Notícias dos principais jornais brasileiros (20-09-2012)

20/09/2012 17:09

 

AGRONEGÓCIO
AÇÃO DO INCRA É CRITICADA POR MOVIMENTOS SOCIAIS

Por Tarso Veloso | De Brasília

 

Movimentos sociais criticaram a postura do Incra em ter reduzido, nos últimos anos, o assentamento de famílias por meio da reforma agrária. De acordo com representantes de movimentos, a alta na qualidade de vida nos acampamentos, principal bandeira atual da autarquia, é obrigação do Estado, e não o principal objetivo. Segundo eles, nos últimos anos no Brasil houve concentração de terras, não divisão.

A grande maioria dos representantes de movimentos disse, em entrevista ao Valor, que preferiria uma alta no número de assentados ao invés de melhorias nos acampamentos já estabelecidos. Além disso, eles defendem que o governo defina metas de assentamento todos os anos. "Os movimentos querem metas de desapropriação. Temos que saber quantas pessoas serão assentadas todos os anos. O governo não pode simplesmente dizer que vai investir em estrutura e esquecer que existem 150 mil famílias morando embaixo de lonas no país. É importante ter estrutura para quem já foi assentado, mas não podemos abrir mão de assentar", disse o coordenador do núcleo Agrário do PT, deputado Valmir Assunção (BA).

 

"O ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, já tinha dado indicações que o governo manteria seus padrões de assentamentos, que são baixíssimos. No ano passado tivemos o pior índice em 16 anos e nesse ano deve ser pior ainda. Nessa hora o governo erra. Quem é que precisa mais do apoio do governo? Quem tem um emprego ou quem está sem o emprego? Quem está sem terra ou com terra?", questiona Assunção.

 

O secretário de Política Agrária da Contag, Willian Clementino, afirma que a função do Incra é "fazer ordenamento fundiário no país" e não política agrícola. "A melhoria dos acampamentos é um déficit que o Estado possui com os trabalhadores. O Incra está dizendo que vai fazer o que deixou de fazer historicamente. Porém, dessa forma não se efetiva a reforma agrária, que vai da obtenção de terra ao desenvolvimento das famílias. Habitação, eletrificação, assistência técnica, educação. Tudo isso é obrigação, mas o governo não pode escolher uma política em detrimento da outra continuando sua dívida com a sociedade", diz ele.

 

 

 

 


 
20/09/2012 
AGRONEGÓCIO
APOSTA FIRME EM ADUBOS ESPECIAIS

Por Carine Ferreira | De Campinas (SP)

 

A recente tendência de crescimento da demanda por fertilizantes especiais, capazes de ampliar a produtividade e a qualidade das lavouras, revigorou as perspectivas de negócios de mais uma empresa que durante anos encarou um mercado restrito para esses produtos no país.

 

Há uma década no Brasil, a Tradecorp, empresa de nutrição vegetal do grupo belga Sapec, confia no segmento para duplicar seu faturamento no país nos próximos três anos, para cerca de US$ 45 milhões. Paralelamente, planeja a construção de uma fábrica e estuda entrar no mercado de defensivos.

 

Criada na Espanha como Agtech, a companhia foi rebatizada como Tradecorp quando foi adquirida pelo Sapec, em 1985. No Brasil, já comercializa cerca de 40 produtos da área de micronutrientes e fertilizantes especiais, cuja aplicação pode ser concentrada em pontos que facilitam a absorção pelas plantas, o que eleva sua eficiência.

Cerca de 90% das vendas da empresa no Brasil são atendidas pelas unidades da Espanha e o restante por meio de parcerias com empresas locais. Por isso, a companhia avalia erguer uma fábrica no Brasil. Antes de instalar a filial brasileira, a Tradecorp trazia seus produtos diretamente da Espanha; hoje conta com 24 regionais instaladas em polos de produção agrícola.

 

Mário Fernando Franchi, diretor-geral da Tradecorp no Brasil, diz que a companhia não quer apenas crescer organicamente, mas com estratégia. "Trabalhamos com diferenciação para depois vendermos a melhor solução". Em 2012, prevê, o faturamento da Tradecorp no Brasil deverá aumentar cerca de 30% na comparação com 2011, para entre US$ 20 milhões e US$ 22 milhões. A expectativa é que esse montante dobre até 2015. Desde 2006, o crescimento médio registrado pela empresa no Brasil é de 40% ao ano, conforme Franchi.

Os investimentos no país somaram cerca de €10 milhões nos últimos anos. Franchi explica que, somente no ano passado, os acionistas passaram a ter retorno. Para os próximos três anos, ele estima que os aportes industriais e em pesquisa e desenvolvimento deverão superar a marca de €10 milhões. Outro foco da empresa é inovação tecnológica. Atualmente, cerca de 20% do resultado da companhia provém de vendas de produtos com menos de cinco anos no mercado, informa Luiz Fernando Schmitt, diretor comercial da Tradecorp. As pesquisas são realizadas em um laboratório próprio na Espanha e com parceiros no Brasil. Na Índia, há pesquisadores envolvidos no desenvolvimento de novas moléculas de defensivos.

Franchi, o diretor-geral da Tradecorp, acena, ainda, com a possibilidade de que a expansão da empresa leve à construção de unidades industriais também no México e na região da Ásia/Pacífico, além do Brasil. Com duas fábricas na Espanha, a Tradecorp atua em 64 países na Europa, África, América Latina e Ásia/Pacífico. Desde o segundo semestre deste ano, o Brasil - que responde por cerca de 25% da receita da Tradecorp Internacional - é a sede da companhia para a América Latina.

 

Além dos planos de expansão no Brasil, a Tradecorp enuncia que pode fazer parcerias ou comprar outras empresas. "O grupo está sempre aberto a joint ventures ou a aquisições que estão sendo estudadas", considera Franchi. Na frente dos defensivos, a Tradecorp já aguarda no Brasil a aprovação de alguns produtos. A Sapec Agro mantém sociedade com uma empresa em Macau, na China, para o desenvolvimento e produção de moléculas genéricas para defesa vegetal.

O conglomerado familiar, com sede em Portugal, só perde em defensivos na Península Ibérica para as grandes multinacionais. Com forte presença no agronegócio, que representa cerca de 30% da receita do grupo, o Sapec é uma holding industrial e de serviços que atua também em segmentos como logística e distribuição, tratamento de resíduos, energias renováveis e no ramo imobiliário.

Listado na bolsa de Bruxelas e com faturamento global de € 516,1 milhões (2011), o grupo é controlado pela família belga Velge e tem como sócios um grupo de investidores da Bélgica e o Banco Espírito Santo.

 

 

 

 
20/09/2012 
AGRONEGÓCIO
MAIS TECNOLOGIA DAS MULTINACIONAIS NO AGRONEGÓCIO

Luiz Silveira ESPECIAL PARA O ESTADO

 

Ainda que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e outras instituições públicas tenham tido um papel fundamental no aumento da produtividade do agronegócio do Brasil nos últimos 40 anos, hoje empresas internacionais estão ocupando cada vez mais espaço no desenvolvimento da inovação no setor. A estabilidade econômica e a criação de marcos regulatórios nos últimos 15 anos estimularam as grandes multinacionais de tecnologia agrícola, habituadas a apenas adaptar aqui as invenções de suas matrizes, a ampliar os investimentos em pesquisa básica no Brasil.

 

Empresas como Monsanto, DuPont, Sygenta, Dow AgroSciences já planejam investimentos que chegam a centenas de milhões de reais nos próximos anos. Os projetos abrangem desde sementes tolerantes a herbicidas a defensivos agrícolas específicos para a cana de açúcar; “biofábricas” capazes de produzir mudas em escala; variedades de grãos, capim e cana de açúcar mais adequadas à produção. Já a DuPont investiu US$ 11 milhões nos últimos cinco anos em seu centro de pesquisa em Paulínia (SP), que atende também segmentos não agropecuários da companhia.

 

No caso da Monsanto, a empresa chegou a aumentar seus aportes em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no País de US$ 30 milhões em 2007 para mais de US$ 82 milhões (R$ 170 milhões) em 2011. Nos próximos meses, a empresa vai lançar comercialmente a primeira semente transgênica desenvolvida por uma multinacional exclusivamente para o mercado brasileiro, uma soja tolerante a herbicida e resistente a lagartas, batizada de Intacta RR2 Pro. “A propriedade intelectual é protegida no Brasil, e isso determina onde investimos em pesquisa e desenvolvimento”, diz o diretor de regulamentação da Monsanto, Geraldo Berger.

 

Produção de alimentos. De outro lado, a estabilização da economia contribui para atrair capital para inovação, diz o diretor de pesquisa e desenvolvimento(P&D) em defesa fitossanitária da DuPont para a América Latina, José Evanil. Há menos de dois anos, a filial brasileira lançou um defensivo agrícola desenvolvido exclusivamente para a cana-de-açúcar. A companhia, tradicional no setor químico, investe hoje 62% de seus recursos de P&D em tecnologias que aumentam a produção de alimentos. “O Brasil é o país que recebe a maior parte desses recursos depois dos Estados Unidos”, afirma Evanil. “Temos colaborado em pesquisas básicas, principalmente em café, cana-de-açúcar e ferrugem asiática da soja”, relata ele.

 

Já a pesquisa voltada ao cultivo da cana de açúcar tornou-se mais atraente ante a busca pela substituição dos combustíveis fósseis. Nesse contexto a Syngenta, líder em agroquímicos, criou integralmente no Brasil uma nova tecnologia de plantio mecanizado de cana-de-açúcar. E, em junho, a empresa lançou a primeira “biofábrica” de cana do mundo, em Itápolis (SP), com investimento de US$ 100 milhões. “Temos previsão de contratos de US$ 300 milhões nos próximos cinco a seis anos para essa tecnologia”, afirma o diretor de marketing de cana da Syngenta, Adriano Vilas Boas. A biofábrica da Syngenta produz toletes de cana que são tratados em laboratório contra doenças e pragas.

 

Syngenta e Monsanto também têm investido na pesquisa básica de canas transgênicas no Brasil nos últimos cinco anos. Em 2008, a Monsanto adquiriu as empresas de tecnologia de cana Allelyx e CanaVialis, do grupo Votorantim, por US$ 290 milhões em valores da época. A Allelyx é o braço de biotecnologia que busca a cana transgênica, enquanto a CanaVialis já comercializa variedades de cana melhoradas.

 

Oportunidade. A produtividade média da cana na América Latina cresceu uma vez e meia nos últimos 50 anos, enquanto nos grãos o aumento foi superior a duas vezes e meia, destaca Vilas Boas, da Syngenta. Para ele, é exatamente nesta lacuna que se encontra uma boa oportunidade de mercado.
 

 

FOCO NA CELULOSE DO BAGAÇO DA CANA

Nos planos da Graalbio até palha deixada no campo pode virar álcool Produzir combustíveis e bioquímicos a partir da celulose do bagaço da cana-de-açúcar é a meta da Graalbio, empresa criada há pouco mais de uma ano, que anunciou em maio a construção de uma usina de etanol celulósico de R$ 300 milhões em Alagoas. Outros US$ 200 milhões estão previstos para bancar pesquisa e desenvolvimento nos próximos cinco anos, incluindo o custeio das equipes e a compra de tecnologias.

 

De R$ 15 milhões a R$ 20 milhões serão aplicados no melhoramento genético para obter uma cana com alto teor de celulose. Esse, aliás, é um nicho inexplorado. Até hoje, todo o melhoramento da cana foi voltado ao aumento do teor de açúcar, e não de celulose. Nos planos da Graalbio, além do bagaço, também a palha da cana poderá virar álcool, por meio de um sistema para colher o subproduto hoje deixado no campo.

 

A empresa tem como acionistas membros da família Gradin, ex-sócios da Odebrecht. E usará tecnologias próprias e de terceiros, e um consórcio de pesquisa com a Unicamp. Em contraste com outras startups de biotecnologia que estão se instalando na região, a Graalbio tem como objetivo dominar todo o processo de produção de químicos a partir da celulose da cana, e não apenas fornecer a tecnologia.

Segundo o empresário Bernardo Gradin, neste primeiro momento, a Graalbio “vai utilizar um modelo de parcerias com usinas para provar que as suas tecnologias funcionam”. /L. S.

