, no entanto, esquemas perfeitamente justificáveis de intervenção, por meio das políticas de preços mínimos, de financiamento e de manutenção de estoques públicos. Além disso, as estimativas da Conab indicam aumento dos estoques finais de algodão, feijão, milho, soja e derivados e trigo e uma pequena diminuição do de arroz.

 

O cenário, portanto, é em geral favorável, embora a evolução do mercado internacional possa favorecer a elevação de preços de alguns produtos. Segundo avaliação do Banco Mundial, a combinação de instabilidade e cotações elevadas deve ser a nova condição dos mercados. Se essa avaliação for correta, o governo terá mais um forte motivo para reforçar e aperfeiçoar a política de estoques reguladores. Esse é mais um motivo para se tratar com mais cuidado da política agrícola do governo, área também atingida, como comprovaram os escândalos do ano passado, pelos males do loteamento e do aparelhamento.

 
15/10/2012 
AGRONEGÓCIO
PERDA NO ESTADO COM EMBRAGO RUSSO CHEGA A US$ 454 MILHÕES

Enquanto o silencioso serviço sanitário russo não se pronuncia sobre o fim ou não do embargo à carne suína gaúcha, que completa 16 meses hoje, a indústria do setor no Estado contabiliza os prejuízos. De junho do ano passado, quando começou o bloqueio, a setembro deste ano, o Rio Grande do Sul deixou de faturar US$ 454,3 milhões.

Ocálculo, feito pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) com base em números do Ministério do Desenvolvimento (Mdic), considera a média de negócios do período de 15 meses anterior à paralisação dos embarques para a Rússia. – Antes do embargo, o Rio Grande do Sul vinha exportando US$ 30,4 milhões ao mês. Mantendo a média anterior, chegamos a esse valor – projeta Guilherme Risco, pesquisador em economia do Centro de Informações e Estatísticas da FEE.

Após uma recepção com direito até a tapete vermelho no aeroporto Salgado Filho, os técnicos russos vistoriaram frigoríficos pelo Interior em julho. A expectativa era de fim do embargo em 30 dias, o que não se confirmou.

– Ainda não temos sinal do governo sobre quando deve receber o relatório dos russos – salienta o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips), Rogério Kerber.

Novos mercados não compensaram perdas

 

Mesmo que as exportações para a Rússia sejam liberadas ainda em 2012, Kerber avalia que a recuperação não ocorrerá neste ano porque se aproxima o tradicional período de redução nas compras russas, motivado pelo frio. De janeiro a setembro, o setor de suínos no Estado teve receita de US$ 283,32 milhões ante US$ 378,93 milhões do mesmo período de 2011.

 

Além da Rússia, a Argentina impôs barreira comercial no primeiro semestre, atrapalhando o desempenho do setor. Para compensar, outros compradores, como Ucrânia e Hong Kong, aumentaram a importação de carne suína do Rio Grande do Sul. – Esses mercados, porém, pagam menos do que o russo, o que contribuiu para derrubar o faturamento – observa Kerber. O governo brasileiro ainda aguarda o posicionamento do serviço sanitário russo para fazer uma manifestação oficial sobre o embargo iniciado em 15 de junho de 2011. Zero Hora tentou contato com o serviço sanitário russo por e-mail, mas não obteve retorno. nestor.junior@zerohora.com.br

NESTOR TIPA JÚNIOR

 


 
 recolher BIODIVERSIDADE
15/10/2012 
BIODIVERSIDADE
BIODIVERSIDADE Á ARMA PARA GARANTIR SEGURANÇA ALIMENTAR

Por Daniela Chiaretti | De São Paulo

 

Preservar a biodiversidade pode ser uma garantia à segurança alimentar global, hoje concentrada em um pequeno número de cultivos. "O que se come no mundo são poucos alimentos, basicamente trigo, arroz, mandioca, milho. Isso coloca a humanidade em grande risco", alerta o biólogo Bráulio Ferreira de Souza Dias. "Se ocorrer uma doença em uma dessas culturas será um caos", prossegue. "É preciso conservar a biodiversidade para uso futuro e para criar soluções a possíveis problemas."

 

É disso que trata o encontro internacional que ocorre até sexta-feira em Hyderabad, na Índia. O brasileiro Bráulio Dias, ex-secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, é desde janeiro o secretário-executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU. A CDB, como é conhecida, é o acordo internacional que busca garantir a conservação e o uso sustentável da biodiversidade no mundo.

 

A exemplo de sua versão mais famosa, a Convenção sobre Mudança Climática, os países que assinaram a CDB também se reúnem regularmente para tentar estancar a vertiginosa perda de espécies no mundo. Delegados de 193 nações estão neste mês na Índia para, entre outras coisas, encontrar fontes de recursos que financiem a preservação. Em meio à crise financeira global, a pauta vive um impasse.

A conferência procura dar continuidade às decisões tomadas no encontro anterior, em 2010, no Japão. Ali se acertou o Protocolo de Nagoya e um conjunto de 20 metas para 2020 - as chamadas Metas de Aichi. Uma delas, por exemplo, mira a proteção de pelo menos 17% dos ecossistemas terrestres e de água doce, e 10% dos ecossistemas marinhos e costeiros do planeta. A estimativa é que isso custe US$ 600 bilhões se não existirem políticas que incentivem o uso sustentável dos recursos naturais.

 

O Protocolo de Nagoya dá as regras para o acesso e a repartição de benefícios da utilização de recursos genéticos da biodiversidade. É uma moldura legal básica que garante a quem preservou algum benefício sobre o uso econômico daqueles recursos naturais. Durante anos o debate opôs países ricos, donos das indústrias farmacêuticas e de cosméticos, a países em desenvolvimento donos de grandes florestas, como o Brasil.

 

Para entrar em vigor, Nagoya tem que ser ratificado por 50 nações - somente seis o fizeram até agora. No Brasil, a discussão sequer começou no Congresso, mas já há setores sensíveis ao debate. Um estudo recente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), um think tank do agronegócio, traçou um cenário hipotético onde o Brasil pode ter forte prejuízo se tiver que pagar um percentual pela produção de cana, soja e carnes aos países de origem desses produtos.

 

Dias diz que todos os setores econômicos perdem se a biodiversidade continuar a desaparecer no mundo e lembra que o Protocolo de Nagoya não especifica como será feito o pagamento, apenas reconhece que quem preserva merece ser remunerado. Os países decidirão caso a caso, a remuneração pode ocorrer como uma troca de sementes, de tecnologia, de capacitação e, portanto, qualquer estudo de perdas é uma especulação. A seguir trechos da entrevista:

Valor: O campo pode perder com o Protocolo de Nagoya?

Bráulio Dias: Há um contrassenso aí: quem diz que não quer pagar pela conservação da semente original é o mesmo que está disposto a pagar pelos royalties dos transgênicos? A origem das propriedades genéticas para os novos cultivares é a natureza, as companhias não fabricam genes. Elas apenas identificam o que tem nas espécies e que faz com que resistam, por exemplo, a pragas ou à seca. Isso não é fabricado em laboratório. Em laboratórios corta-se algo de um lugar e coloca-se em outro. Não interessa à agricultura conservar a variedade original e mantê-la para uso futuro? Por que estão dispostos a pagar royalties de coisas que podem fazer melhorias de sementes e não pagar pela fonte original? Há uma inconsistência nesse tipo de posicionamento.

 

Valor: Representantes do setor agrícola dizem que o campo não se beneficia da negociação que ocorreu. É verdade? Dias: O setoragrícola tem que entender que a negociação envolveu todos os países-membros da Convenção da Biodiversidade, ou seja, 192 nações mais a União Europeia, um debate que durou seis anos e foi aprovado por unanimidade. É uma ilusão do setor agrícola achar que pode ficar fora dessas regras. Veja este exemplo: um país decide não ratificar o Protocolo em função do acesso aos benefícios. Mas digamos que precise ter acesso aos recursos genéticos de outro país para resolver problemas de uma doença nova em uma colheita. O consultado irá falar "está bem, mas quero que pague pelo critério de repartição de beneficio". O país que pediu ajuda não é obrigado a pagar, mas também não terá acesso ao que precisa.

Quem não quer pagar pela conservação da semente original é o mesmo que se dispõe a pagar royalties por transgênicos?

