AGRONEGÓCIO
BAYER FOCA EM SEMENTES NA AMÉRICA DO SUL
O Brasil deve ocupar um papel central nos investimentos globais da Bayer CropScience, a divisão de agricultura da multinacional alemã, nos próximos anos. Um dos principais objetivos da companhia é reforçar de maneira significativa sua presença no mercado sul-americano de sementes, no qual ainda ocupa uma posição marginal. Embora seja uma das líderes em vendas de defensivos agrícolas, a Bayer detém menos de 1% do mercado de sementes para soja no Brasil, o segundo maior produtor mundial da commodity.
"Precisamos investir em estações de teste, reprodução e processamento de sementes", disse ao Valor Sandra Peterson, CEO da companhia, durante seu último encontro oficial com a imprensa internacional à frente da Bayer, ontem, em Monheim, na Alemanha. Após dois anos e meio no cargo, a primeira mulher a presidir a Bayer CropScience deixará a companhia no fim de novembro para assumir uma posição estratégica na Johnson & Johnson.
Em clima de despedida, Peterson anunciou que a múlti alemã deverá investir 7 bilhões de euros nos seis anos encerrados em 2016, sendo 5 bilhões em pesquisa e desenvolvimento e 2 bilhões em expansão (capex). "No que diz respeito especificamente ao aumento de capacidade, os investimentos que vamos fazer são em grande parte críticos para crescer no Brasil", afirmou. Sem abrir números, a executiva americana afirmou que o Brasil terá ainda uma participação importante na venda de novos produtos químicos e biológicos para o controle de pragas.
Peterson lembrou que a decisão de entrar no mercado de sementes de soja foi tomada há apenas três anos - o que explica a longa distância da companhia alemã em relação a algumas de suas rivais, como a americana Monsanto, no segmento. "Até 2002, quando adquirimos a Aventis CropScience, a Bayer estava fora do mercado de sementes. Levamos cerca de cinco anos para integrar as duas companhias em um processo muito trabalhoso. Apenas depois disso começamos a investir em sementes". Ela lembra que a Bayer é líder global em sementes de arroz, algodão e canola. "Obviamente, precisamos estar em soja".
Segundo Rüdiger Scheitza, responsável pela estratégia global da Bayer CropScience, a empresa espera chegar até 2020 com uma participação de 15% do mercado brasileiro de sementes de soja - uma fatia 15 vezes maior do que atual. O objetivo, segundo ele, é atuar tanto na venda de sementes quanto no licenciamento de genes. Para isso, os alemães estudam a compra de pequenas e médias companhias nacionais de melhoramento genético, com o objetivo de ampliar seu banco de germoplasma. O primeiro passo foi dado há pouco mais de um ano, com a aquisição da Soytech, de Goiás. "Mas é muito claro que precisamos investir em todas as regiões para cobrir o território brasileiro", afirmou.
Apesar da aposta em um crescimento acelerado, as primeiras variedades de soja com a presença de genes desenvolvidos pela Bayer não deverão chegar ao mercado antes de 2018. Até la, as sementes vendidas pela companhia deverão embarcar o gene Roundup Ready (que torna as plantas resistentes ao herbicida glifosato), tecnologia desenvolvida pela Monsanto e presente em quase 90% da lavouras brasileiras.
Conforme o executivo, as duas companhias têm um acordo para o desenvolvimento de variedades que combinem o gene RR com a tecnologia Liberty Link, da Bayer, que torna as plantas resistentes ao glufosinato de amônio - assim como o glifosato, um herbicida não seletivo, que mata todas as plantas em que é aplicado. A expectativa é que a variedade seja lançada inicialmente nos EUA, onde crescem os problemas com a resistência de plantas ao glifosato.
Embora largue atrás, a Bayer ainda pode brigar por um espaço significativo no mercado de sementes para soja, garante o executivo. "Não estamos focando em milho porque Monsanto e Pioneer detêm 70% do mercado e um número de ótimas tecnologias já desenvolvidas. Mas entendemos que, daqui para frente, o progresso tecnológico da soja será maior e vai gerar diversas oportunidades de crescimento", afirma. Aumentar a participação do negócio de sementes (com foco em soja e trigo) na receita da Bayer CropScience foi uma das principais bandeiras da americana Sandra Peterson no tempo em que se manteve à frente da companhia. A meta é que o segmento represente 20% do faturamento total até 2020. Neste ano, essa participação deve ficar em torno de 13%, dois pontos percentuais acima do registrado no ano passado. Há 10 anos, era de apenas 1%. Peterson nega, contudo, que o futuro da Bayer CropScience seja se tornar uma empresa de sementes. "Não saberia dizer qual seria a proporção ideal, talvez 35% ou 40%, mas certamente não 80%", disse ao Valor. Segundo ela, a agricultura demanda o uso combinado de diferentes tecnologias.