 

 

 

 
20/09/2012 
AGRONEGÓCIO
PRODUÇÃO DE CARNE DE FRANGO VAI ENCOLHER NO PÁIS EM 2012

A crise enfrentada pela avicultura brasileira devido à escassez de oferta de grãos, à disparada nos preços de milho e soja e à falta de crédito para produtores e indústrias deverá provocar em 2012 a primeira queda da produção do segmento pelo menos desde 2000. Segundo o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, o volume deverá ficar 1 milhão de toneladas abaixo das 13,1 milhões de toneladas de carne de frango produzidas em 2011. As exportações também deverão cair, 10%, na primeira retração desde 2006, acrescentou o dirigente, que fez palestra ontem na Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul (Federasul).

Ressaltando que não prega restrições às exportações de milho, Turra disse que o país poderá ter de estabelecer alguma "regulação" sobre os embarques do grão - que compõe dois terços da ração usada na alimentação das aves - para "manter a indústria funcionando e preservar empregos", numa referência às mais de 5,7 mil demissões registradas no segmento nos últimos quatro meses. Segundo ele, a desoneração da folha de pagamentos estendida para o ramo na semana passada "ajuda", mas a "sobrevivência" dos frigoríficos depende de ração e crédito.

 

Provocada pela quebra da safra americana, a corrida de importadores pelo milho brasileiro deve reduzir os estoques de passagem no país a 4,4 milhões de toneladas no início de 2013, um nível "perigoso" em comparação com as 14,2 milhões de toneladas do começo de 2012, disse Turra. Por conta disto, o Ministério da Agricultura e a Conab já começaram a "monitorar" os embarques de milho e também de soja, explicou.

 

Segundo o presidente da Ubabef, o sinal vermelho acendeu em agosto, quando as vendas externas de milho cresceram 81,1% sobre o mesmo mês de 2011, para quase 2,8 milhões de toneladas. Depois disso, as exportações já atingiram 1,5 milhão de toneladas nas duas primeiras semanas de setembro e deverão manter uma média mensal de 3,8 milhões no quarto trimestre, prevê o dirigente.

 

Com a demanda externa aquecida, Turra reforçou o pedido para que o governo amplie os leilões de Prêmio de Escoamento da Produção (PEP) para levar o milho do Centro-Oeste até a região Sul, que foi mais atingida pela estiagem na última safra e onde se concentra a maior parte da indústria avícola brasileira. "Se não houver agilidade o destino deste milho será o porto".

 

Outra reivindicação do segmento é pela liberação de crédito para capital de giro para pequenas e médias empresas, que enfrentam dificuldades para financiar a aquisição de insumos, além da extensão, para os criadores integrados, da prorrogação dos empréstimos concedidos aos não integrados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Segundo Turra, a exclusão dos produtores vinculados às indústrias, que representam 90% do segmento no país, foi um "equívoco" e deve ser corrigido.

 

Conforme o presidente da Ubabef, sem apoio oficial o milho que custa R$ 18 a saca no Centro-Oeste chega ao Sul entre R$ 32 e R$ 34, o que representa uma alta de 44% desde o início do ano. No caso do farelo de soja, os preços passaram de R$ 600 para quase R$ 1,4 mil a tonelada no período. Segundo ele, pelo menos 18 empresas da área no país estão "em situação de dificuldade", incluindo a paranaense Diplomata, que já pediu recuperação judicial.

 

Além disto, segundo Turra, com os custos em alta os preços da carne de frango no mercado interno já subiram 25% desde janeiro e deverão ser elevados em mais 10% a 15% até o fim do ano. O mesmo vale para o preço médio dos produtos exportados, que foi de US$ 1,9 mil a tonelada em agosto, mas deve chegar à faixa dos US$ 2,2 mil em dezembro, influenciado pela redução da oferta dos Estados Unidos, o maior concorrente do Brasil no mercado externo.

 

Com isso, apesar da queda projetada de 10% no volume das exportações brasileiras neste ano em comparação com as 3,9 milhões de toneladas de 2011, a retração nas receitas deverá ser de 7% ante os US$ 8,2 bilhões de 2011. De janeiro a agosto, o volume cresceu 0,94%, para 2,6 milhões de toneladas. Se o recuo das vendas físicas ao exterior se confirmar no acumulado do ano, será a primeira queda desde 2006, quando o surto de gripe aviária reduziu o consumo mundial do produto.

 
20/09/2012 
AGRONEGÓCIO
SUPERÁVIT DE AÇÚCAR PODE CAIR EM 2012/2013

Ainda que a maior parte das consultorias esteja prevendo um superávit mundial de açúcar na safra 2012/13 maior ou semelhante ao registrado no atual ciclo, que se encerra em setembro, começam a surgir projeções de que a próxima temporada pode ser de queda desse volume. Problemas climáticos na Índia, menor excedente exportável na União Europeia e maior demanda de importação da Rússia ajudam a justificar o cenário. O fato é que o mercado parece atirar no escuro. A diferença entre os números de superávit de açúcar divulgados até agora variam de 3 milhões a 9 milhões de toneladas.

A consultoria brasileira Datagro é a que traz, até agora, o menor número de superávit global. A empresa divulgou ontem que esse volume recuará 50,7% em 2012/13, para 3,06 milhões de toneladas. Depois da Datagro, a menor projeção de superávit, segundo fontes tradicionais do setor, é da Organização Internacional do Açúcar, que estimou em agosto uma sobra global 13% maior, de 5,86 milhões de toneladas no ciclo vindouro.

 

Além das conjunturas de outros países produtores, o presidente da Datagro, Plínio Nastari, acredita que a provável volta da mistura de 25% do anidro na gasolina no Brasil em 2013 trará uma pressão menor sobre o açúcar no país. "Se o retorno se confirmar, a demanda pelo biocombustível crescerá 2 bilhões de litros e pressionará menos a commodity", acredita Nastari.

 

Ele pontua, ainda, a perspectiva de um mercado externo mais robusto para o etanol de cana brasileiro - os EUA devem demandar 6,6 bilhões de litros do biocombustível em 2013. "Esse é o mandato americano para o etanol avançado no ano que vem. Obviamente, não haverá produto brasileiro suficiente para atendê-lo, mas certamente a oferta aqui disponível receberá prêmios atraentes sobre o preço", diz Nastari.

 

A consultoria não tem estimativa para a safra nacional do ano que vem, a 2013/14. "Mas, certamente será maior, dada a renovação e expansão de canavial feitas". Para este ciclo no Centro-Sul, iniciado em maio, no entanto, a Datagro revisou para cima a moagem de cana - de 508,7 milhões para 512,13 milhões de toneladas, reduziu em 1,36 milhão de toneladas a produção de açúcar, para 31,34 milhões, e elevou em 200 milhões de litros, para 20,51 bilhões de litros, a expectativa de produção de etanol.

 

Apesar do peso da conjuntura no Brasil - maior produtor mundial da commodity com um excedente exportável de 23,5 milhões de toneladas até abril de 2013, segundo a Datagro -, a aposta da consultoria na queda do superávit global tem por trás uma avaliação da condição dos outros países-chave do mercado mundial de açúcar, de acordo com Nastari.

 

Por isso, pela primeira vez a empresa enviou equipe própria de agrônomos para vistoriar in loco os canaviais indianos, o segundo maior produtor de açúcar do mundo. Por causa da seca prolongada no país, o diagnóstico neste momento, afirma ele, é de recuo de expressivos 2,35 milhões de toneladas, para 23,8 milhões de toneladas. "Por isso, a Índia deve ficar de fora do mercado de exportação".

Na União Europeia, a produção deve cair de 19,4 milhões para 18,3 milhões de toneladas, reduzindo também o excedente exportável em 2 bilhões de toneladas, devido aos menores estoques do bloco, na avaliação da Datagro. Na Rússia, o maior cliente do açúcar brasileiro, a produção passará de 5,1 milhões para 4,7 milhões de toneladas.

Na contramão está a China, cuja produção vai saltar de 11,52 milhões de toneladas para 13,75 milhões de toneladas, o que fará com que o país importe em 2012/13 apenas 2 milhões, em vez das 3 milhões de toneladas realizadas em 2011/12. A Tailândia, segundo a Datagro, seguirá como grande concorrente do Brasil com exportação de 8 milhões de toneladas, ante as 7,4 milhões de 2011/12.

 

ETH anuncia convênio de R$ 20 milhões com a Fapesp

 

Por De São Paulo

Daniel Wainstein/Valor"O orçamento anual da ETH para pesquisa e desenvolvimento deve subir para níveis de R$ 50 milhões em dois anos", diz Calmanovici, diretor da companhia

 

A ETH Bioenergia, empresa sucroalcooleira do grupo Odebrecht, firmou com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) convênio para destinar até R$ 20 milhões para pesquisas voltadas a melhorar a produtividade agrícola e industrial da cana-de-açúcar, assim como agregar valor à biomassa dessa matéria-prima. Nessa primeira fase, foram ofertados R$ 10 milhões e selecionados 11 projetos de instituições de pesquisa do Estado.

 

Essas pesquisas representam uma parte entre todos os projetos que vêm sendo desenvolvidos pelo departamento de Inovação e Tecnologia da ETH, criado há dois anos. O orçamento anual dessa área, até agora na casa dos R$ 5 milhões, deve alcançar nos próximos 24 meses R$ 50 milhões anuais, estabilizando-se nesse patamar, segundo o diretor de Inovação da ETH, Carlos Eduardo Calmanovici. "Há um grande foco na área agrícola, em ganho de competitividade na biomassa da cana. Também na busca de excelência operacional", resume o executivo.

 

Além dos projetos em parceria com a Fapesp e de programas próprios de pesquisa, a ETH teve cinco projetos selecionados no programa PAISS, liderado pelo BNDES e pela Finep para financiar projetos de inovação a partir do uso da biomassa da cana. Conforme Calmanovici, os detalhes dos projetos e os acordos de parcerias estão sendo costurados e, portanto, não podem ser divulgados neste momento. Ele apenas informa que a maior parte dos planos de negócios contemplam o desenvolvimento de tecnologias para o etanol celulósico.

 

Das demandas totais da ETH no PAISS, cerca de R$ 60 milhões se referem a projetos da área de pesquisa e desenvolvimento. Há ainda, segundo ele, projetos industriais no programa que significarão aportes mais robustos de recursos, no entanto, ainda não dimensionados com precisão.

Dentro do convênio entre ETH e Fapesp, os recursos serão divididos em 50% para cada parte. Conforme o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, entre os temas dos projetos selecionados estão o genoma da cana, resistência a estresse hídrico, aumento da produtividade e uso de resíduos. Do total de onze selecionados, sete são da área agrícola, e quatro da industrial.

 

Com sete usinas de cana no Centro-Sul do Brasil, a ETH Bioenergia deve processar no ciclo 2012/13 em torno de 20 milhões de toneladas de cana, produzir 578 mil toneladas de açúcar e cogerar 1,297 gigawatts/hora de energia. Criada para ser a maior produtora de etanol do país, a companhia deve fabricar neste ciclo cerca de 1,4 bilhão de litros do biocombustível.

 

Desde que foi criada, em 2007, a ETH investiu mais de R$ 8 bilhões para implantar suas nove usinas de cana. Na safra encerrada em 31 de março, a empresa registrou receita líquida de R$ 1,45 bilhão e amargou prejuízo de R$ R$ 793,05 milhões. (FB)

 
20/09/2012 
AGRONEGÓCIO
VIAVÉM DAS COMMODITIES

Oferta de açúcar e álcool fica estável nesta safra O Brasil colherá um volume maior de cana na safra 2012/13, mas o rendimento será menor. O resultado final é uma oferta praticamente estável de açúcar e de álcool.

Segundo estimativa da consultoria Datagro, serão processadas 572,63 milhões de toneladas de cana nesta safra, aumento de 2,6% em relação à anterior. A região Centro-Sul, principal produtora, será a responsável pela melhora, com crescimento de 3,8% no processamento de cana, para 512,13 milhões de toneladas.

No Nordeste, haverá queda de 8%, reflexo da seca que castigou a região neste ano. Esse ganho no Centro-Sul, porém, não será revertido em maior oferta de açúcar e de etanol, pois a quantidade de açúcar na cana será 0,8% menor, na média nacional.