 

Valor: Já existe alguma regra que diga como quem ganha dinheiro com o uso econômico da biodiversidade pagará quem preservou? Dias: No caso da repartição de benefícios os valores serão negociados bilateralmente. O Protocolo de Nagoya não define o valor a ser pago, não diz isso em nenhum lugar. O valor será negociado caso a caso. E um país não precisa necessariamente pagar em dinheiro, pode oferecer uma troca, por exemplo. Eu preciso de uma variedade de soja e ofereço, em troca, uma variedade de mandioca ou de caju, ou tecnologia. Não estamos falando só de dinheiro. Como isso será feito, será determinado pelas partes.

Valor: Quais setores da economia são impactados por Nagoya? Dias: O princípio da repartição de benefícios foi acertado em 1992, na Rio92. O problema é que não foi implementado por falta de legislações nacionais, de clareza dos países de como interpretar essa cláusula. Em 2002 se aprovou uma resolução pedindo à CDB que negociasse o Protocolo. Foi decisão de todos os países e demorou muitos anos. O setor farmacêutico dos países ricos, por exemplo, tinha uma interpretação limitada dessa regra e até há pouco achava que não tinha nada a ver com repartição de benefícios. Agora, com o Protocolo de Nagoya, ficou claro que a indústria farmacêutica, que gera bilhões e desenvolve fármacos a partir de espécies de países tropicais, está dentro da regra.

 

Valor: Como o Brasil se coloca nessa equação? Dias: O Brasil é tanto provedor como usuário de recursos genéticos. Não se faz nada na agricultura sem essa fonte. Em saúde também não se faz nada, em biotecnologia, na economia. Esses setores perderão muito se a biodiversidade continuar desaparecendo no mundo. A CDB garante que os países provedores de recursos naturais também se beneficiem do uso da biodiversidade. Se não se beneficiarem, quebra-se a lógica da conservação.

 

Valor: Porque conservar a biodiversidade é estratégico? Dias: A natureza é um imenso banco de germoplasma, com muitas variedades de sementes. Mas a especialização crescente da agricultura criou um problema, concentrando a eficiência em um número menor de cultivos. O que se come hoje no mundo todo são poucos alimentos, basicamente trigo, arroz, mandioca, milho. Isso parece bom sob certas lógicas de eficiência, mas coloca a humanidade em grande risco. Se ocorrer uma doença em uma dessas culturas vai ser um caos em termos de segurança alimentar. É preciso conservar a biodiversidade para uso futuro e para criar soluções a possíveis problemas.

 

Valor: Que tipo de problemas? Dias: A adaptação das culturas às mudanças do clima, por exemplo. Estudiosos desses impactos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), liderados pelo pesquisador Eduardo Assad, traçaram cenários futuros para a agricultura brasileira. Os resultados dos estudos são assustadores. Poucas culturas não serão muito impactadas, a cana-de-açúcar é uma delas. Mas o café, por exemplo, será afetado.

 

Valor: Quando o Protocolo de Nagoya entrará em vigor? Dias: Precisa ter 50 ratificações de países. Esse é um processo interno complexo que pode exigir consultas à sociedade, um marco legal, o estudo de impactos. Leva um certo tempo. Mas já há seis países que o ratificaram - Jordânia, Gabão, Ruanda, Seychelles, México e Laos. Índia, Tailândia, Etiópia e a União Europeia dizem estar em fase final de estudos. Dos Estados Unidos não temos nenhuma sinalização, é o único pais que está fora da CDB. Isso não quer dizer que os EUA não acompanhem de perto todas essas discussões. A discussão por recursos para preservar a biodiversidade é difícil porque o mundo enfrenta hoje uma crise financeira séria

 

Valor: E a situação no Brasil? Dias: O Brasil é um dos poucos países que têm legislação nacional, assim como a Austrália, a Índia, a África do Sul. É uma medida provisória de 2002. Mas faz parte da primeira geração de legislações nacionais, muito burocráticas e que não tinham por meta criar estímulos para a pesquisa, mas evitar a pirataria. Em junho, a presidente Dilma [Rousseff] enviou uma mensagem solicitando ao Congresso que discuta o assunto e ratifique o Protocolo. É bom lembrar que no processo de ratificação de acordos internacionais não se pode discutir modificação. Ou o país ratifica ou não. Nagoya remete para a legislação nacional uma série de questões e é ela quem vai decidir. Cabe a cada país cuidar de operacionalizar como vai ser.

 

Valor: Na Índia haverá alguma discussão sobre o Protocolo? Dias: Não.

Valor: Está em pauta a discussão de financiamento para as metas de conservação até 2020. Mas os países ricos estão sem dinheiro... Dias: Essa é uma discussão difícil, porque o mundo enfrenta situação de crise financeira. Na Índia há vários pontos na agenda. Um deles é a discussão sobre a mobilização de recursos financeiros para a implementação das metas de Aichi. Outro são os planos estratégicos 2011-2020, que irão incluir, por exemplo, a incorporação dos valores da biodiversidade nas contas nacionais e nos planos de desenvolvimento e de combate à pobreza.

 

Valor: Estão sendo estudados novos mecanismos de financiamento para garantir a preservação? Dias: A ideia é tentar aproveitar mecanismos que já existem, como o GEF, o fundo global ambiental do Banco Mundial. Mas a ideia é ir muito além do GEF, inclusive com novos mecanismos de mercado.

 

Valor: Na CDB vale o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, ou seja, cabe aos ricos a maior parte da conta?

Dias: Sim, vale. Mas todos os países têm responsabilidade e podem fazer algum tipo de mobilização de recursos. Valor: Como está a proteção da biodiversidade nos oceanos, tema muito discutido durante a Rio+20? Dias: A biodiversidade marinha é uma agenda importante. O secretário-geral [da ONU] Ban Ki-Moon lançou recentemente uma iniciativa, a Oceans Compact, com foco na questão dos oceanos e que envolve todas as agências da ONU. Tem três objetivos: proteger as populações que dependem dos oceanos para sobreviver, conservar a biodiversidade marinha e ampliar o conhecimento sobre o melhor manejo dos recursos do mar. A CDB tem um plano de trabalho, desde 1995, que engloba questões que preocupam muito, como a pressão sobre os estoques de peixes. Já aprovamos metas para ampliar as áreas de proteção marinha.

Valor: Críticos dizem que a CBD toma decisões, mas é fraca na implementação. O que acha disso? Dias: É verdade. Na minha gestão quero dar prioridade total à implementação. Os países já avançaram bastante em criar uma agenda de biodiversidade, já fizemos esforços muito grandes na parte normativa. Agora precisamos trocar experiências, apoio financeiro e capacitação. É hora de agir.

Valor: Como é a atuação dos empresários nessa agenda? Dias: Há um forte engajamento do setor privado. Em Tóquio existe uma plataforma que reúne 500 empresas em uma iniciativa de biodiversidade e negócios. No Brasil também há iniciativas do gênero começando.

Discussão esquenta no Brasil depois do Código Florestal

Por De São Paulo

 

Depois do Código Florestal, o próximo grande embate ambiental envolve o acesso à biodiversidade e a repartição dos benefícios que resultarem da exploração econômica dos recursos naturais. A discussão já ocorre há algum tempo no governo e abrange o setoragrícola e ambiental, fabricantes de alimentos, cosméticos e remédios. A expectativa é que o debate esquente no futuro.

Há duas frentes de discussão. A reformulação da legislação nacional existente e o processo que virá a reboque da ratificação, no Congresso, do Protocolo de Nagoya. O ponto de convergência é que a legislação nacional vigente - uma medida provisória de 2002- tem que ser revista. "A MP reflete um momento muito diferente do atual", diz Roberto Cavalcanti, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente. A MP tinha por objetivo coibir a biopirataria e está desatualizada. "As questões mais urgentes devem ser acertadas em breve", prevê Tatiana Trevisan, coordenadora de projetos de políticas públicas do Instituto Ethos.
Isto significa ajustar o acesso à biodiversidade às demandas das empresas, o que tem sido burocrático e pouco ágil. A autorização tem que ser dada pelo Conselho de Gestão de Patrimônio Genético (CGEN). Os empresários reclamam que o processo é lento.

Os problemas maiores começam na interpretação do que diz o Protocolo de Nagoya e seus impactos. Representantes do setoragrícola têm dúvidas se na repartição de benefícios (recompensar quem preservou o recurso natural) também entram produtos agrícolase não só as espécies florestais. É esta a discussão que começa a tomar força no Brasil.

 

O temor é que o país tenha que pagar pela produção de alimentos que têm outra origem, como soja, arroz, batata, milho. "Hoje há uma grande discussão em torno das espécies que entram ou não no Protocolo de Nagoya e nos mecanismos de repartição de benefícios", explica Caio Magri, gerente executivo de políticas públicas do Instituto Ethos. A organização é também secretaria executiva do Movimento Empresarial pela Biodiversidade - Brasil (MEEB), que reúnem mais de 70 empresas e 10 organizações da sociedade civil.

"Um dos pontos centrais de Nagoya é o reconhecimento da paternidade genética de tudo o que temos no planeta e como vamos valorar esta biodiversidade", continua Magri. "O Brasil tem um patrimônio importante, mas também é consumidor importante de patrimônio genético de fora do país."

 

"A discussão de acesso à biodiversidade já é forte no Brasil", diz Tatiana Trevisan. Cavalcanti, do MMA, esclarece que o Protocolo de Nagoya tem uma série de salvaguardas que dão tratamento específico às plantas agrícolas. "O Protocolo reconhece a importância do setoragrícola", assegura.

 

Segundo Cavalcanti, o Brasil só tem a ganhar com a ratificação do Protocolo e dando corpo à legislação nacional de acesso à biodiversidade e repartição de benefícios. "Este é o sinal que muitos estão esperando para fazer parcerias estratégicas", diz. "Há muitas indústrias que tem interesse em usar a biodiversidade brasileira, mas querem fazer isso dentro de um marco legal sólido. Não querem questionamentos. A área de fármacos e cosméticos é toda baseada na imagem." (DC)

 

 

 
 

 
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15/10/2012 
COMÉRCIO EXTERIOR
FATIA DO BRASIL NO COMÉRCIO NÃO REFLETE SUA ECONOMIA

A importância do Brasil no ranking das maiores economias do mundo não se reflete em sua participação no comércio mundial. O país detinha uma fatia de 1,41% do comércio mundial em 2011, parcela muito pequena. A expansão tem como base as commodities, com uma concentração cada vez maior na pauta brasileira de exportações. Hoje, apenas seis produtos respondem, em volume, por quase metade de tudo o que o Brasil vende para o mercado externo.

Para especialistas, o cenário acaba ampliando a dependência brasileira da oscilação de preços das commodities. Mais grave, no entanto, apontam, é que não se avança na exportação de produtos manufaturados, diante da pouca competitividade brasileira. Faltam estratégias para aproveitar os recursos oriundos das matérias-primas.

— Somos a sexta maior economia do mundo, o 22º exportador e o 21º importador. Nossa atuação no comércio exterior não é compatível com o Produto Interno Bruto (PIB). Temos um mercado doméstico grande, mas os Estados Unidos também têm e exportam muito — afirma o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

 

Dos US$ 160,597 bilhões das exportações brasileiras em 2012 (dados até agosto), 44,42% vieram de apenas seis produtos: minério de ferro, soja, óleo bruto de petróleo, café em grão, complexo carnes (frango, bovina e suína) e açúcar. Em 2006, esses mesmos seis produtos responderam por 27,53% das exportações.

 

A expansão da economia mundial desde o início da década passada alavancou os preços de commodities. No Brasil, também cresceram os volumes exportados, o que aumentou o peso das matérias-primas na pauta de exportações. Além disso, a crise econômica mundial fez com que produtores de manufaturados buscassem outros mercados, aumentando a concorrência internacional.

— O Brasil tem uma participação diminuta no comércio internacional. Isso indica que o aumento das exportações brasileiras é um movimento decorrente da expansão da economia mundial. A gente surfa nessa onda, mas sem aumento da fatia do comércio global, como ocorreu com a China — afirma o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), embaixador Luiz Augusto de Castro Neves.

 

Para se ter uma ideia, a fatia do Brasil no comércio internacional subiu de 0,85% em 2000 para 1,41% em 2011, enquanto a da China passou de 3,86% para 10,43%, e a da Índia, de 0,65% para 1,63%.

— Nossa participação cresceu por causa de commodities, sem que o Brasil tivesse influência nesse processo, enquanto a China abriu e roubou mercados, com quase 100% de suas exportações formadas por produtos manufaturados — explica Castro, da AEB.

 

A cautela é porque o preço das commodities é definido internacionalmente e oscila de acordo com o momento da economia mundial. Num momento de crise, pode cair e trazer impacto forte para a balança comercial brasileira. — Nosso perfil de comércio exterior é dependente de commodities. Quanto mais a pauta está ligada a commodities, mais vulnerável é o país — afirma o economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) Rodrigo Branco.

 

É PRECISO INVESTIR EM MANUFATURADOS

Castro Neves discorda. Segundo ele, “as commodities têm carregado o piano das exportações brasileiras”, e o grande problema é a falta de uma política para o bom uso desses recursos. Ele lembra que os próprios Estados Unidos foram um grande exportador de commodities e, com isso, financiaram sua industrialização.

 

— Nosso vizinho Chile, assim como Austrália, Nova Zelândia e Noruega, conseguiu crescer explorando as vantagens naturais. Uma boa alternativa seria estimular as cadeias industriais associadas a essas vantagens naturais — diz o professor do Insper Sérgio Lazzarini, que defende a criação de um fundo soberano para mitigar os riscos das commodities. O problema, segundo Castro, da AEB, é o desempenho fraco das vendas de manufaturados:

 

— Exportar commodities não é ruim, o problema é só exportar isso. O Brasil é naturalmente um exportador de commodities. O que não podemos é deixar de exportar os manufaturados, que é o que está acontecendo.

Nessa área, no entanto, pesam contra o avanço dos manufaturados as já conhecidas fraquezas brasileiras, como a elevada carga tributária e ainfraestrutura precária. — O preço do produto manufaturado brasileiro é alto, por causa da precária logística de exportação e impostos elevados. O sistema tributário é a principal queixa de nossos clientes exportadores — revela Andrea Balassiano, sócia do Bichara, Barata e Costa Advogados

 
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15/10/2012 
ECONOMIA
BRASIL 2020

Em minha coluna passada reafirmei a convicção de que não acredito no fim do capitalismo, apesar de estarmos vivendo uma das crises econômicas mais graves da história da humanidade. Esta afirmação, se feita há algum tempo atrás, poderia parecer uma bravata. Vivíamos então sob o domínio dos analistas defensores da tese do FIM DO MUNDO. Hoje essa posição já não goza do mesmo entusiasmo dos mercados e seus principais defensores andam em baixa junto à mídia.

Mas uma nova ameaça ronda a economia do mundo de acordo com uma segunda - e mais moderada - geração de pessimistas. Segundo eles, vamos entrar em uma década de crescimento muito baixo, principalmente no chamado mundo desenvolvido. Embora essa mensagem esteja mais próxima da minha posição em relação ao futuro, não concordo com as previsões de uma década perdida.

Aprendi durante minha vida de analista algumas lições sobre as chamadas economias de mercado: a primeira é que, sem uma regulamentação eficiente, os mercados acabam por criar algum tipo de bolha de ativos. Com a ruptura dessas bolhas, seguem-se desequilíbrios micro econômicos que acabam por desestabilizar a situação macro de países ou mesmo de regiões inteiras.

Não estamos vivendo o padrão histórico das recessões do passado e cabe refletir sobre as razões dessa mudança

A segunda lição é que existem mecanismos eficientes de ação dos governos para lidar com esses desequilíbrios e evitar um mergulho na depressão econômica. Essas ações permitem que seja reencontrado - mais adiante - o equilíbrio macro econômico perdido. Historicamente esse período de ajuste é de cerca de 2 anos.

Ora, na crise atual já estamos no quinto ano de um processo recessivo que atingiu todo o mundo desenvolvido e, segundo os especialistas, mais dois ou três anos serão necessários para atingirmos a normalização. Portanto não estamos vivendo o padrão histórico das recessões do passado e cabe refletir sobre as razões dessa mudança de comportamento.

Várias são as causas dessa particular recessão que estamos vivendo. A primeira deriva do fato de que a bolha especulativa de agora, ao atingir o mercado imobiliário americano, afetou parte importante da maior economia do mundo e não apenas setores emergentes, como foi o caso da bolha da internet que ocorreu no fim do século passado. Em segundo lugar, pela dimensão desse mercado, as hipotecas representavam parte importante dos ativos do sistema financeiro. Essa qualificação é particularmente verdade no caso dos bancos de Wall Street, depois que a criação dos derivativos de crédito transformou essas instituições em agressivos participantes desse mercado. Por essa razão a crise financeira que se seguiu foi muito mais forte do que as anteriores.