O clima seco em agosto e em setembro fez evaporar a umidade da cana, reduzindo o peso e a quantidade de açúcar, explica Plínio Nastari, presidente da Datagro. Assim, a produção de açúcar ficará estável em relação à anterior, em 36 milhões de toneladas, dos quais 22 milhões estarão disponíveis para a exportação. Já a produção de etanol cairá 0,9%, para 22,4 bilhões de litros.

As usinas substituirão parte da produção de etanol hidratado por etanol anidro, que é misturado à gasolina e está com preços mais remuneradores ao produtor. A Datagro estima aumento de 7,2% na produção de álcool anidro, para 9,2 bilhões de litros, enquanto a oferta de hidratado cairá 5,9%, para 13,2 bilhões de litros.

No próximo ano, a necessidade de elevar a produção de álcool anidro será maior. Segundo Nastari, serão necessários 2 bilhões de litros adicionais de anidro caso o esperado aumento da mistura de etanol à gasolina, dos atuais 20% para 25%, seja confirmado em 2013.

Para produzi-los, será necessário moer mais 25 milhões de toneladas de cana. "A produção está em recuperação e o plantio da cana foi feito. Mas o potencial de oferta vai depender das condições climáticas", afirma.

Orgânicos 
Apesar da crise econômica vivida pela Itália, o consumo de produtos orgânicos, em geral mais caros do que os tradicionais, continua crescendo, segundo o Ismea (instituto para produtos e serviços orgânicos).

Quanto cresce

 A evolução do consumo foi de 6% no primeiro semestre deste ano, após uma evolução de 9% em 2011. Cresceu também o número de famílias que consomem orgânicos. Passou de 71,5% do total do país, em 2010, para 75,5% no ano passado.

A Itália é um dos principais países envolvidos na produção e no consumo de orgânicos. São 38 mil produtores, que cultivam uma área de 1 milhão de hectares, segundo dados do Sinab (sistema de informação sobre produtos orgânicos).

Lá fora 

Com a divulgação de estoques altos nos EUA, o petróleo tipo Brent caiu 3,4% ontem, para US$ 108,19 por barril. Em NY, o barril fechou em US$ 91,98, queda de 3,5%.

Energia 
Os cinco confinamentos da JBS geram 100 mil toneladas de esterco por ano. A empresa vai utilizar esse produto para a geração de energia, substituindo parte do bagaço de cana e da madeira nas caldeiras.

É viável

Fernando Saltão, diretor de confinamentos do JBS, diz que o processo é viável e que as empresas do grupo já o utilizam nos EUA.

 
 recolher BIODIVERSIDADE
20/09/2012 
BIODIVERSIDADE
QUANDO A BIODIVERSIDADE AJUDA A MATAR A FOME

Fernando Reinach

 

Quase 80% das calorias ingeridas pela humanidade têm origem em poucos vegetais. Se de repente o milho, a soja, o trigo e o arroz desaparecessem, provavelmente grande parte da humanidade morreria de fome em semanas. E, se você pensa que poderia sobreviver comendo um franguinho assado, lembre que um frango nada mais é que milho e soja empacotados na forma de ave. Na Ásia, essa dependência é ainda maior, pois grande parte da população obtém a maioria de suas calorias apenas do arroz.

Nossa dependência de um reduzido número de espécies ocorreu há uns 15 mil anos, com a descoberta da agricultura. Essa tecnologia permitiu a seleção de variedades cada vez mais produtivas de algumas poucas espécies de vegetais. Deixamos de vagar pelas planícies e comer um pouco de cada uma das centenas de vegetais disponíveis para nos alimentar exclusivamente das espécies domesticadas.

Nos últimos cem anos, muitas novas espécies da biodiversidade foram introduzidas no processo produtivo agrícola, mas nenhuma tem a chance de substituir os cereais clássicos. Esse fato tem levado muitos cientistas a duvidar da existência de outras espécies no planeta que possam um dia reduzir nossa dependência desses poucos vegetais. Agora, uma nova descoberta demonstra que existe valor nutricional na biodiversidade, mas não na forma de novas espécies e sim na forma de novas características.

Há muitos anos se sabe que o arroz plantado em todo o mundo tem uma capacidade muito baixa de absorver fósforo. O fósforo, junto com o potássio e o nitrogênio, é um dos principais nutrientes que as plantas precisam retirar do solo para poderem fazer fotossíntese. No início da agricultura, a humanidade utilizava somente solos ricos em nutrientes, pois as bocas a serem alimentadas eram poucas. Mas, ao longo dos últimos 200 anos, a população explodiu e a produção de alimentos teve de se expandir para solos mais pobres.

Além disso, muitas das áreas intensamente cultivadas - e às vezes pouco cuidadas - se tornaram menos férteis. Felizmente, descobrimos como produzir fertilizantes. Mas, se por um lado eles são usados de maneira abusiva em algumas áreas, os fertilizantes químicos são caros demais para muitas populações. No caso do fósforo, o problema é mais sério, pois as reservas conhecidas desse mineral são limitadas e não vão durar para sempre.

 

O fato é que grande parte das plantações de arroz que alimentam a Ásia possui baixa produtividade por causa da falta de fósforo no solo. Pior: quando existe somente um pouco de fósforo no solo, as variedades de arroz mais plantadas não são capazes de absorvê-lo.

Solução. Há alguns anos, um grupo de cientistas resolveu buscar uma solução para esse problema na diversidade de variedades remanescentes dos tipos antigos de arroz. Analisando esses cultivares abandonados há centenas de anos, eles descobriram, no oeste da Índia, uma variedade denominada kasalath, que, apesar de ter vários problemas, possuía uma grande qualidade: era capaz de crescer em solos com pouco fósforo.

 

Após muitos anos de pesquisa, o gene responsável por essa característica, chamado de PSTOL1, foi descoberto, isolado e agora, finalmente, um arroz transgênico contendo esse gene foi produzido. E, para a felicidade dos cientistas (e da humanidade), ele é capaz de crescer na presença de muito menos fósforo.

 

O interessante é que esse gene não está presente em nenhuma das variedades modernas de arroz, portanto não está na sequência do genoma do arroz que foi determinada há alguns anos. Por isso, ninguém suspeitava de sua existência.

 

Mas como ele teria desaparecido das variedades modernas de arroz? Cientistas creem que nossos ancestrais, quando selecionaram suas variedades, cruzando as espécies nativas e selecionando as mais produtivas, fizeram esses testes em regiões onde a terra era muito fértil e rica em fósforo. Nessas condições, esse gene não influencia na produtividade da planta - portanto, seu efeito não foi detectado pelos agricultores primitivos. O resultado é que as variedades modernas acabaram sem o gene e sua falta só foi notada quando a cultura do arroz se espalhou para áreas pobres em fósforo.

O plano é cruzar as variedades modernas com a kasalath e produzir novas variedades comerciais, menos dependentes de fósforo. Com isso, será necessário menos adubo, o custo de produção deve cair e, se tudo der certo, talvez menos pessoas passem fome.

O mais importante é o que essa descoberta nos ensina o valor da biodiversidade. Se os agricultores do oeste da Índia não tivessem preservado toda as formas primitivas de arroz (sua biodiversidade), esse gene teria se perdido. É um bom exemplo de como existe valor real na biodiversidade e por que é tão importante preservar variedades e espécies que aparentemente não têm utilidade direta para os humanos.

* BIÓLOGO MAIS INFORMAÇÕES: THE PROTEIN KINASE PSTOL1 FROM TRADITIONAL RICE CONFERS TOLERANCE OF PHOSPHORUS DEFICIENCY. NATURE, VOL. 488, PÁG. 535, 2012

 

 

 

 
 recolher ECONOMIA
20/09/2012 
ECONOMIA
CENÁRIOS PARA O ATLÂNTICO NORTE

Valor pediu-me para traçar cenários com horizonte no desfecho da crise que aflige os países do Atlântico Norte desde o evento de crédito de setembro de 2008. Como infelizmente não sou dotado de bola de cristal, o que consigo fazer é, a partir de um particular entendimento dos processos que originaram a aguda crise do "subprime" e dos desequilíbrios que foram criados por estes mesmos processos, traçar uma possível sequência de fatos que me parecem sejam logicamente conectados com a dinâmica anterior. Assim, a maior parte do artigo será dedicada a esclarecer ao leitor minha leitura dos processos que colocaram os dois lados do Atlântico Norte onde hoje se encontram. Em seguida apontarei qual é a minha aposta para a dinâmica futura.

Estados Unidos

Na primeira metade dos anos 1990, a trajetória de crescimento da economia americana passou a ser muito mais suave do que tinha sido no pós-guerra. A menor oscilação do produto americano em torno da tendência de longo prazo pode ser atribuída, ao menos em parte, a um melhor entendimento do manejo dos instrumentos de política monetária. Este entendimento gerou o pacote formado por independência dos bancos centrais, emprego da taxa básica de juros para estabilizar a inflação em torno de uma meta e o estabelecimento de diversos mecanismos de comunicação da autoridade monetária com a sociedade.

Além dos avanços na engenharia monetária, o mundo assistia desde a conversão da China no fim dos anos 1970 para uma economia de mercado, o fenômeno mais marcante do capitalismo desde provavelmente a revolução industrial da virada do século XVIII para o XIX, na Inglaterra.

O forte crescimento chinês baseado no investimento e na capacidade colossal de poupar de sua sociedade inundou o mundo de recursos excedentes. Por alguns anos da década de 2000, a China exportou poupança da ordem 10% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês. Esta enorme capacidade de poupar em excesso a sua necessidade para o financiamento do investimento local contribuiu para reduzir os juros internacionais.

Adicionalmente, em 2004, foram implantados os parâmetros de regulação bancária prudencial conhecidos por Basileia 2. O principal parâmetro da regulação bancária é a razão de capital dado pelo patrimônio do banco como proporção do crédito que o banco carrega em seu ativo. Quanto maior esta razão mais seguro será o banco pois mais capital próprio terá para fazer frente a imprevistos.

Para aferir o total de crédito que uma instituição financeira carrega em seu balanço, Basileia 2 estabeleceu que os diversos tipos de créditos fossem ponderados pelo respectivo risco. Essencialmente, o risco de um ativo é dado pela variabilidade do seu preço no mercado secundário. Em uma conjuntura de juros em queda, com baixa volatilidade da trajetória de crescimento das economias centrais, a variabilidade dos preços dos ativos reduziu-se muito, reduzindo os pesos para diversas classes de ativos com vistas ao cálculo da razão de capital. Pelos critérios de Basileia 2, a capacidade dos bancos originarem crédito cresceu muito. Este componente regulatório contribui para que os "spreads" entre as taxas básicas de juros e as demais taxas dos ativos de maior risco reduzissem muito no período. Assim, a primeira década do século XXI apresentou juros em queda e spreads em queda.

A redução do custo de capital induziu a um processo de acumulação de passivos nos EUA. Desde os anos 1990, a dívida das famílias americanas elevou-se. Um forte processo de desregulação bancária iniciado em meados dos anos 1970, uma estrutura de incentivos na gestão das empresas financeiras americanas que estimulou a excessiva assunção de risco por parte dos executivos e inúmeros problemas de incentivos das empresas de ratings, além de fortíssima pressão política para que o custo do crédito imobiliário fosse o menor possível fizeram com que nos anos 2000 iniciasse a bolha imobiliária conhecida como "subprime".

A leve tendência de elevação da dívida das famílias dos anos 1990 transformou-se em verdadeiro surto de endividamento. Em poucos anos a dívida bruta das famílias cresceu de 60% do PIB, no início da década de 2000, para algo próximo a pouco menos de 100% do PIB em 2008!

Evidentemente parte do problema ficava escondido pois a valorização dos imóveis e das ações das empresas nas bolsas elevava a riqueza das famílias de sorte que o crescimento do endividamento líquido das famílias parecia ser muito menor. Até que a queda dos preços dos imóveis e da cotação da bolsa mostrasse a realidade da situação das famílias.

Um problema que tem dificultado muito a política econômica americana é o elevado nível de endividamento do setor público. Trata-se de mais uma herança maldita dos anos 2000 que tem imobilizado a economia americana nos últimos anos. A crise de 2008 colocou em discussão o conhecimento da teoria econômica além do funcionamento da própria academia. Há hoje o reconhecimento que houve excessos com relação ao uso acrítico de diversos resultados da teoria. O exemplo mais patente foi a crença nos resultados da teoria da precificação eficiente dos mercados financeiros que foi utilizado como argumento para uma liberalização excessiva dos mercados financeiros e uma crença excessiva na auto regulação dos mercados financeiros.

Também houve comportamentos promíscuos de diversos acadêmicos de primeira grandeza que defenderam interesses econômicos utilizando-se a neutralidade do conhecimento 'científico' como biombo para a defesa de interesses econômicos circunscritos. É verdade que tudo isto ocorreu e a academia está revendo diversos de seus procedimentos como está em curso também todo um processo de construção legislativa corrigindo os excessos da desregulação dos anos 1980 e 1990.

Retomando o fio da meada do parágrafo anterior cuja chegada será a política fiscal americana, se é verdade que parte dos excessos que produziram a crise pode ser debitada na conta da academia internacional também é verdade que boa parte dos problemas que hoje enfrentamos foi devido à inobservância de alguns princípios básicos de livro texto. Este é o caso da política fiscal americana.

A primeira década do século foi um período de forte crescimento na economia americana. Um princípio elementar de política fiscal é que ela deve ser contracíclica: nos anos das vacas gordas a dívida pública tem que ser reduzida. Ao chegar as vacas magras a dívida como proporção do produto será pequena o suficiente de sorte que a autoridade fiscal de bala na agulha para injetar demanda se for necessário.

A economia de mercado na China é o fenômeno mais marcante do capitalismo desde a revolução industrial

A resposta americana ao ataque às torres gêmeas foi iniciar uma série de guerras que foram financiadas com a elevação do endividamento público. O livro texto de finanças públicas diria que nas circunstâncias dos anos 2000 as guerras teriam que ter sido financiada com elevação de impostos. A economia americana na entrada do período agudo da crise no final de 2008 apresentava dívida na casa de 70% do PIB o que dificultou o enfrentamento da crise.

Europa

Exatamente no início da primeira década do século a Europa lançava sua moeda única, o euro, criando a união monetária. O euro apresentou pelo menos três erros de arquitetura. Primeiro, não se construiu previamente a união bancária. Um dos efeitos da união monetária foi a convergência das taxas de juros.

A convergência das taxas em uma união monetária produz fortíssimas interconexões entre os diversos sistemas bancários. Ativos e passivos dos sistemas bancários dos diversos países acumularão papéis de outros sistemas bancários. É necessário haver uma centralização da regulação prudencial com uma legislação unificada de falência bancária dando poderes ao regulador de intervenção e liquidação de bancos com regras claras de precedência sobre a massa falida. Adicionalmente o regulador com poder de liquidação tem de ser dotado de um fundo garantidor de crédito de forma a garantir o regular funcionamento do sistema bancário por ocasião de um evento de falência de alguma instituição financeira.

O segundo erro de arquitetura do euro foi não haver previamente a construção da união fiscal. Uma lista mínima sugere que a entidade fiscal europeia tinha que ao menos ter alguma poder de tributação para financiar o fundo garantidor de crédito - pode ser como ocorre no Brasil por meio de algum imposto sobre operações financeiras - e para financiar o seguro desemprego. Em uma união monetária é irracional que os tesouros das unidades que a formam sejam responsáveis por um gasto que seja totalmente associado ao ciclo econômico.

Evidentemente a criação de um seguro desemprego Europeu exigiria a harmonização das regras nacionais de acesso, prazos, remuneração e contrapartidas requeridas ao desempregado com acesso ao programa.

O terceiro erro foi regulatório. Por isonomia, definiu-se que no cálculo da razão de capital com vistas ao atendimento dos limites de Basileia a dívida soberana de qualquer economia pertencente à união monetária teria tratamento simétrico. Todas teriam peso nulo por serem consideradas ativo livre de risco não contribuindo para o cálculo do patrimônio líquido com proporção dos ativos. Este erro regulatório estimulou assunção excessiva de risco por parte dos bancos Europeus que carregaram seu ativo com créditos contra os tesouros das economias do sul da união monetária. A política, pela vias de menor resistência, construiu a união monetária à revelia do livro-texto de economia.

A consequência da unificação monetária e do erro regulatório de tratar a dívida soberana de todas as economias da região de forma simétrica foi a fortíssima queda dos spreads das dívidas soberanas das economias da periferia, em um momento que os juros no mundo já estavam em queda.

O resultado foi um forte processo de acumulação de passivos em diversas economias da periferia da Europa. Uma sociedade somente acumula passivos importando poupança, isto é, absorvendo na forma de consumo e investimento mais do que a produção da economia. O excesso da absorção sobre a produção será a poupança externa. Ocorre que somente é possível absorver poupança externa na forma de bens e serviços transacionáveis. Como parte do excesso da absorção sobre a produção será na forma de demanda por serviços que tipicamente são bens de oferta local, o processo de acumulação de passivos necessariamente gera excesso de demanda por serviços.

Crescimento potencial diminuiu nos Estados Unidos e dificulta a redução da taxa de desemprego

O excesso de demanda por serviços, por sua vez, produz elevação dos preços dos serviços. Os países da periferia da zona monetária apresentaram ao longo da década de 2000 forte elevação dos serviços e dos salários, estes últimos bem acima da produtividade. De sorte que em 2008 havia uma perda competitiva da periferia em relação à Alemanha, tomando 2000 como base, da ordem de 25%.

Prognóstico

Assim, em meados de 2008, tínhamos o setor público e as famílias americanos muito endividados e a periferia da união monetária europeia apresentando perda de competitividade relativamente ao norte da Europa da ordem de 25%. No caso grego o setor público tinha se endividado muito; no caso espanhol, o problema foi do setor privado; e, no caso português, um pouco de cada.

Em seguida ao estouro da bolha imobiliária nos EUA, iniciou-se um longo processo de redução das dívidas das famílias. No período da grande moderação, as famílias, que investiam 1% do PIB além de sua poupança, passaram a poupar além do investimento 3%. A desalavancagem das famílias americanas retirou 4% do PIB de demanda. A piora das expectativas e a elevação da incerteza fez com que as empresas, que não estavam particularmente endividadas, reduzissem o investimento em excesso à poupança em outros 3% do PIB.

Portanto, o ajustamento do setor privado, famílias e empresas, retirou 7% do PIB de demanda agregada. Parte foi compensada pela redução da absorção da poupança externa. No entanto a incapacidade do setor público em fazer uma política fiscal contracíclica mais incisiva tem mantido a economia crescendo 2% ao ano.

Qual é o prognóstico para a economia americana? Parto de duas hipóteses com respeito ao funcionamento da economia.

Primeira, houve nas últimas duas décadas em função de alterações demográficas uma redução da taxa de crescimento do produto potencial. No pós-guerra a economia americana cresceu em média 3% ao ano. A taxa de crescimento do produto potencial para a economia americana situa-se hoje pouco acima de 2% ao ano. Certamente abaixo de 2,5%. É por este motivo que, ao crescer 2% ao ano nos últimos anos, a taxa de desemprego não tem aumentado continuamente.

De fato, crescer 2% ao ano não é ruim para a economia americana. A questão é que é necessário crescer além deste nível durante uns anos para eliminar o desemprego.

A segunda hipótese é que a elevada taxa de desemprego não é fruto de mau funcionamento do mercado de trabalho mas é consequência de uma situação keynesiana de carência de demanda agregada. É verdade que há problemas estruturais na economia americana como atesta a contínua tendência à piora da distribuição de renda desde meados dos anos 1970. No entanto, no meu entender, estes problemas estruturais não impedem um equilíbrio da economia com desemprego na casa de 5,5% a 6%.

Dada estas duas hipóteses penso que a economia americana crescerá a partir de meados de 2014 ou 2015 à taxa de 3% a 3,5% ao ano, até que o desemprego se aproxime do natural. A partir deste ponto a economia crescerá à taxa de crescimento do produto potencial, 2% ao ano. Até lá teremos que esperar o término do processo de desalavancagem das famílias, que deve terminar em meados de 2014 ou em algum ponto de 2015.

Outra questão é sabermos quanto tempo levará, em seguida ao término do processo de desalavancagem das famílias, para a taxa de desemprego cair dos atuais 8% para 6%. Na economia americana, a cada 1 ponto percentual de crescimento durante um ano além do crescimento potencial a taxa de desemprego diminui 0,5%. Assim, se passar a crescer 3% ao ano a partir de 2015, a taxa de desemprego será de 6% após 4 anos, por volta de 2018. Se neste período crescer a 4% o pleno emprego será atingido em 2016.

Se houver em 2013 'o abismo fiscal', com a retirada de 3% do PIB de impulso fiscal, todo o processo de desalavancagem levará um ou dois anos a mais. A recuperação ficará para 2016.

A grande diferença entre a economia americana e a economia europeia é que esta patina e não sai do lugar enquanto aquela patina mas consegue evoluir. Mais da metade do processo de desalavancagem das famílias americanas já ocorreu. Na periferia do euro há um processo de ganho de competitividade por meio de uma estratégia deflacionária. O enorme ajustamento a qual estas economias estão submetidas visa ajustar as contas públicas e, por meio de uma deflação de salários e serviços em geral, reverter o processo de inflação de serviços além do observado no norte da Europa que ocorreu na primeira década de vigência da moeda única. A grande dificuldade é que a roda dos preços não gira para trás da mesma forma que para frente. Não há exemplo na história econômica do século XX de experiência bem sucedida de ataque deflacionário a um problema de atraso competitivo de 25%. Esta estratégia não funcionará.

Sendo otimista, o Banco Central Europeu (BCE) continuará refinanciando os Tesouros e, portanto, o processo de inundar a Europa de liquidez persistirá. Em alguns anos, o excesso de liquidez redundará em aceleração inflacionária no norte da Europa o que corrigirá os desequilíbrios de competitividade no interior da união monetária.

Entrementes os políticos europeus fazem o seu trabalho e completam a construção do euro: união bancária com unificação da regulação prudencial e legislação de falência bancária dotada de fundo garantidor de crédito, união fiscal mínima e criação do título europeu livre de risco, emitido pela autoridade fiscal europeia.

Por outro lado o equacionamento dos problemas de arquitetura do euro será a garantia que os desequilíbrios criados na primeira década de vigência da moeda única não se repetirão abrindo espaço para que haja algum grau de mutualização do excessivo endividamento dos países da periferia da Europa. No processo de mutualização, o título europeu desempenhará papel central.

Caso as sociedades do norte da Europa insistam em não aceitar um ajuste inflacionário, não há possibilidade de continuidade da união monetária. Tenho enorme dificuldade de traçar cenários com a dissolução da moeda única europeia. Deixo esta empreitada aos meus colegas (mais corajosos do que eu) que participam da série arriscando cenários.

Samuel Pessôa é pesquisador associado do Ibre-FGV.

Este é o oitavo de uma série de artigos sobre a crise econômica atual e seus prováveis desdobramentos no mercado internacional e no Brasil, feitos por renomados economistas a pedido do Valor

 
20/09/2012 
ECONOMIA
INFLAÇÃO ESTÁ CONTROLADA E JURO BAIXO CONTINUA DIZ MANTEGA

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem, em Paris, que não vê o processo inflacionário no Brasil com preocupação tanto em 2012 quanto em 2013. "A inflação segue dentro da meta e vai continuar", afirmou ele, durante entrevista na embaixada brasileira, após encontro com empresários de grandes grupos franceses. Por isso, disse o ministro, a política de juros baixos vai prosseguir.

Mantega explicou que, diante de medidas tomadas pelo governo, como a redução do preço da energia elétrica para consumidores residenciais e industriais e o corte da alíquota do IPI para bens duráveis, a expectativa é que a inflação se mantenha comportada. "A tendência é que a inflação seja mais benigna e não se eleve. Não será preocupante no próximo ano."

Durante a entrevista, Manteiga disse que o governo brasileiro vai dar passos concretos em relação à desindexação da economia. "Quando terminarem os contratos de energia elétrica, deveremos modificar a indexação desse setor, que é importante", disse Mantega, sem dar maiores detalhes. Afirmou que o governo já vem agindo em direção à desindexação e deu como exemplo a redução do peso da Letra Financeira do Tesouro (LFT) no conjunto da dívida pública brasileira. (ver reportagem ao lado)

O ministro reiterou que a economia brasileira crescerá 4% em 2013. Ele reconheceu que a elevação do crédito, uma das bases do processo de expansão da economia, segue em ritmo mais lento, mas "a economia continuará se expandindo". O ministro estimou que o crédito no Brasil deverá crescer entre 14% e 15% em 2012.