Em terceiro lugar, esses títulos de crédito com garantia de hipotecas individuais, pela sua liquidez e taxas de juros elevadas, acabaram fazendo parte da carteira de ativos de instituições fora dos Estados Unidos, levando a crise para outros sistemas bancários.

Por essas razões, o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, contaminou em extensão nunca vista antes as economias do chamado G-7 e obrigou os governos desses países a uma intervenção de dimensões inusitadas. Os déficits orçamentários que se seguiram, nos Estados Unidos e nos países europeus, levaram a um crescimento estratosférico das dívidas públicas nacionais, com a quase totalidade delas superando o valor do PIB de cada país. Essa é a jabuticaba dessa crise e a grande fonte de diferença em relação às experiências passadas.

Pressionados pelos mercados os governos foram obrigados a reduzir seus desequilíbrios fiscais, mesmo com a recuperação econômica ainda frágil, o que fez com que a trajetória de normalização do passado não esteja ocorrendo agora. Mesmo nos Estados Unidos, onde a maior confiança na sua moeda e no valor dos títulos do governo tem permitido um ajuste mais suave do déficit - da ordem de 1,5% ao ano - a pressão deflacionista sobre a economia tem levado a um crescimento anêmico de menos de 2% ao ano. No caso da Europa, principalmente nas economias mais frágeis e de maior risco de crédito, essa situação de anemia da economia, por conta de um ajuste fiscal mais rápido, é ainda mais grave. Não por outra razão, a recessão já é muito mais forte do que nos Estados Unidos e deve se estender por pelo menos mais dois anos.

Apesar dessa situação mais complexa que vivemos hoje acredito que, principalmente nos Estados Unidos, chegaremos a um novo período de crescimento sustentado. A agressividade da política monetária do Fed - outra jabuticaba de agora - vai permitir essa recuperação mesmo durante o período de ajuste do déficit fiscal. Na Europa o reencontro com o crescimento será mais lento e, principalmente, menos homogêneo. As dúvidas sobre a viabilidade de uma união monetária entre países e sociedades tão diferentes são reais e não têm uma resposta ainda.

Mas se esse quadro de recuperação lenta, mas sustentada, no G-7 permear as mentes de investidores, principalmente das empresas, poderemos ter uma retomada do investimento a partir de 2013. Isso será mais consistente no mundo emergente que ainda representa um dos poucos bolsões de demanda forte no mundo de hoje.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas

 
15/10/2012 
ECONOMIA
HÁ DIVERGÊNCIAS SOBRE A QUEDA DO DÓLAR

Após comprar a briga da queda de juros, a próxima briga do governo será no câmbio. O dólar está praticamente fixo em R$ 2 há quase seis meses, depois de beirar R$ 1,55 em julho do ano passado, e o governo federal dá sinais de que ainda não está satisfeito com o atual patamar. Economistas ouvidos pelo Estado se dividem quando o assunto é a trajetória do real em 2013.

Enquanto para Armínio Fraga e Gustavo Franco, ex-presidentes do Banco Central (BC), a mudança na taxa de câmbio ocorreu devido ao estresse mundial, e, portanto, o real pode voltar a se valorizar quando a situação econômica melhorar, os principais conselheiros da presidente Dilma Rousseff pensam diferente.

Para Antônio Delfim Netto, a mudança no câmbio foi principalmente dirigida pela equipe econômica. A mudança na cotação do dólar corrigiu, segundo ele, um "pecado capital" do próprio governo petista, que permitiu a hipervalorização do real, destruindo a competitividade da indústria nacional. "O câmbio valorizado foi mantido por tempo demais, promovendo um efeito devastador."

Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e também conselheiro presidencial, avaliam que uma das principais medidas do governo foi intervir diretamente no mercado de câmbio, instituindo a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o excesso em posição "vendida" em derivativos cambias - o que representa a aposta em um título que prevê a valorização do real.

"Último peru". "Por conta das elevadas taxas de juros, o Brasil foi durante muito tempo o último peru disponível fora do Dia de Ação de Graças. Todo mundo vinha para cá", diz Delfim Netto. Ele diz que, mesmo na mínima histórica (7,25% ao ano), a taxa básica de juros, a Selic, "ainda é o último peru". Mas pondera: "Estamos terminando a festa".

Para Gustavo Franco, no entanto, acreditar na eficácia do IOF é "uma ilusão". Para ele, o dólar atingiu R$ 2 por conta "de um problema muito sério na Europa, que começou exatamente em agosto do ano passado, curiosamente quando o real passou a se desvalorizar".

A desvalorização do real encarece bens importados, o que pode ter efeito na inflação. Para Fraga, os piores problemas com preços ficaram em 2011. "Não acredito que o BC atual tenha qualquer intenção de abandonar o sistema de metas de inflação, mas há também a percepção de que o BC está mais disposto a correr riscos com a inflação, em busca de auxiliar o governo e elevar o ritmo do crescimento." /J.V.

 
15/10/2012 
ECONOMIA
JUROS MAIS BAIXOS E DÓLAR EM ALTA DÃO MAIS FÔLEGO AO PAÍS

Usar essas ferramentas para melhorar a competitividade não é, porém, unanimidade entre os especialistas

A redução da taxa de juros iniciada em 2011 e a política mais ativa do governo para manter o dólar alto têm ajudado o Brasil a se tornar mais competitivo, apontam economistas. O País até mesmo avançou no Relatório Global de Competitividade do Fórum Econômico Mundial, quando a melhora das condições macroeconômicas foi citada. Ainda assim, há espaço para um juro mais competitivo e, principalmente, para um spread (diferença entre o juro que o banco cobra dos clientes e a taxa que paga para captar o dinheiro) menor.

"Os grandes preços relativos da economia, como juros e câmbio, são fundamentais para a parte macroeconômica da competitividade. O ambiente está mudando favoravelmente. A grande virada foi o início da redução de juros em 2011 e o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)", afirma o professor da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda.

Com uma taxa de juros real abaixo de 2%, o Brasil avançou muito, mas ainda exibe um dos maiores níveis do mundo. "O custo de financiamento caiu muito, mas há espaço para avançar. De qualquer forma, o juro real deve se consolidar no atual nível, de 1,5% a 2% ao ano", complementa Lacerda.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o Brasil passou para um nível interessante de competitividade ao atingir mínimas históricas de taxas de juros. No caso do câmbio, no entanto, ele acredita que, mais importante do que preço, é preciso avançar em qualidade. "Juros menores ajudam o investidor a assumir mais riscos na expansão de sua produção, o que leva a novos investimentos em máquinas, em fábricas, em mão de obra. É positivo."

Analistas são unânimes em afirmar que o Brasil ainda sofre de um problema crônico de spread bancário elevado. "Os dez maiores bancos representam 90% do crédito, e a concentração permite um nível de spread elevado. Além disso, o compulsório é um dos mais altos do mundo, e os impostos diretos e indiretos respondem por um terço do custo do spread", explica o economista-chefe da Austin Rating.

Ação no câmbio. Há quem argumente, no entanto, que nem juros nem câmbio devem ser usados para melhorar a competitividade. Ex-diretor do Banco Central e sócio-diretor da MCM Consultores, José Júlio Senna afirma que a competitividade deve ser ligada a outras questões, como infraestrutura. "Até entendo que o custo do dinheiro pesa na competitividade, mas taxa de juros é instrumento de política monetária, para administrar a demanda, e não de competitividade."

Na avaliação de Senna, as intervenções no câmbio para torná-lo mais competitivo têm um custo, como afugentar investidores estrangeiros.

 
15/10/2012 
ECONOMIA
PIORA NO CENÁRIO EXTERNO PODE AFETAR PIB DO BRASIL EM 2013

A maior parte dos analistas ainda acredita num crescimento na casa de 4% no ano que vem, mas aumentou o número dos que apostam numa expansão mais modesta, próxima a 3%, dada a expectativa crescente de que o mundo terá mais um ano difícil em 2013. Esse risco de continuidade de um cenário externo adverso no próximo ano terá um impacto negativo sobre o investimento e as exportações, dizem os mais pessimistas. O Banco Fator aposta em crescimento de 3,2% em 2013, o Morgan Stanley, em 2,8%, e a MB Associados, em 3% a 3,5%. Para 2012, os analistas acreditam em avanço próximo a 1,5%.