Segundo Mantega, o Brasil incluirá mais brasileiros na classe C em 2013, enquanto reduzirá as classes D e E - movimento que promoverá a expansão do mercado consumidor. "Devemos incluir mais 30 milhões de brasileiros na classe C no próximo ano. Haverá também aumento das classes A e B e diminuição das classes D e E. O Brasil será, em 2020, o quinto maior mercado de consumo do mundo, alimentado por emprego, mobilidade social e crédito", disse.

Mantega está em Paris desde o início da semana. Ontem, no encontro com empresários, estiveram presentes executivos de grandes grupos franceses, como Carrefour, Casino, PSA Peugeot Citroën, Sanofi, Alstom (que participa da licitação para o trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro), Accor, BNP Paribas e Total, entre outros. No total, 14 empresários de multinacionais francesas participaram do encontro, que foi realizado na embaixada brasileira.

Aos empresários franceses, Mantega insistiu que o Brasil não enfrenta problemas com a inflação, e que a política de juros baixos do governo segue em pauta. A apresentação feita por ele está disponível no site do ministério e traz uma série de dados que o ministro foi "vender" aos franceses.

A apresentação começa com a seguinte frase: "A economia mundial continua em uma crise profunda, enquanto o crescimento retoma no Brasil". Entre os tópicos chama atenção a avaliação de que a crise de 2012 é tão prejudicial quanto a de 2008. Na sequência, o ministro apresentou as projeções de crescimento para 2013, mas usa dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). A linha de corte é crescimento de 3%, acima disso estão Brasil (4,2%), Argentina (4%), China (8,8%) e outros. Pintados de vermelho estão países do mundo desenvolvido. Estados Unidos (2,4%) e toda a zona do euro, com contração de 1,9% para Itália e alta de 1,5% para Alemanha.

Mantega participará, hoje, em Londres, de um evento promovido pela revista britânica "The Economist", sobre os mercados que mais crescem no mundo. Ele afirmou ontem que serão necessários de dois a três anos para que a Europa comece a sair da crise. Segundo ele, os países emergentes terão que se preparar para enfrentar tal situação.

"Não podemos contar com a recuperação do mercado europeu no curto prazo. Esse mercado vai ficar estagnado nos próximos anos", disse a jornalistas europeus na capital francesa. "Enquanto houver risco de quebra de países e de bancos, as economias europeias vão ficar travadas", afirmou. (Colaborou Eduardo Campos, de Brasília)

 


 
20/09/2012 
ECONOMIA
LIÇÕES DE UMA DÉCADA SINGULAR

Por José Graziano da Silva

A superação da pobreza e da fome não pode desperdiçar tempo nem escalas. Há premência de iniciativas públicas e privadas; não se prescinde da agricultura familiar, tampouco do chamadoagronegócio. Cabe aos governos e à cooperação internacional harmonizar esse mutirão ecumênico para que os ganhos da oferta se traduzam na redução da carência.

 

Destinos humanos estão em jogo. A forma como uma sociedade enfrenta esse desafio define não apenas a sorte dos que vivem do lado de fora da cidadania. Ela ajuda a ordenar o padrão do desenvolvimento e influencia as relações entre mercado, Estado e Democracia. Não são opções teóricas nem ideológicas que nos devem guiar nessas decisões.

 

O melhor critério de avaliação dessas escolhas é ouvir a voz da experiência. A América Latina tem um campo de provas avançado da necessária convivência entre grandes e pequenos agricultores. Dez anos de políticas sociais e produtivas em ambiente de expansão econômica formam um repertório singular na trajetória regional.

A agenda latinoamericana de combate à fome e à pobreza ecoa carências transcontinentais. O mesmo se pode dizer do requisito das políticas públicas para estender direitos trabalhistas, fomento e cidadania ao campo e que promovam a segurança alimentar

Até que ponto esse impulso combinado gerou a aderência estrutural desejada para desmontar o ciclo de reprodução da pobreza? A pergunta e a resposta interessam à agenda mundial da luta contra a fome e a miséria.

 

Nos anos 80, o fim de um ciclo de liquidez internacional escancarou a fragilidade do modelo latinoamericano de crescimento. Nos anos 90, a adesão ao cânone da autossuficiência dos mercados expôs as economias regionais a sucessivos episódios de colapso financeiro e desmentiram a existência dos contrapesos autorreguláveis prometidos pelo laissez-faire. O custo social foi devastador: 31 milhões de latinoamericanos caíram na miséria nos anos 90.

 

A contabilidade das perdas e danos abriu espaço a políticas retificadoras, progressivamente incorporadas à agenda regional do desenvolvimento. Um dado resume a abrangência desse novo marco: um em cada cinco habitantes da América Latina e do Caribe, cerca de 113 milhões de pessoas, participa de programas de transferências condicionadas de renda.Embora inconclusa, essa travessia teve um efeito amortecedor nos impactos da crise mundial iniciada em 2007.

 

O PIB regional per capita recuou 3% em 2009. Ao contrário do que ocorreu em outras crises, desta vez o saldo dos avanços não se esfarelou: 41 milhões de pessoas deixaram a pobreza e 26 milhões escaparam do torniquete da miséria na região desde 2002; nove milhões retrocederam aos degraus que haviam superado.

Persistem todavia fragilidades estruturais. Elas favorecem recidivas de miséria e fome, sobretudo no espaço que concentra o núcleo duro da exclusão regional: o universo rural. O contingente dos que vivem na miséria representa hoje cerca de 13% da população regional: 35 milhões no espaço rural; 35 milhões nas cidades.

A simetria aparente é enganosa. A indigência rural equivale a uma fatia de 30% dos habitantes do campo, uma intensidade quase quatro vezes maior que a urbana (8%), segundo a Cepal. Os dados radiografam uma realidade que desautoriza ilusões na eficácia de automatismos econômicos para corrigir a iniquidade social.

Entre 1980 e 2010, mas sobretudo na primeira década deste século, as exportações agrícolas da região foram catapultadas por recordes sucessivos de preços e volumes, puxados pela demanda mundial de commodities.

Em meio a este ciclo, porém, a pobreza rural exibiu um recuo pífio na América Latina e Caribe: de 60%, em 1980, caiu para 53% em 2010. É o que mostra o "Boom Agrícola e a Persistência da Pobreza Rural na América Latina e Caribe", estudo conjunto da Cepal, FAO e OIT.

O fato de que mais da metade da população residente no campo continue miserável, coloca-nos diante de dois registros. E ambos verdadeiros. Primeiro, oferta abundante não garante segurança alimentar nem aos que vivem no seu entorno físico. Segundo, o grande negócio agrícola veio para ficar, ocupa papel estratégico na geração de divisas de países em desenvolvimento e é imprescindível no abastecimento mundial. Mas na América Latina e Caribe ele mostrou mais uma vez que oferta não é sinônimo de acesso. A fome pode conviver perversamente com a abundância.

 

O paradoxo evidencia a relevância de se consolidar uma terceira perna para harmonizar o conjunto. Esse apanágio pertence às políticas públicas. Cabe a elas consolidar direitos trabalhistas no campo, erradicar a precariedade, respeitar a posse dos pequenos, realizar e incentivar investimentos que promovam a segurança alimentar dos vulneráveis, derrubar barreiras de gênero, fomentar a produção familiar, cooperativizar a escala miúda, elevar a produtividade para gerar excedente, renda e abastecimento no mercado interno.

 

A coagulação da pobreza e da fome no campo latinoamericano e caribenho não é um ponto fora da curva, razão pela qual as lições da experiência da região tem abrangência mais ampla. Das quase 900 milhões de pessoas atingidas pela fome no planeta, 75% vivem na zona rural. Mas a vulnerabilidade de quem gravita em torno da terra é maior. Um terço da população mundial é formado por pequenos agricultores que cultivam menos de 10 hectares: apenas 2% são tecnificados, mais de 70% tem apenas a força de seus músculos como ferramenta. No século XXI, a agricultura ainda é o maior empregador do mundo, 40% da humanidade gravitam em torno dela.

A agenda latinoamericana de combate à fome e à pobreza, portanto, ecoa carências transcontinentais. O mesmo se pode dizer do requisito das políticas públicas para estender direitos trabalhistas, fomento e cidadania ao campo.  José Graziano da Silva é diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).

 

 


 
20/09/2012 
ECONOMIA
PERDA DE R$ 71 BI NA RECEITA TRIBUTÁRIA

DECO BANCILLON

 

Será divulgada hoje à tarde pelo Ministério do Planejamento uma meta de arrecadação tributária para este ano inferior à que é conhecida. A expectativa de analistas de mercado consultados pelo Correio é que se passe a contar com uma elevação de 2,9% sobre o resultado de 2011, já descontada a inflação. Isso representa uma queda de 0,6 ponto percentual sobre a previsão da Receita Federal: alta de 3,5% na receita tributária. Isso significa R$ 71 bilhões a menos nos cofres públicos, segundo cálculos dos analistas.

 

A revisão acompanha a queda da estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país no período), de 3% para 2%, anunciada na semana passada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Como é o principal parâmetro para a evolução das receitas, a redução do crescimento econômico tende a afetar todo o resultado fiscal para 2012.

 

Durante a última quinta-feira, horas após Mantega confirmar a revisão do PIB, técnicos da pasta começaram a refazer as contas para dimensionar a geração de receitas. Os dados foram repassados no mesmo dia à Receita Federal, responsável por gerir e prever o comportamento da arrecadação.

 

De posse desses números, o Fisco deu início à formulação do relatório de avaliação orçamentária, que terá uma nova versão do documento divulgada hoje pelo governo. Segundo relatou um técnico do Ministério da Fazenda, a principal alteração será mesmo a queda na arrecadação. Conforme explicou, para cada ponto percentual de crescimento do PIB, as receitas tributárias tendem a evoluir outros 0,59%. No caso da arrecadação previdenciária, o impacto é menor: 0,08%.

 

A redução decorre da importância do PIB no comportamento de tributos ligados à atividade econômica, como o Imposto de Renda das empresas (IRPJ), e as contribuições para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), para o Programa de Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep). Esses tributos vêm sofrendo revezes principalmente por conta do baque da indústria, que enfrenta dificuldades para reagir frente à crise financeira global — indicadores recentes sugerem otimismo.

 

Diante desse quadro, o governo tem concedido incentivos fiscais que também acabam jogando contra a arrecadação. No ano, já foram mais de R$ 45 bilhões. Isso deverá garantir que a economia termine o ano em ritmo forte de crescimento, na ordem de 4%, mas terá efeito negativo na receita.

 

IBGE muda cálculo

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passará a contabilizar gastos das empresas com a compra de software como investimentos produtivos, uma medida que tenta adequar as contas nacionais a modelos adotados por outros países membros da Organização das Nações Unidas (ONU). A revisão na metodologia de cálculo, porém, só valerá a partir do fim de 2014, esclareceu o instituto por meio de nota.

 

Superavit menor

 

O menor crescimento da arrecadação prejudica a capacidade do governo de economizar recursos para pagar juros da dívida e fazer o chamado superavit primário. Para 2012, a promessa é cumprir a meta cheia, o que significa guardar 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

O estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno, diz que dificilmente o governo conseguirá entregar um resultado primário maior que 2,8% sem se valer da artimanha de contabilizar como economia fiscal a despesa com investimentos. “Tem ficado cada vez mais difícil cumprir a meta cheia, ainda mais agora com a queda da arrecadação”, cita. Fernando Monteiro, economista-chefe da corretora Convenção, vai na mesma linha. “Sem dúvida a arrecadação será mais baixa em 2012”, diz.

 

Até julho, o governo guardou R$ 51,9 bilhões, ou pouco mais de um terço dos R$ 139,8 bilhões da meta estipulada para o ano. O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, lembra que esse é o menor resultado fiscal desde o fim de 2009, “refletindo o impacto da atividade mais lenta sobre a arrecadação, além de uma queda nas receitas com dividendos das estatais”.