Boa parte do mercado, contudo, acredita em uma alta do PIB em 2013 na casa de 4% ou um pouco mais - o Bradesco estima 4%, a LCA Consultores, 4,4%, e o Itaú, 4,5%. A grande diferença é que esses analistas confiam em uma retomada mais forte do investimento, não acreditando que o quadro internacional impedirá uma alta de 8% a 10% na formação bruta de capital fixo (medida das contas nacionais do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos).

Semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu de 3,9% para 3,6% a projeção para o crescimento do mundo em 2013. O economista-chefe do Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, nota que esse quadro de menor expansão global vai prejudicar as exportações brasileiras, e a China deve avançar a um ritmo menos expressivo - o FMI reduziu de 8,4% para 8,2% a projeção para o PIB chinês em 2013.

 

As perspectivas para as exportações contribuíram para Gonçalves cortar de 4% para 3,2% a estimativa para o crescimento brasileiro em 2013, mas ele se mostra mais pessimista em relação ao investimento. Segundo ele, o cenário mundial contamina os planos de investir das empresas pelo temor do impacto no crescimento doméstico.

Gonçalves também espera que o pacote de concessões ao setor privado só deslanche em 2014, além de acreditar que as desonerações tributárias promovidas pelo governo tiram espaço de um aumento mais forte do investimento público. Por tudo isso, ele estima que a formação bruta de capital fixo vai crescer 1,7% no ano que vem, depois de cair 3,4% neste ano.

 

O economista-chefe para o Brasil do Morgan Stanley, Arthur Carvalho, também acredita que a recuperação brasileira em 2013 será limitada pelo cenário externo. "As exportações sofrem, mas o canal mais importante é o do investimento", diz Carvalho, que projeta expansão para o PIB no ano que vem de 2,8%. Ele destaca que as projeções do Morgan Stanley para o mundo são mais pessimistas que as de boa parte dos analistas - para a China, o banco espera crescimento de 7,8% em 2013, abaixo dos 8,2% do FMI. Para os EUA, a aposta é de um avanço de 1,4%, enquanto o Fundo estima 2,1%.

Para Carvalho, esse cenário global adverso afetará os investimentos nos setores de commodities, importantes para a formação bruta de capital fixo no Brasil. Ele tampouco crê numa recuperação robusta dos investimentos na indústria. Os concorrentes estrangeiros, como os asiáticos, continuam oferecendo preços competitivos, mesmo com a desvalorização do real, por terem capacidade ociosa em suas fábricas. Carvalho se diz mais otimista quanto ao Brasil porque o governo passou a adotar medidas mais estruturais, voltadas à redução do custo Brasil, mas acredita que 2013 não será um ano de forte crescimento. Não por acaso, ele e Gonçalves acreditam que os juros ficarão nos atuais 7,25% até o fim do ano que vem.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, também está mais cauteloso. "Vejo 2013 como transição, justamente porque o cenário internacional ainda estará ruim. O investimento, por exemplo, deverá estar em compasso de espera pelas concessões", diz ele, que tampouco aposta em forte expansão de projetos públicos.

 

Já o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, vê espaço para o Brasil crescer 4% em 2013, ou até um pouco mais. "O meu viés para essa projeção é para cima, principalmente porque há muitos estímulos. Não há porque não acreditar que uma taxa real de juros indo para 1,5% não surtirá efeito." Barros observa que as "desonerações sobre a folha de pagamentos e a autorização para que os Estados aumentem seu endividamento para ampliar investimentos são estímulos difíceis de serem 'imputados' nos modelos, mas que reforçam o viés de alta". Além disso, fatores que atrapalharam o primeiro semestre deste ano, como a quebra de safra de soja, deverão se dissipar nos próximos trimestres.

 

Para Barros, "sob a hipótese de estabilização ou alguma melhora no cenário global", esse viés mais positivo tende a se materializar. Uma piora externa mais acentuada, contudo, afetaria o Brasil. Ele diz que a correlação entre crescimento doméstico e atividade global é grande e aumentou nos últimos anos, como mostra a evolução das exportações mundiais e do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), um termômetro do PIB (ver quadro acima). Segundo Barros, além do comércio exterior e dos fluxos de capitais, um cenário externo complicado impacta expectativas dos agentes, com reflexo nos investimentos.

 

O economista Caio Megale, do Itaú, tem uma previsão mais otimista, apostando em expansão de 4,5% para 2013. Ele diz que o quadro global decerto não é animador, mas acredita que ele parou de se deteriorar. Diminuiu o risco de uma ruptura, como um desmantelamento da zona do euro. Com isso, há alguma redução das incertezas, favorecendo investimentos.

Caio afirma que a formação bruta de capital fixo será uma "peça-chave" para que o PIB de 4,5% se concretize, junto com um bom desempenho da economia no quarto trimestre deste ano. Ele acredita que há boas chances de isso ocorrer, dada a profusão de estímulos e o fato de que a retomada já parece mais firme. Por confiar em um PIB mais robusto, o Itaú acredita que a Selic subirá em 2013, fechando o ano em 8,5%.

 

Diretor de macroeconomia da LCA, Fernando Sampaio diz que, se "o mundo continuar ruim, mas não ficar péssimo", é possível o Brasil avançar com mais força em 2013 - a LCA projeta 4,4%. Ele aposta especialmente numa recuperação expressiva do investimento, com alta de 10,7%. Para Sampaio, há vários fatores que devem impulsionar esse indicador, como os juros baixos do BNDES, o câmbio mais desvalorizado e menos volátil, a queda da Selic e a permissão para os Estados se endividarem mais para investir.

 

Sampaio vê ainda um espaço para um crescimento razoável do consumo das famílias, de 4,6% em 2013, superior aos 3,6% deste ano. "O mercado de trabalho aquecido deve continuar a amparar o consumo", diz ele, afirmando, porém, que há uma dúvida se o nível de endividamento das famílias afetará o apetite do consumidor, apesar do custo menor dos débitos, graças à queda da Selic e das taxas cobradas pelos bancos. Vale e Gonçalves veem um consumidor mais cauteloso, o que também explica as projeções menores para o PIB. Este último projeta avanço de 3,9% do consumo das famílias em 2013.


 
 recolher INTERNACIONAL
15/10/2012 
INTERNACIONAL
VENEZUELA FAZ PLANOS PARA SE PROMOVER NO MERCOSUL

 

O governo da Venezuela deve lançar nos próximos dias a MissãoMercosul com o objetivo de promover o país no bloco e na região. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, declarou que a meta é apoiar as prioridades de desenvolvimento em todo o país, criando condições para que a Venezuela enfrente os desafios que envolvem a sua presença no bloco, ao qual aderiu no fim de julho.

 

Chávez lembrou que os projetos “serão de grande importância” para transformar a Venezuela em uma grande potência mundial. “O desafio é fazer com que a teoria se torne realidade, tomando as massas e o povo. O Mercosul deve ir do Caribe e da Venezuela, na Amazô nia, ao Rio da Plata. É uma potência latina- americana, um projeto histórico”, disse.

Uma das metas, segundo Chá-vez, é desenvolver as regiões de Trujillo e do Lago de Maracaibo por meio de um porto internacional, assim como por em prática o projeto ferroviário, que deve unir o Orinoco ao Caribe. “Um dia, mais cedo ou mais tar de, a ferrovia vai chegar a Manaus, na Amazônia”, acrescentou o presidente venezuelano.

 

A Venezuela ingressou no Mercosul em 31 de julho, em uma cerimônia em Brasília. Com a adesão do país, o Merco-sul contará com uma população de 270 milhões de habitantes (70% da população da América do Sul), registrando um Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes de US$ 3,3 trilhões (o equivalente a 83,2% do PIB sul-americano) e um território de 12,7 milhões de quilômetros quadrados (72% da área da América do Sul).

Equipe de governo

 

Reeleito, Chávez também nomeou como novo vice-presidente Nicolás Maduro. Ele é amigo pessoal de Chávez e ocupava o cargo de ministro das Relações Exteriores. No período em que Chávez se tratou de um câncer, Maduro o representou em eventos públicos nacionais e internacionais.

Ex-motorista de ônibus e sindicalista, Maduro está no governo desde 2006. É considerado o político que tem a maior confiança de Chávez, que o aponta como sucessor natural. Maduro substitui Elias Jaua, que disputa o cargo de governador do estado de Miranda, em dezembro. ABr

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
       
 

 
 recolher POLÍTICA
15/10/2012 
POLÍTICA
MAIORIA DO STF TENDE A ABSOLVER RÉUS EM CASOS DE EMPATE

FELIPE RECONDO / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

 

O julgamento do mensalão será retomado hoje no Supremo Tribunal Federal com a expectativa de um empate e a consequente absolvição dos réus. Na semana passada, cinco ministros votaram pela absolvição de três dos acusados de lavagem de dinheiro. Outros dois votaram pela condenação e devem hoje ser acompanhados pelos três ministros que ainda vão votar.

 

O impasse deve levar a Corte à absolvição dos réus, pois ministros, entre eles o presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, defendem que o empate beneficia o acusado. Com isso, Anderson Adauto, ex-ministro dos Transportes do governo Lula, e os ex-deputados Paulo Rocha (PT-PA) e João Magno (PT-MG) se livrariam da acusação de lavagem de dinheiro. Eles receberam dinheiro das empresas do pivô do mensalão, Marcos Valério. Conforme o Ministério Público, eles teriam dissimulado a origem do dinheiro.

 

O relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, votou pela condenação, por entender que eles se beneficiaram do esquema montado pelo Banco Rural e por Valério para impedir que a origem e os reais destinatários do dinheiro fossem descobertos. Todos se valeram de intermediários para fazer os saques, o que Barbosa considerou tentativa dos réus de se proteger. Só o ministro Luiz Fux concordou com esse entendimento.

 

Maioria. O revisor do processo, Ricardo Lewandowski, e os ministros Marco Aurélio Mello, Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Rosa Weber votaram pela absolvição. Para eles, não havia provas de que os réus soubessem da origem criminosa do dinheiro e, por isso, não o poderiam ter lavado. O julgamento será retomado hoje com o voto do ministro Gilmar Mendes. Depois, votarão Celso de Mello e Ayres Britto. Pelas posições dos ministros em outros itens do processo, a expectativa é que os três votem pela condenação de Adauto, Magno e Rocha.

 

Outro réu, o ex-deputado José Borba (PMDB), foi condenado em setembro por corrupção passiva por ter recebido dinheiro em troca de apoio ao governo, mas a acusação de lavagem terminou em 5 a 5.

O tribunal só discutirá o que fazer sobre os placares de 5 a 5 no fim do julgamento, quando será feito o cálculo das penas. Mas a maioria dos ministros defenderá que se aplique o mesmo entendimento dos julgamentos de habeas corpus, quando o empate beneficia o réu.

Hoje, os ministros confirmarão a absolvição do então líder do governo na Câmara, Professor Luizinho, acusado pelo MP de receber R$ 20 mil do esquema. Já foram sete votos a favor.

 

Terminado esse item, a Corte passa a julgar a acusação contra o publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O MP acusa Duda e sua sócia, Zilmar Fernandes, de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Na semana antes do 2.º turno, a Corte julgará a acusação de que uma quadrilha foi montada para operar o mensalão. Para o MP, o chefe seria o ex-ministro José Dirceu.

 

 

 

 
15/10/2012 
POLÍTICA
O CACHIMBO QUE ENTORTA A BOCA

Por Miguel Jorge

A propósito da política de proteção da indústria brasileira, que a presidente Dilma Rousseff acaba de defender em discurso na ONU, algumas considerações parecem, no mínimo, oportunas. À parte a discussão sobre se o Brasil é protecionista ou pratica "iniciativas legítimas de defesa comercial", como definiu a presidente, a questão central é que nossa indústria tem baixa competitividade.

Isso, não somente por questões cambiais, mas por fatores estruturais, entre os quais estão, de um lado, a alta carga tributária, a péssima qualidade da infraestrutura, a baixa produtividade da mão de obra e os custos do trabalho e de financiamento. São os explosivos ingredientes do chamado "custo Brasil", que torna nossa produção mais cara do que em outros países e potencializa os problemas de baixa competitividade.

 

Mas, de outro lado, é preciso não perder de vista o fato de que o setor tem uma péssima herança dos tempos de mercado fechado e protegido. Dos anos 1970 até 1990, era proibido importar tudo e esse gigantesco protecionismo garantiu à indústria uma enorme zona de conforto, que não exigiu modernização, uma vez que não havia concorrência externa e se dispunha de um grande mercado interno.

Quando o protecionismo prevalece, as indústrias tendem a se acomodar e deixam de investir em modernização Desse período, o país herdou uma indústria automotiva sucateada até os anos 1990, o atraso tecnológico decorrente da Política Nacional de Informática dos anos 1970 e um passado de hiperinflação, até hoje na memória da população adulta. Resumindo: as restrições impostas aos produtos importados na fase protecionista retardaram o desenvolvimento empresarial no Brasil.

 

A partir do fortalecimento do real e da abertura da economia às importações, ficaram evidentes as graves deficiências produtivas de uma relevante parcela das indústrias. A abertura econômica teve impacto modernizante em alguns setores, que registraram importantes avanços tecnológicos, mas grande parte das indústrias ficou menos competitiva por várias razões e uma delas decorre, exatamente, da zona de conforto gerada pelo excesso de protecionismo.

Não por acaso, costuma-se dizer que o uso do cachimbo entorta a boca.

Quando o protecionismo prevalece, as indústrias tendem a se acomodar e deixam de investir em modernização, tecnologia e produtividade. Em vez de oferecer produtos de qualidade internacional, trabalham com custos altos e produtos ruins, comparativamente aos internacionais. Resultado: ineficiência em vez de produtividade, conspirando contra o crescimento do país.

A verdade é que continuamos pouco afeitos à competição e o governo, ao trilhar o caminho do protecionismo (ou das "iniciativas legítimas de defesa comercial", como diz a presidente), pouco tem feito para reverter este cenário.

 

Vale lembrar algumas das medidas mais recentes, voltando há pouco mais de um ano, quando foi anunciado o decreto que aumentou em 30 pontos percentuais o IPI sobre veículos importados - e olhe que, isso para proteger uma indústria, toda multinacional, de importações de apenas 5,9% do total do mercado de automóveis!

 

De lá para cá, foram sobretaxados os tênis asiáticos de alta performance, impostos limites ao desembarque de carros mexicanos e continuam em análise pedidos de salvaguarda a diversos setores, como o têxtil e o de vinhos.

 

-No início de setembro, o governo brasileiro anunciou a elevação das tarifas de importação de 100 produtos, entre eles pneus, químicos, móveis, petroquímicos e material de construção. A tarifa média de 12%, já bem acima da média mundial, passou para 25%. E outra lista, com mais uma centena de produtos, está sendo preparada para outubro.

Os aumentos ficam abaixo do teto de 35% estabelecido junto à OMC, mas em vários casos a restrição é duplicada, porque a "iniciativa legítima de defesa comercial" vale também para mercadorias já protegidas por medidas antidumping.

 

A curto prazo, a restrição aos importados funciona às mil maravilhas para os setores protegidos, mas prejudica os consumidores, pois a concorrência reduz o poder de monopólio das empresas locais, e por extensão, os preços. Em um prazo mais longo, no entanto, a proteção contra a competição dos importados desestimula a economia brasileira como um todo, além de reduzir a eficiência e a competitividade do país.

 

Não nos enganemos: a queda na produtividade reduz a capacidade de as empresas de absorverem aumentos de custos sem repassá-los aos preços. Se os salários aumentam mais que a inflação, como vem acontecendo, fica mais evidente ainda a necessidade de se aumentar a produtividade e a competitividade da indústria.

Para isso, não basta desvalorizar o real, baixar os juros ou adotar "iniciativas legítimas de defesa comercial", porque o crescimento da produtividade não se dá em um passe de mágica. Ao contrário, é uma construção realizada passo a passo, ao longo do tempo.

Essa construção exige investimentos em novas máquinas e equipamentos, que não apresentam cenário de retorno vantajoso no curto prazo, e na formação e treinamento da mão de obra, e exige redução dos vários impostos que estrangulam a produção. Também exige grandes investimentos em pesquisa tecnológica e em inovação.

A exposição à concorrência externa obriga nossas empresas a reduzirem custos, investir no processo de inovação e realizar alianças estratégicas. Essa busca de adequação aos padrões internacionais gera ganhos de qualidade e de produtividade, com reflexos na queda do nível geral de preços dos produtos. A concorrência internacional incentiva o desenvolvimento das empresas, gerando um nova dinâmica nas relações empresariais.