 

Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, cita as desonerações como uma das agravantes desse quadro, e diz que as renúncias fiscais “drenaram os recursos do governo”.

 

 

 

 
20/09/2012 
ECONOMIA
RETOMADA DAS ATIVIDADES GERA 186 MIL VAGAS EM AGOSTO, PREVEEM ANALISTAS

Por Francine De Lorenzo e Tainara Machado | De São Paulo
A retomada da atividade econômica já aparece com mais força no mercado de trabalho que, em agosto, deve repetir o bom desempenho já visto em julho, segundo avaliação de economistas. De acordo com a média das projeções de sete instituições financeiras e consultorias procuradas pelo Valor Data, o país abriu 185,9 mil vagas no mês passado. As projeções variam de 162,3 mil a 206,9 mil novas ocupações no período. A média das estimativas fica aquém do resultado de agosto de 2011, quando 190,5 mil postos foram criados.

Para a taxa de desemprego, a expectativa média de seis economistas é que o indicador tenha se situado em 5,6% da População Economicamente Ativa (PEA) no mês passado, com projeções entre 5,4% e 5,9%. Se confirmada, a média ficará abaixo dos 5,8% registrados em maio, último dado nacional divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Devido à indisponibilidade das informações referentes a junho e julho, quatro instituições decidiram não projetar a taxa para agosto.

Os números de junho e julho só serão publicados hoje em função da greve de funcionários do IBGE, que prejudicou o processamento de dados. Também serão divulgados hoje os resultados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de agosto e os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, referentes ao período.

 

Pelas contas da LCA Consultores, foram abertos 206,9 mil postos de trabalho em agosto. Esse resultado, apesar de expressivo, representa o equivalente a 114,2 mil empregos, se descontados os efeitos sazonais. O pior momento para o mercado de trabalho neste ano, segundo o economista Caio Machado, foi em junho, mês em que foram geradas apenas 70 mil vagas, já considerando os ajustes sazonais feitos pela LCA.

 

Percepção semelhante tem Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria. Para ele, a desaceleração econômica deve ter afetado o mercado de trabalho de forma mais pronunciada em junho, mas a partir de então a perspectiva é que a geração de empregos e a população ocupada tenham voltado a avançar, acompanhando a retomada da atividade. Sua estimativa para a taxa de desemprego em agosto é de 5,6% levemente inferior à projetada pela LCA, de 5,7%.

"As medidas lançadas pelo governo minimizaram as demissões na indústria e, ao mesmo tempo, temos indicadores que mostram que as vendas no comércio e serviços estão aquecidas, o que permite novas admissões", diz Machado. Para ele, a indústria vai voltar a contratar em breve, ainda que moderadamente, e a geração de empregos continuará sendo puxada pelos setores mais ligados ao consumo.

"As contratações não seguirão o ritmo de aceleração da economia. Assim como não houve um movimento de demissões quando a economia perdeu fôlego, também não veremos uma onda de contratações com o aumento da atividade. O crescimento do emprego será paulatino", diz Machado.

 

Os sinais de retomada um pouco mais forte e disseminada levaram Bacciotti a projetar avanço de 0,2% na população ocupada em agosto, ante quedas de 0,6% em junho e de 0,1% em julho em relação ao mês imediatamente anterior, considerando estimativas da Tendências. Ele ressalta que o emprego na indústria, por exemplo, foi beneficiado nos últimos dois meses por um desempenho mais forte de calçados e vestuário, setores para os quais a desoneração da folha está em vigor desde janeiro.

 

Em julho, o setor têxtil e de vestuário criou um total de vagas seis vezes maior que em julho de 2011. Nas empresas de calçados, o saldo de vagas abertas em julho superou em 16% igual período do ano passado, segundo o Caged.

 

Embora também veja no horizonte um quadro positivo para o mercado de trabalho, Leandro Padulla, da MCM Consultores, afirma que é necessário observar a evolução das contratações e demissões. Em julho, o saldo de abertura de postos de trabalho foi superior ao observado em igual mês do ano passado, em função da combinação entre crescimento menor das admissões e desaceleração mais forte dos desligados, o que pode ser explicado pela resistência das empresas em demitir, principalmente em momento percebido como de virada do ciclo de atividade.

"Temos que olhar como vai se comportar a composição do saldo. Em agosto, a retomada da economia foi mais forte, melhorou a confiança do empresário, então a expectativa é que as contratações mostrem reação", diz Padulla.

 

 

 

 
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20/09/2012 
INTERNACIONAL
EM SP, MEXICANO PREGA NOVA ALIANÇA COM BRASIL

O presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, pregou ontem em São Paulo maior integração comercial com o Brasil enquanto defendeu a expansão na região da Aliança do Pacífico, bloco do país com Colômbia, Chile e Peru considerado um contrapeso ao Mercosul.

"Temos que nos afastar dos que querem nos colocar como rivais e competidores quando nossas economias têm grande complementaridade", disse Peña Nieto, que se reúne hoje em Brasília com a presidente Dilma Rousseff.

Na pauta, está a arrastada negociação para um tratado de livre-comércio bilateral e o acordo de cotas para importação de veículos mexicanos.

Do PRI (Partido Revolucionário Institucional), Peña Nieto, que assume em dezembro, disse que a Aliança do Pacífico é oportunidade para reaproximar o México da região: "[A aliança] não está fechada, tanto a países da América Latina como eventualmente a países da Ásia".

Chefe da equipe de transição do futuro governo, Luis Videgaray disse que a expansão não visa contrabalançar o Brasil. "O que é bom para o Brasil é bom para o México."


 
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20/09/2012 
POLÍTICA
CIDADE-SEDE DE BELO MONTE VIVE SUCESSÃO DE DENÚNCIAS

Vitória do Xingu ganhou na loteria. No prazo de um ano, esse pequeno vilarejo com ruas de terra e calor amazônico declarou-se independente dos recursos carimbados do governo federal, ao aumentar sua receita própria pelo menos cem vezes. O bilhete premiado atende pelo nome de usina de Belo Monte.

Com praticamente todos os canteiros de obras em seu território, Vitória do Xingu receberá 92% de todo o Imposto sobre Serviços (ISS) que será pago em decorrência da construção da terceira maior hidrelétrica do planeta. Algo entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões por mês, a depender do ritmo da obra. Isso em uma cidade cujo balanço mais recente disponível no Tesouro Nacional (2010), mostra receita anual de R$ 16,6 milhões, dos quais R$ 15,9 milhões decorrem de transferências voluntárias da União e R$ 600 mil de arrecadação própria, sendo metade de ISS.

 

Assim, a chegada das obras e a movimentação da economia deveriam soar como música às suas autoridades e aos seus 13.431 habitantes, dos quais 53% vivem na zona rural e convivem com baixos índices sociais: 40% de domicílios não têm abastecimento de água, 30% estão sem energia elétrica e 25% da população é analfabeta. Entretanto, o efeito foi reverso. A cidade acabou por entrar em um atoleiro político sem fim, com nuances que remetem aos grandes escândalos de Brasília.

 

Há ali suspeitas de vídeos gravados em que integrantes do Legislativo aparecem recebendo propina, tal qual ocorreu no caso que destituiu do cargo o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, em 2009. Assim como há, comprovados pela Polícia Federal, desvios de recursos federais, como as reveladas pelo caso dos Anões do Orçamento, em 1993, bem como a criação desenfreada de empresas laranjas semelhantes às do esquema montado, também segundo a PF, por Carlos Cachoeira. As referências mais fortes, porém, são com o escândalo do mensalão, em julgamento no Supremo.

Com a palavra, a delatora: a vereadora do PSDB, Elsa Dallacqua (ex-PRP e PRB). "Logo que o prefeito Liberalino Neto (PTB) assumiu, em 2009, ofereceu R$ 1 mil para cada vereador como uma 'ajuda de custo' mensal, para que o apoiassem no cargo. Fui a única que não aceitou e por isso se iniciou uma perseguição contra mim", disse. A partir daí, conta, passou a combatê-lo. Era a presidente da Câmara e filmou, fotografou e denunciou de sua tribuna desvios de recursos públicos na gestão municipal.

 

"Fiz a primeira denúncia em março de 2009 na Câmara e depois outras 39 no decorrer do ano. Mas não adiantou nada. Não foi aberto um processo para investigar o prefeito", disse. Até que decidiu ir à Polícia Federal de Altamira (PA), a 46 quilômetros dali e principal polo regional, que acabou abrindo uma investigação. "Aí o prefeito chegou a me oferecer R$ 400 mil para desmentir tudo. Como eu neguei, ele disse que dividiria esse valor para os outros oito vereadores que cassariam meu mandato em dois meses."

 

Era setembro de 2009 quando um alvoroço tomou conta da PA-415, o único acesso pavimentado à cidade que a atravessa em um trecho de dois quilômetros até o precário porto do igarapé Tucuruí, afluente do rio Xingu. À altura da Câmara Municipal, foram distribuídos diversos CDs com um vídeo no qual Elsa aparece fazendo sexo oral em um homem. Era o início da vingança. As imagens geraram uma CPI que culminou com a abertura de processo de cassação do seu mandato por três motivos. Falta de decoro, já que a suspeita era de que o ato teria ocorrido dentro das dependências da Câmara. Improbidade administrativa, uma vez que ela teria descontado e não pago o INSS dos funcionários da Casa. E por compra sem licitação de 4.214 rolos de papel higiênico, 70 rodos, 32 baldes, 64 vassouras e 525 kg de açúcar. Elsa, que já deixara a presidência para uma aliada do prefeito - Luzia Efigênio (PTB) - optou por não apresentar defesa no Legislativo, motivo por que um defensor público foi convocado para defendê-la. Em três dias, perdeu o mandato.

 

Só que o prefeito e seus aliados não contavam que os relatos da vereadora a Polícia Federal resultariam na Operação Pandilha, deflagrada em agosto de 2011. Ela apontou a existência de um grande esquema no município envolvendo fraudes em licitações, empresas fantasmas em nomes de "laranjas", superfaturamento e pagamento por serviços não executados que desviaram R$ 5,5 milhões. Estão presos até hoje o prefeito, os secretários municipais de Saúde, de Obras e de Finanças.

 

Até o pai do prefeito, Danilo Dâmaso, ex-prefeito de Marechal Deodoro (AL), foi preso. Ele já havia sido alvo de uma operação da PF em Alagoas em 2005, onde as investigações apontaram desvio de verbas de merendas escolares. Dono de uma extensa ficha policial e antigo aliado do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), saiu da prisão para morrer na Santa Casa de Maceió em abril deste ano. Nenhum vereador, porém, esteve envolvido no caso. A contribuição deles, porém, foi dada ao não cassar o mandato do prefeito, que continua a receber seu salário do Executivo.

 

À época da operação, a movimentação para as obras de Belo Monte na região já eram grandes. Mas um item prometido pela Norte Energia, a formada por capital público e privado para financiar o empreendimento, não fora entregue ao Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), liderado pela Andrade Gutierrez e que tem o objetivo de erguer a usina. Trata-se da garantia de que Vitória do Xingu reduziria à metade o ISS das empreiteiras de Belo Monte, sob a justificativa de compensação pelo anunciado desenvolvimento que a usina levaria à região. Para as empresas, uma economia de R$ 1 bilhão no preço final da usina.

 

Embora sua composição acionária seja dividida com o setor privado, a Norte Energia é comandada por indicados pelo Palácio do Planalto, graças à forte participação das estatais Eletrobras, Chesf, Eletronorte e dos fundos de pensão Petros e Funcef. O homem forte ali é o gaúcho Valter Luiz Cardeal de Souza, ou Valter Cardeal, presidente do Conselho de Administração da Norte Energia, diretor de geração da Eletrobras e considerado o principal conselheiro da presidente Dilma Rousseff no setor.

 

Na região de Belo Monte, são frequentes os relatos de diálogos nada amistosos entre Cardeal e Liberalino, antes de sua prisão. O motivo: a resistência do prefeito em reduzir o ISS. Ele não se mexeu para que o Legislativo aprovasse a proposta. Preso o prefeito, o vice Erivando Amaral (PSB), rompido politicamente com Liberalino desde 2009, assumiria as negociações. Cardeal nega as conversas: "De minha parte, não houve nada, nenhuma conversa. Só estive com o prefeito em audiência pública. E com o novo prefeito [em exercício] nunca conversei. Quem fala isso quer me prejudicar".