 

Veja-se o exemplo de nossa agricultura. Na última década, sua produtividade cresceu o dobro da média mundial, ou quatro por cento ao ano, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O rendimento de algumas culturas, como milho, arroz e trigo, aumentou bem mais do que em países produtores tradicionais, como Estados Unidos, Canadá, Japão e Rússia.

 

A soja, por exemplo, é um caso de absoluto sucesso. Começou a se espalhar pelo Brasil, a partir do sul, ao longo dos anos 60, e hoje, graças a um forte avanço tecnológico, caminhamos para produzir oitenta milhões de toneladas e ser o maior exportador mundial.

O setor não se acomoda: seu desafio continua sendo explorar novos limites para garantir mais produtividade e sustentabilidade. E a indústria?
Miguel Jorge, jornalista, foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo Lula (2007-2010).

 

 

 

 
15/10/2012 
POLÍTICA
PRIMEIRO ESCALÃO NOS PALANQUES DE ALIADOS

Juliana Braga Adriana Caitano

 

A 13 dias do segundo turno, os ministros do governo Dilma Rousseff começam a intensificar a agenda de palanques e gravação de programas eleitorais para ajudar na conquista do maior número de prefeituras pela base aliada. Assim como a própria presidente, eles calculam as cidades em que a participação de uma figura nacional pode reverter o quadro a favor dos candidatos de legendas governistas. O apoio já começa hoje, com o início do horário eleitoral na TV.

 

O PT concentra esforços em São Paulo, prioridade para o partido, que tenta retomar o comando da cidade governada pela oposição há quase oito anos. Na semana passada, Dilma esteve na capital paulista, acompanhada dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Aloizio Mercadante (Educação) e Fernando Pimentel (Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior) para, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, costurar apoios para a candidatura de Fernando Haddad (PT). Além desses ministros, voltarão a marcar presença em São Paulo Alexandre Padilha (Saúde) e Marta Suplicy (Cultura), que ganhou a vaga no ministério após declarar apoio a Haddad.

 

Salvador também é considerada estratégica, e contará com reforço no segundo turno. Além de Lula e Dilma, os ministros vão intensificar as ações a favor de Nelson Pelegrino (PT), que enfrenta ACM Neto (DEM). No primeiro turno, Gilberto Carvalho, Aloizio Mercadante, Alexandre Padilha, Paulo Bernardo (Comunicações) e Luiza Bairros (Igualdade Racial) gravaram participações no programa de Pelegrino e podem voltar a oferecer a imagem em benefício do petista.

O foco do casal Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo é Curitiba, onde apoiam Gustavo Fruet (PDT). Turbinado pelo reforço da Esplanada, Fruet conseguiu chegar ao segundo turno, com uma desvantagem de seis pontos percentuais (fechou com 27%) em relação ao primeiro colocado, Ratinho Júnior (PSC). Gleisi insiste para que a presidente Dilma Rousseff também suba no palanque na capital paranaense, mas a disputa não está entre suas prioridades.

Hoje, na sede do partido em Brasília, alguns ministros começam a gravar participação em programas de TV. Alexandre Padilha foi o mais solicitado pelos aspirantes às prefeituras no primeiro turno, tendo gravado mais de 80 vídeos, e segue nessa posição. Por ter sido secretário de Assuntos Federativos no governo Lula — cargo em que trabalhava diretamente com prefeitos — e a questão da saúde é problema na maioria das cidades, ele manteve a preferência em todas as regiões do país. Como pretende entrar na briga pelo governo de São Paulo em 2014, Padilha aproveita-se da situação. “Mercadante, por ser titular da Educação, também foi muito requisitado”, lembra um petista ligado ao comando do partido. “Miriam Belchior (Planejamento) foi solicitada por candidatos de Mato Grosso a São Paulo”, acrescenta.

 

Bandeira branca

 

Mesmo tendo se colocado à disposição para ir às seis capitais em que o PSB disputa o segundo turno, Fernando Bezerra (Integração Nacional) talvez fique de fora do palanque em Fortaleza e em Cuiabá, onde a briga é com o PT. As siglas devem evitar agressões mútuas depois de racharem a aliança em municípios importantes, como Recife e Belo Horizonte, com resultado favorável ao partido comandado por Eduardo Campos (PSB).

 

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), atuou no primeiro turno, mas não tem nada programado para esta semana, já que estará com o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, nas cidades sedes da Copa. No entanto, ele acompanha de perto a disputa em São Luís, onde o correligionário e presidente da Embratur, Flávio Dino, apoia Edivaldo Holanda Júnior (PTC). De olho em 2014, Dino quer quebrar a hegemonia da família Sarney no Maranhão para tentar a cadeira de governador.

O PMDB ainda não definiu a estratégia de discursos e participações em programas eleitorais dos 16 candidatos que disputam o segundo turno. Por enquanto, apenas o vice-presidente Michel Temer deve gravar para todos e subir no palanque ao menos das capitais — Campo Grande, Florianópolis e Natal. A capital potiguar também deve contar com a presença de Edison Lobão (Minas e Energia) e Garibaldi Alves (Previdência Social), que já subiram no palanque de Hermano Moraes (PMDB) no primeiro turno. O partido também não deve atacar diretamente candidatos do PT. Em troca, terá Dilma e Lula na propaganda dos candidatos em cinco municípios, incluindo Florianópolis.

Esplanada itinerante

Confira por onde alguns ministros já passaram e as capitais em que pretendem intensificar o apoio aos candidatos que disputam o segundo turno

São Paulo - Fernando Haddad (PT)

Marta Suplicy (Cultura)

Aloizio Mercadante (Educação)

Alexandre Padilha (Saúde)

Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral)

Curitiba - Gustavo Fruet (PDT)

Gleisi Hoffmann (Casa Civil)

Paulo Bernardo (Comunicações)

 

Natal - Hermano Moraes (PMDB)

Edison Lobão (Minas e Energia)

Garibaldi Alves (Previdência

 

São Luís - Edivaldo Holanda (PTC)

Aldo Rebelo (Esporte)

 

Salvador - Nelson Pelegrino (PT)

Luiza Bairros (Igualdade Racial)

Aloizio Mercadante

Paulo Bernardo

Alexandre Padilha

Gilberto Carvalho

 

Prestígio restrito à capital federal

O prestígio do cargo de ministro de Estado nem sempre é capaz de assegurar a vitória nas urnas. O caso mais emblemático foi o da ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres Iriny Lopes (PT). Ela deixou a pasta para se dedicar à candidatura em Vitória, contando que, com a experiência na Esplanada, largaria na frente da disputa, mas não conseguiu sequer ter fôlego para o segundo turno. Mesmo apoiada pelo PSB do governador Renato Casagrande, a petista só conseguiu 18,41% dos votos. O PMDB, do vice-presidente Michel Temer, apoiou o tucano Luiz Paulo Velloso Lucas, segundo colocado, com 36,69%. Ele enfrentará Luciano Rezende (PPS), que somou 39,14%.

 

Outra ministra que amargou derrota foi a de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. A petista tentou levar seu capital político para Santa Catarina, seu reduto eleitoral. Concentrou-se em três cidades: além de Florianópolis, trabalhou para eleger seus candidatos em Blumenau e em Joinville. Na última, a ministra já contabilizava a derrota, já que o atual prefeito e seu apadrinhado, Carlito Merss (PT), teve o registro cassado e não se candidatou.

Em Blumenau, a petista Ana Paula Lima terminou em terceiro lugar, com 29,04%. A derrota mais lamentada pela ministra, entretanto, foi a da capital catarinense. Até dois dias antes do pleito, Ângela Albino (PCdoB) aparecia em segundo, com 23% das intenções dos votos. Depois de abertas as urnas, ela não atingiu votos nem sequer para ir ao segundo turno, e terminou atrás de Gean Loureiro (PMDB), que disputa o cargo com Cesar Sousa Júnior (PSD).

 

Gilberto Carvalho, mesmo sendo um petista histórico e titular de uma das pastas mais próximas da presidente Dilma Rousseff, a Secretaria-Geral, também não conseguiu ajudar sua apadrinhada. Seguindo à risca a orientação de Dilma, de não misturar ministério com militância, Gilberto aproveitou os horários fora do expediente — as noites depois do trabalho e os fins de semana — para tentar emplacar alguns de seus candidatos, entre eles a irmã Márcia Lopes, em Londrina (PR). Márcia, no entanto, não teve votos suficientes para avançar.

 

 

 

 
 recolher TECNOLOGIA
15/10/2012 
TECNOLOGIA
PARCERIAS COM EMPRESAS REFORÇAM A EMBRAPA

A inovação passa pelo conhecimento, próprio ou de terceiros. Com essa filosofia, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), referência internacional em pesquisa no campo, contribuiu — e muito — para fazer do Brasil uma potência agrícola. A estatal e seus pesquisadores se abrem a outras instituições, universidades e empresas. Dessas parcerias, saem sementes, estudos de solo, soluções para pragas e novos processos, que alavancaram a produtividade da agropecuária brasileira nas últimas décadas.

Tem a ver com o trabalho da Embrapa o aumento da produtividade do arroz e do milho, de 351% e de 304%, respectivamente, de 1975 a 2010. Assim como passa pela pesquisa da estatal o aumento da produção de grãos, de 228%, entre 1977 e 2011.

 

— Esse aumento da produtividade certamente tem a ver com a Embrapa, que monta seu plano de inovação a partir de alianças estratégicas — resume Filipe Teixeira, chefe da Assessoria de Inovação Tecnológica da Embrapa, que tem parcerias com empresas como Vale, Petrobras e Natura.

 

Dos cerca de 9.500 empregados da estatal vinculada ao Ministério da Agricultura, 2.300 — mais de 2 mil com doutorado — são pesquisadores de 47 unidades. Desses laboratórios saem projetos que vão da soja transgênica ao algodão orgânico. São pesquisas que, muitas vezes, ganham fama mundial, como os trabalhos em biocombustíveis, citados por publicações estrangeiras. Inovações que permitiram a criação de mais de 75 mil postos de trabalho, apenas em 2011.

 

Atualmente, a Embrapa dá prioridade a áreas como agroenergia, sustentabilidade, pragas e doenças, e melhoramento genético de, por exemplo, milho, soja, algodão e mandioca — A cada um real investido pela Embrapa, são gerados R$ 8,6 para a sociedade. Em 1997, eram R$ 3,6. O esforço tecnológico da Embrapa, junto com outras instituições, fez o Brasil sair de importador para exportador de alimentos — diz José Eustáquio Vieira Filho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

 

No ano passado, foram fechados 472 contratos de transferência de conhecimento, uma máxima histórica, e a Embrapa recebeu 93 prêmios.

E não são só as grandes safras que se beneficiam das inovações: a agricultura familiar está no foco. — Se a Embrapa não olhasse para esse contingente de produtores, como muitos críticos insistem em dizer, não investiria em feijão transgênico ou hortaliças — afirma José Eustáquio, do Ipea.

 

No Rio, a Embrapa criou um projeto-piloto para aproveitar 100% do maracujá. Da casca e da semente saem farelo e óleo, usados na indústria cosmética e em tratamentos fitoterápicos, conta o pesquisador Sergio Cenci.

 

Mas nem tudo são flores. O orçamento da Embrapa é curto. Neste ano, o repasse da União foi de pouco mais de R$ 2 bilhões — valor praticamente estagnado nos últimos anos, o que, segundo fontes, trava o desenvolvimento de vários projetos no país.

 

Sindicato critica foco nas corporações

 

Vicente Almeida, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), afirma que as parcerias da Embrapa com o setor privado vêm mudando o perfil da estatal, com o foco passando de produtores e consumidores para as grandes corporações. — A prioridade da Embrapa mudou. As empresas não têm compromisso com o desenvolvimento da região, são como nuvem de gafanhotos: vêm, consomem e vão embora.

Uma das consequências disso, segundo ele, é a queda significativa da participação daEmbrapa no mercado de sementes e mudas. Mas especialistas acreditam que isso tem a ver com a falta de apoio do governo, tornando inviável que a Embrapa concorra com multinacionais. Alguns defendem a privatização, mas há quem discorde:

— A Embrapa ajuda a difundir conhecimento, tecnologia. Privatizada, esse papel perderia o objetivo. Quem perde é o país — diz José Eustáquio. — A agricultura ainda é muito concentrada: 0,5% dos estabelecimentos agropecuários, os mais ricos, detêm 49% da produção nacional. E 70%, os mais pobres, respondem por apenas 3,9% da produção. Os desafios são enormes para corrigir essas distorções

 
15/10/2012 
TECNOLOGIA
TECNOLOGIA AINDA Á A GRANDE BARREIRA

Ethevaldo Siqueira

Colunista do Estado de S. Paulo

 

Competência tecnológica é uma das condições essenciais para que um país se torne competitivo no mundo. Nesse aspecto, o Brasil revela altos e baixos. Ou, mais precisamente, de poucos pontos altos e muitas limitações tecnológicas. Registremos em primeiro lugar as vantagens competitivas brasileiras nessa área.

 

Há pelo menos dois setores em que o país já conseguiu avanço tecnológico e razoável capacidade competitiva global. A agropecuária é um desses setores, graças, especialmente, ao notável trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de algumas universidades. Vale lembrar que o Brasil disputa hoje o primeiro lugar no mundo na produção de alimentos graças ao domínio da tecnologia nessa área, não apenas nos segmentos de produção, mas, também, em áreas correlatas de correção de solos, genética, agroenergia e diversas formas avançadas do uso de biotecnologia, nanotecnologia, geoprocessamento e sensoriamento remoto.

O segundo setor em que o país já alcançou maturidade tecnológica e alto grau de competitividade é o da indústria aeronáutica, com o extraordinário desenvolvimento da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). Aliás, a competência brasileira nessa área teve sua origem na criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em 1950, por iniciativa do marechal do ar Casimiro Montenegro.

 

A Embraer disputa a posição de terceira maior indústria aeronáutica do mundo e tem hoje pedidos em carteira da ordem de US$ 12,3 bilhões. Suas exportações anuais nos últimos anos têm alcançado a média de US$ 5 bilhões, quantia equivalente a mais de cem vezes o orçamento do ITA. Eis aí uma das provas do extraordinário retorno do investimento feito em educação acadêmica e formação de especialistas de alta qualidade.

 

É claro que o Brasil tem ainda centros de excelência em outras áreas, como a competência da Petrobras em prospecção e exploração de petróleo em águas profundas. Ou ainda as centenas de trabalhos pioneiros em genética e nanotecnologia conduzidos em laboratórios universitários em todo o país.

 

O que ainda falta. Todos esses avanços, entretanto, são insuficientes para que o Brasil se torne um país competitivo do ponto de vista tecnológico, inclusive em áreas industriais como a da eletrônica. Embora o país disponha, de longe, da maior reserva de silício de grau eletrônico do planeta, sua competência em microeletrônica ainda é muito baixa.

 

Nesse sentido, o déficit anual da indústria eletrônica brasileira poderá alcançar este ano a marca recorde de US$ 30 bilhões, considerando tudo que o país exporta nesse setor e o que importa em componentes, materiais, software e serviços. E, pior, esse déficit tende a crescer, segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

 

A indústria de software, embora tenha sido apontada como uma das mais promissoras há alguns anos, ainda não decolou como a da Índia, por não ter sido contemplada com a devida prioridade nos programas de desenvolvimento tecnológico do país.

 

Pouca pesquisa. Não há desenvolvimento tecnológico nem inovação sem permanente investimento em pesquisa e desenvolvimento. Esse é outro desafio que o país ainda não consegue enfrentar. E não é por falta de recursos específicos criados por lei para financiar o desenvolvimento tecnológico. Veja-se a situação dos fundos setoriais de telecomunicações, recolhidos pelas operadoras de telecomunicações: 1) Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust); 2) Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel); e 3) Fundo de Tecnologia de Telecomunicações (Funttel).

 

Em seu conjunto esses fundos recolhem anualmente mais de R$ 5 bilhões, de cujo total são confiscados mais de 80% e destinados ao sorvedouro do superávit fiscal. Ao longo dos últimos dez anos, o montante confiscado desses fundos pelo Tesouro Nacional superou os R$ 40 bilhões. Imaginem o salto para o país se esse valor total tivesse sido aplicado em pesquisa tecnológica em áreas estratégicas como microeletrônica e software.

 

Mão de obra. Como fabricar tablets e computadores avançados no país, de forma competitiva, sem a oferta de engenheiros e técnicos devidamente qualificados? Esse é o exemplo mais dramático do estrangulamento do desenvolvimento brasileiro, popularmente designado pela expressão “apagão da mão de obra”.

É claro que essa carência está relacionada a problemas de educação, pesquisa e formação de recursos humanos de alto nível.

 

 

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