 

No seu primeiro contato com os dirigentes da Norte Energia e do CCBM, Erivando, desconfiado, pediu que mostrassem suas identificações para comprovar que eram ligados à construção de Belo Monte. No segundo, rodou pelos canteiros e fez perguntas sobre o empreendimento consideradas óbvias pelos que o acompanhavam. A partir do terceiro, a relação estava bem azeitada. Foi questão de tempo para que ele concordasse em encaminhar à Câmara o projeto de lei que reduzia a alíquota do ISS do município. Acabou aprovado em novembro de 2011.

"O prefeito anterior fazia muito terrorismo com a Norte Energia e com o consórcio. Eu não podia ficar à mercê de uma briga antiga com essas empresas. Precisávamos dialogar", afirmou. Relata que, nas negociações para a aprovação, a Norte Energia se comprometeu a ajudá-lo na eleição deste ano. Por exemplo, com R$ 260 mil a serem divididos para cada uma das 12 igrejas evangélicas da cidade. O dinheiro, segundo ele, não chegou. Assim como o dinheiro para cursos de qualificação profissional para os vitorenses que o CCBM deveria enviar - uma cláusula incluída na lei por ele mesmo. Diante da insatisfação, ele ameaça: "Podemos revogar essa lei a qualquer momento". Apesar disso, a cidade está em obras, com prédios públicos em reforma e pavimentação.

 

Ocorre que seu futuro político, assim como o do antecessor, é incerto. Segundo a vereadora Elsa, que retomou o mandato há pouco mais de um mês tendo como base áudios da PF que mostram uma combinação da prefeitura com os vereadores para cassá-la de maneira sumária, a substituição do prefeito pelo vice em nada alterou o modo de operar na cidade. "Estão ocorrendo os mesmos esquemas. Só mudaram os nomes", disse.

 

Nem foi preciso que ela fosse até o Ministério Público para fazer alguma denúncia. Cinco vereadores ligados ao prefeito preso foram em janeiro desde ano até a sede do Ministério Público do Estado em Belém para "devolver" R$ 5 mil que dizem ter recebido do prefeito em exercício para aprovar o projeto do ISS. A fonte dos recursos, segundo eles, foi a empresa Sotreq, a principal revendedora de máquinas Caterpillar na América Latina e fornecedora do CCBM em Belo Monte. Os vereadores denunciantes afirmaram se tratar de um "agrado" dado pela empresa, devido à aprovação do texto do ISS.

Recentemente, entregaram à promotora Amanda Lobato em Altamira áudio em que o prefeito em exercício tenta convencer uma das vereadoras que o denunciaram a mudar seu depoimento e a incriminar a presidente da Câmara, Luzia Efigênio (PTB) - a mesma que não cassou o prefeito preso. No áudio, além do prefeito e do vereador, aparecem um vereador da base do prefeito, dois advogados - um deles Robério Abdon, conselheiro da OAB do Pará- e uma servidora da prefeitura. O Ministério Público corre para pedir a impugnação de sua candidatura a prefeito.

 

"Esse áudio vai sustentar a nossa ação de improbidade contra ele e o pedido para impugnar sua candidatura. E se ele for eleito, vamos tentar impedir sua diplomação", disse a promotora. Ela afirma que o que ocorre no município agora é semelhante ao que ocorreu com o prefeito anterior, embora agora haja também indícios de desvios de recursos municipais, que estão sob sua alçada. Também encaminhou ofícios à Controladoria-Geral da União (CGU), PF, Tribunal de Contas da União e Ministério Público Federal para que sejam verificados a manutenção e até ampliação do esquemas de desvios de recursos federais em Vitória do Xingu. Sobre o envolvimento da Sotreq, declarou que "não há como provar que o dinheiro veio da empresa" e que "não duvida de que ele pode ter vindo mesmo é da prefeitura".

Ciente dos iminentes problemas judiciais que pode ter, o prefeito em exercício articulou para que sua candidatura fosse a única da cidade. Seu maior receio é de que, com o prefeito for solto - um habeas corpus pode ser julgado a qualquer momento no Supremo - a candidatura de Vando pode ser impugnada por outra, na medida em que ele, estando em exercício, deveria ter se desincompatibilizado do cargo. Nesse sentido, fez acordos com instâncias estaduais dos partidos, que retiraram a legenda de outros pretensos candidatos. Até mesmo o PTB, partido do prefeito preso e da presidente da Câmara, aliou-se a ele.

 

O risco de uma nova operação da PF também não está descartado. No dia em que o Valor esteve na cidade, dois policiais federais escoltavam funcionários da CGU que, um anos depois da Operação Pandilha, faziam uma fiscalização na aplicação dos recursos federais. "Pelo que vimos, não dá para concluir ainda se a situação está igual ou diferente da gestão anterior", afirmou um dos analistas da CGU.

A Sotreq informou, via assessoria de imprensa, que "jamais foi procurada pelo Ministério Público Estadual do Pará para prestar qualquer tipo de esclarecimento" sobre a acusação e que seus funcionários "sempre agiram, e agem, em total conformidade com seu rigoroso Código de Ética e de Conduta, o qual é pautado pela moralidade e legalidade em todas as suas relações". Robério Abdon, conselheiro da OAB, não respondeu ao pedido de entrevista.

A vereadora Elsa retomou seu mandato há dois meses, tendo por base laudo da Polícia Federal em que são registrados diálogos de uma secretária do prefeito preso com vereadores em que é articulada sua cassação. Sobre as outras acusações levantadas na CPI, ela afirma que o alto volume das compras feitas em sua gestão na presidência ocorreram devido à soma de compras feitas em oito meses de mandato. Quanto ao INSS, justificou-se afirmando que o recolhimento só aparece nos contracheques um ano após o pagamento. Nenhum órgão público abriu investigação contra Elsa por essas acusações. O prefeito em exercício de Vitória do Xingu atribui todas as acusações ao seu alegado favoritismo: "Sou atacado por todos os lados", disse. A Norte Energia não respondeu a nenhum dos questionamentos da reportagem

 
20/09/2012 
POLÍTICA
CÓDIGO

O Ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, comemorou ontem a aprovação do Código Florestal pela Câmara dos Deputados, mesmo contrariando a posição oficial do governo. “Foi a vontade da maioria, o pior era não aprovar o código”. Agora, o Palácio do Planalto corre atrás do prejuízo no Senado

 
20/09/2012 
POLÍTICA
PTB DE JEFFERSON E PL DE VALDEMAR TAMBÉM FORAM COMPRADOS, DIZ RELATOR


BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

 

No segundo dia de leitura de seu voto que envolve parlamentares que receberam dinheiro do mensalão, o relator do processo no Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, condenou ontem o delator do esquema, Roberto Jefferson, presidente do PTB, pelo crime de corrupção passiva.

 

O ministro também entendeu que o PL (atual PR), de José Alencar, vice-presidente no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, também foi beneficiário do valerioduto. Barbosa condenou o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

 

Para o relator, o pagamento a partidos da base financiou também a compra do passe de deputados de outras legendas - inclusive da oposição - e foi usado ainda para inflar a sustentação do governo Lula. Segundo ele, as bancadas do PTB e PL dobraram de tamanho e a do PP cresceu 30% no período dos repasses.

 

Hoje, Barbosa vai concluir a análise sobre o PTB e votar sobre a conduta do peemedebista José Borba, também acusado de receber dinheiro do empresário Marcos Valério. Na segunda-feira, o relator já havia condenado ex-parlamentares do PP.

 

Barbosa disse que os acusados ligados ao partido de Jefferson, o ex-vice-líder Romeu Queiroz e o ex-presidente José Carlos Martinez - que morreu em outubro de 2003 -, receberam do PT mais de R$ 5 milhões nos dois primeiros anos do governo Lula. Para o ministro, o repasse a Jefferson também tinha como objetivo a compra de apoio político.

"O réu recebeu recursos oferecendo em troca a fidelidade e o apoio do partido em votações na Câmara dos Deputados." Barbosa lembrou que o PTB apoiou, nas eleições presidenciais de 2002, o então candidato do PPS, Ciro Gomes, contra Lula.

 

O ministro disse que a defesa do presidente do PTB não conseguiu comprovar a versão de que os R$ 4 milhões que recebeu do PT serviram para quitar dívidas de campanha. "O acusado distribuiu dinheiro, tal como acusou Pedro Henry e Valdemar Costa Neto de terem feito", afirmou Barbosa, referindo-se, respectivamente, ao ex-líder do PP e ao ex-presidente do PL (atual PR).

 

Acordos. O relator disse que o acordo entre o PTB e o PT envolveria o pagamento de R$ 20 milhões. Ele afirmou que, em 2005, o então tesoureiro petebista, Emerson Palmieri, viajou com Valério para Portugal a fim de obter os R$ 16 milhões restantes do acerto. Ex-advogado das empresas de Valério, Rogério Tolentino estava junto. O empresário, segundo o ministro, foi um emissário petista e Palmieri foi indicado por Jefferson, a pedido do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. A ideia era a Portugal Telecom antecipar 8 milhões para que os dois partidos pudessem saldar as dívidas da campanha municipal do ano anterior.

 

O PL recebeu R$ 10,8 milhões, segundo o relator. Para enquadrar Valdemar no crime de quadrilha, Barbosa se valeu de dois envolvidos no escândalo que não são réus no STF: Lúcio Funaro e José Carlos Batista, donos da corretora Garanhuns, que repassou recursos ao partido. Para caracterizar quadrilha, é necessário haver mais de três pessoas unidas de forma estável e deliberada para a prática de ações criminosas. Para o relator, a quadrilha do PL seria formada por Valdemar, o ex-tesoureiro Jacinto Lamas e os sócios da empresa. Ele destacou que o único motivo que levou ao repasse de recursos do partido do governo para o PL foi o apoio no Congresso.

O ex-deputado Carlos Rodrigues (RJ) também foi condenado por receber R$ 150 mil do valerioduto.

 

Ex-deputado afirma que hoje 'é só mais um réu' no Supremo
Com a saúde abalada, Roberto Jefferson afirma que diverge do relator porque 'não alugou sua bancada'

 

ALFREDO JUNQUEIRA / RIO - O Estado de S.Paulo

 

O presidente nacional do PTB e deputado cassado, Roberto Jefferson, comprava remédios numa farmácia no Rio enquanto o ministro Joaquim Barbosa pedia sua condenação por corrupção passiva no Supremo Tribunal Federal. Voltou a dizer, no entanto, que não cometeu atos que caracterizem a prática de corrupção.

 

Horas antes, o ex-parlamentar havia recebido alta do Hospital Samaritano, na zona sul, onde ficou internado por uma semana para se recuperar de problemas gastrointestinais e desidratação. Estava 9 quilos mais magro. Jefferson foi submetido à retirada de um tumor maligno na região do pâncreas em julho. "Entendo que ele (Barbosa) está mantendo a mesma posição do início do julgamento, que é a posição do Ministério Público Federal. Essa corrupção passiva não se aplica a mim. Divirjo abertamente. Não aluguei minha bancada no mensalão. Não corrompi a bancada em atos de ofício em favor do governo. Isso é bobagem." Solidário. Jefferson não fez previsões sobre o fim de seu julgamento. "A cada dia o seu mal. Vou aguardar cada um se pronunciar", disse.

 

Ele se mostrou solidário com os réus ligados ao antigo PL (hoje PR) que também tiveram suas condenações pedidas pelo relator. Disse que entendia o sofrimento até pelo qual passa o deputado Valdemar Costa Neto, com quem trocou acusações.

 

"Não me regozijo. O sofrimento que estou passando imagino que é o mesmo que ele esteja vivendo. Se eu não gosto para mim, não gosto para ninguém", afirmou. "Nem para o Zé Dirceu", disse, referindo-se ao ex-ministro, a quem chamou de mentor do esquema. Com saúde abalada, Jefferson afirmou que seu protagonismo no "ringue político" acabou e que hoje é só mais um réu no STF.

 

Seu advogado, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, disse que vai aguardar a conclusão do voto do relator, mas já fez ressalvas. "(O relator) Fez confusão de datas, mas isso pode ser corrigido. Jefferson é testemunha, não é autor, nem recebedor. Não há possibilidade de lavagem sem que se tenha ciência prévia da origem do recurso. Isso o relator não enfrentou."

 

A assessoria de Costa Neto informou que o deputado acompanhou pela TV o voto do relator, mas não iria se manifestar. / COLABOROU FAUSTO MACEDO

 

Corte incorreem ‘heresia jurídica’, afirma Tolentino

O advogado e ex-sócio de Marcos Valério, Rogério Tolentino, réu no processo do mensalão, afirmou ontem que o Supremo Tribunal Federal incorreu em “heresia jurídica” ao julgá-lo e condená- lo no caso por lavagem de dinheiro. Segundo ele, a Corte não tem competência legal para julgar crimes financeiros. “É uma invasão de jurisdição. Você tem dois processos distintos. Na ação penal 420, na qual o BMG é julgado por gestão fraudulenta por fazer também os mesmos empréstimos, inclusive o meu, você pode me mandar para Guantánamo se quiser”, afirmou. A ação 420 também se refere ao processo do mensalão, mas aos empréstimos feitos pelo BMG. Ela corre na 4ª Vara Federal, em Belo Horizonte. A 470, que agora está sendo julgada no Supremo, englobou apenas os empréstimos feitos às agências de Valério pelo Banco Rural. “Gente, condene o Tolentino à forca, mas na 420”, disse ele, que negou ter feito lavagem de dinheiro. / FERNANDO GALLO

 

Política é negociação, mas há limites

PROFESSORES DA DIREITO GV - O Estado de S.Paulo

 

Análise: Rafael Mafei e Rubens Glezer

 

Faz sentido membros do PL terem recebido dinheiro para votar com o governo, ainda que um correligionário fosse o vice-presidente? O ministro Joaquim Barbosa disse que não comentaria a Realpolitik brasileira, mas condenou a maioria dos réus ligados à sigla. Seu voto tem sugerido uma perspectiva que extrapola o casuísmo do processo do mensalão.

 

Quando grupos divergem sobre questões que lhes são fundamentais, há duas soluções: conflito ou diálogo. O conflito não resolve a divergência, suprime-a. O diálogo permite às partes que construam uma alternativa aceitável, com cessões mútuas. Há maior legitimidade na solução assim construída. É a essência da política.

As normas jurídicas que disciplinam a atividade política firmam, entre outros, os limites das barganhas que buscam consensos ou maiorias. Indicações políticas, concessões orçamentárias e até doações entre partidos em contexto específico de campanha, respeitadas as formalidades legais, são juridicamente permitidas pelo Direito brasileiro.

A negociação política fora desses limites escapa aos controles institucionais que objetivam a preservação da democracia. Assim, embora o sentido final da barganha feita em obediência às normas jurídicas eventualmente seja o mesmo daquela feita em prejuízo dessas mesmas normas - no limite, o êxito de um projeto de governo -, o Direito trata as primeiras como práticas juridicamente aceitáveis, e as demais como crimes. A troca de apoio político por verbas e cargos distribuídas a aliados de ocasião, mais do que de ideologia, é prática usual em todos os partidos e governos. Faz parte da política de coalizão no Brasil. O eleitor que não se conforma com essas práticas pode protestar, cobrar candidatos, anular o voto ou articular-se politicamente contra ela, usando seu espaço de liberdade política.

Negociações fora desses limites corrompem a democracia e maculam a dignidade das instituições a ela inerentes. Na linha de pensamento de Barbosa, são juridicamente intoleráveis e nenhuma razão política as absolverá. Se a política busca consenso, o Direito protege o dissenso, que fica a perigo quando a barganha partidária escorrega para fora dos limites jurídicos e escapa ao controle da Justiça.

 

 

 

 
20/09/2012 
POLÍTICA
RELATOR CONDENA O DELATOR DO ESQUEMA

ANA MARIA CAMPOS DIEGO ABREU HELENA MADER

 

O delator do esquema do mensalão, Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, não escapou do rigor do relator do processo, Joaquim Barbosa. No voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o petebista que apresentou ao país o esquema operado pelo empresário Marcos Valério foi considerado corrupto. Barbosa também incluiu entre os culpados o deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Nas duas sessões realizadas nesta semana, Barbosa tratou da compra de votos de políticos no Congresso e de apoio ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Até agora condenou 11 pessoas apenas nesse capítulo, sendo seis ontem. Hoje à tarde, o relator prosseguirá com seu voto e deverá condenar Jefferson e outros petebistas também por lavagem de dinheiro. Ele ainda analisará denúncia contra José Borba, que na época era deputado pelo PMDB-PR e atualmente é prefeito de Jandaia do Sul (PR) pelo PP.

 

Para o relator, Roberto Jefferson se vendeu para o esquema que delatou. Ele teria passado a receber dinheiro de Marcos Valério a partir de dezembro de 2003 em função de um acordo com o PT que previa repasse de R$ 20 milhões para o PTB. Desse montante, o presidente do PTB recebeu R$ 4 milhões em espécie. “Considero impensável admitir que os repasses feitos dessa maneira sejam harmonizáveis com o sério exercício da função parlamentar pelos beneficiários”, apontou Barbosa.

 

Ao deixar o hospital no Rio de Janeiro ontem, onde esteve internado desde a semana passada com uma infecção intestinal decorrente de um câncer, Jefferson comentou o processo do mensalão: “Essa é a fase decisiva do julgamento. É muito angustiante e cruel, mas faz parte da democracia”. Pelo Twitter, o petebista também se manifestou. “Não foi por falta de avisos e, por isso, era mesmo de se esperar: o STF entrou de vez nas eleições e na campanha”, afirmou, sobre o cronograma do julgamento



Compra de votos

 

Com a continuidade do voto de Barbosa, o STF deu mais um passo ontem no sentido de reconhecer que houve compra de parlamentares. Ele detalhou que deputados do PTB e do PL (atual PR) receberam dinheiro. De acordo com o relator, o ex-presidente do PL Valdemar Costa Neto “levou milhões para apoiar o governo”.
Na segunda-feira, Joaquim já havia manifestado voto pela condenação de dois integrantes da cúpula do PP na época do escândalo — o deputado federal Pedro Henry (MT) e Pedro Corrêa (PE) —, além do assessor João Cláudio Genú. O PT teria repassado pelo menos R$ 4,1 milhões em troca de apoio do PP.

 

Sobre o PL, Barbosa alertou que os pagamentos do PT eram semanais, feitos às sextas-feiras e sempre em quantias superiores a R$ 100 mil em espécie. Os recursos chegavam à legenda pelas mãos de Jacinto Lamas, que buscava envelopes entregues por Simone Vasconcelos, gerente financeira da SMP&B.

 

O esquema funcionava também por meio de lavagem de dinheiro transferido para a empresa Guaranhuns Empreendimentos que recebia cheques e transferências eletrônicas da SMP&B e repassava dinheiro vivo para políticos do PP. Valdemar às vezes recebia pagamentos em casa, como ressaltou Barbosa. E rebateu a tese da defesa de caixa dois: “Se os réus pretendiam apenas pagar dívidas de campanha, por que escolheram forma tão sofisticada de recebimento do dinheiro?”.

 

Os donos da Guaranhuns, Lúcio Funaro e José Carlos Dias, deram detalhes do esquema por meio de um acordo de delação premiada e não foram denunciados pela Procuradoria Geral da República. Eles respondem em primeira instância e podem conseguir benefícios como redução da pena ou perdão judicial. Irmão de Jacinto Lamas, Antônio Lamas foi absolvido por falta de provas, no voto do relator, como recomendou o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

A situação de cada um

 

Confira os réus condenados ontem pelo relator Joaquim Barbosa, no capítulo seis da denúncia. Na última segunda-feira, o ministro já havia votado pela punição a cinco réus ligados ao PP.

 

Valdemar Costa Neto (PR-SP)

 

Ex-presidente do Partido Liberal (PL), o deputado federal acabou condenado pelo relator por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de ter recebido mais de R$ 10 milhões do PT em repasses feitos pelas agências do empresário Marcos Valério.

 

Bispo Rodrigues

 

O ex-deputado federal do PL do Rio de Janeiro foi condenado por Joaquim Barbosa pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele recebeu R$ 150 mil do PT, por meio de seu motorista, que buscou a quantia em uma agência bancária.

 

Jacinto Lamas

 

O ex-tesoureiro do PL também acabou condenado pelo relator por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. De acordo com a acusação, ele buscava semanalmente envelopes de dinheiro em espécie e entregava os recursos para o então presidente do partido Valdemar Costa Neto.

 

Roberto Jefferson

 

Presidente do PTB, o ex-deputado foi condenado pelo relator por corrupção passiva. Segundo Joaquim Barbosa, o responsável por denunciar o esquema passou a receber, a partir de dezembro de 2003, dinheiro do valerioduto. Levou R$ 4 milhões em espécie das empresas de Marcos Valério. Jefferson ainda será julgado por lavagem de dinheiro.

 

Romeu Queiroz

 

O ex-deputado federal pelo PTB de Minas Gerais, atualmente deputado estadual pelo PSB, teve a condenação recomendada por Barbosa por corrupção passiva. Ele recebeu dinheiro e ocultou a origem. Queiroz ainda será julgado por lavagem.

 

Emerson Palmieri

 

O tesoureiro informal do PTB na época do escândalo foi condenado pelo relator por corrupção passiva. Ele ajudou a intermediar a propina do mensalão em favor do PTB.

 

 

 

 
20/09/2012 
POLÍTICA
VETO AO CÓDIGO SERÁ CIRÚRGICO, APOSTA BASE

ADRIANA CAITANO JULIANA BRAGA

 

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), convocou ontem os senadores para votar, nos dias 25 e 26, a medida provisória enviada pelo governo para cobrir as lacunas do Código Florestal. O texto foi aprovado na Câmara na terça-feira, da forma como saiu, em agosto, da comissão especial que analisou a MP, e deve passar pelo Senado sem alterações. No entanto, parlamentares acreditam que a presidente Dilma Rousseff vá vetar ao menos um item da matéria.

O clima na Câmara ontem era de “ressaca”, como classificou o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, Homero Pereira (PSD-MT). Após um longo embate, os líderes decidiram recuar em bloco para garantir a aprovação da medida. “Isso e a provável votação unânime no Senado vão sensibilizar a presidente Dilma, que fará, no máximo, algum veto cirúrgico que não terá grande impacto”, comentou Homero.

 

O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) também acredita em um veto pontual, se houver. “O Senado vai aprovar (a MP) sem mudanças, até porque não teria tempo de rediscutir o texto, então a presidente Dilma estará muito à vontade para tomar a decisão que achar conveniente, porque não assumiu qualquer compromisso de não vetar”, argumenta.

 

Entre as apostas para o veto, está a redução feita no Congresso da área a ser recuperada nas margens de rios em propriedades entre 4 e 15 módulos fiscais, que passou de 20 para 15 metros. A alteração havia sido questionada pela presidente, em bilhete enviado às ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente) no dia seguinte à aprovação na comissão. Dilma reclamava do acordo feito sem ouvir o governo.

 

O que preocupa os ruralistas é um possível veto do item segundo o qual a recuperação de áreas desmatadas em propriedades com mais de 15 módulos fiscais deve ser entre 20 e 100 metros, quando o mínimo determinado pela MP era de 30 metros. “Se a Dilma vetar essa parte, criará um enorme vácuo jurídico e terá que enviar uma nova medida para o Congresso, com grandes chances de ser derrotada”, destaca o deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR).

 

O deputado acrescenta que um grupo de lideranças da base já se organiza para visitar o Planalto e convencer o governo de não esticar a briga. A pressão, ao menos à distância, já começou. Ontem pela manhã, a ministra Ideli Salvatti foi interrompida três vezes durante uma reunião para atender a ligações de parlamentares que queriam tratar do assunto.

Sem quórum para extinguir regalia

 

A reunião da Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados em que se tentaria votar o projeto que acaba com o 14º e o 15º salários dos parlamentares foi cancelada ontem, pela terceira vez consecutiva, por falta de quórum. Compareceram apenas 11 deputados — seis a menos do que o mínimo para qualquer votação. Integrantes do colegiado relataram que o governo orientou a base a não comparecer à CFT para evitar que projetos de aumento para o funcionalismo, que estão na pauta, fossem votados. A próxima reunião do grupo está marcada para 10 de outubro.

 

 

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