"A ideia de que essa indústria se transformaria em uma indústria de sementes se mostrou equivocada. Queremos ser uma empresa de soluções em produtos químicos, biológicos e biotecnologia. Os genes para sementes são importantes, mas não resolvem todos os problemas e, hoje, já não são um diferencial tão importante quanto há dez anos", garante.
Apenas o mercado de produtos biológicos (microorganismos) para o controle de pragas deve triplicar, para quase US$ 4 bilhões, até 2020, estima. De olho nesse segmento, a Bayer anunciou há dois meses a aquisição da companhia americana AgraQuest, em um negócio de US$ 500 milhões. Segundo Peterson, o Brasil deve ser um dos principais mercados para a nova tecnologia, com possíveis aplicações em cana-de-açúcar, algodão, frutas e outros vegetais. O jornalista viajou a convite da empresa
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21/09/2012
AGRONEGÓCIO
BRASIL - SOLUÇÃO NA AGROINDÚSTRIA
O Brasil sofre de miopia em relação à sua verdadeira vocação industrial. Temos um parque automobilístico moderno, mas que hoje precisa de incentivo fiscal, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), para ajudar a economia a crescer. No setor têxtil, fomos ultrapassados pelos produtores chineses, coreanos e por vizinhos latino-americanos que têm ajuda do governo por meio de subsídios. Basta uma olhada nos números do PIB do 2.º trimestre para saber onde o Brasil deveria apostar as suas principais fichas: na agroindústria.
A economia brasileira cresceu 0,4% no 2.º trimestre deste ano, na comparação com o 1.º trimestre. E foi a agropecuária que sustentou essa alta, diga-se, muito aquém do que se esperava. O setor expandiu-se 4,9%, com destaque para uma safra recorde de milho e uma colheita abundante de café. Se, no passado, o País tivesse escolhido a agroindústria como uma de suas prioridades, certamente já teríamos ultrapassado os EUA como maior produtor mundial de alimentos.
Ter um parque industrial diversificado é importante, mas é fato também que cada nação deve focar os setores em que pode ser mais forte para competir com vantagem no mundo globalizado. Tome o exemplo do Japão. O país fez uma transição gradual de sua indústria têxtil, de ferro e aço e de construção naval para automóveis, maquinaria e engenharia. Depois, focou nas indústrias de alta tecnologia, como computadores, semicondutores e eletrônica. A Alemanha, por sua vez, incrementou o setor de construção de máquinas e equipamentos, que hoje já é o segundo maior da indústria alemã. Esse setor se caracteriza por empresas médias, com flexibilidade em reduzir ou aumentar a jornada de trabalho e grande capacidade tecnológica. Perde em tamanho apenas para o setor automobilístico.
Veja por que o Brasil poderia ser uma superpotência do campo. O País já tem 388 milhões de hectares cultiváveis, com alta produtividade, e mais 90 milhões ainda por cultivar. Até terras que eram improdutivas, como o Cerrado, se tornaram produtivas graças à tecnologia desenvolvida pela Embrapa. Quase 13% da água doce disponível no planeta está no Brasil. O clima é diversificado e o regime de chuvas, regular. Hoje, é possível colher três safras por ano, com muita tranquilidade. São essas as condições suficientes para que o País lidere a produção e a venda de alimentos no mundo.
Poderíamos ter aproveitado esses atributos para criar uma indústria capaz de agregar valor à carne bovina, ao suco de laranja, ao frango, ao café. Por que exportar esses produtos como simples commodities, com preço muito mais baixo do que o pago pelo produto industrializado? Por que o café da Colômbia conquistou fama mundial, e não o brasileiro? A Alemanha, que não planta café, é atualmente um dos maiores produtores de café industrializado do mundo. Ora, essa função é do Brasil.
Uma das explicações é que o agronegócio sempre foi considerado uma atividade "menor" entre os setores da indústria. Existe, sim, um problema cultural entre nós, uma espécie de preconceito velado, que vem causando prejuízo ao longo dos anos. A agricultura, para a elite, é uma atividade inferior à produção de automóveis ou maquinário. Nos EUA, criou-se um parque industrial sofisticado, mas a agricultura nunca foi deixada em segundo plano.
O estudo do governo Brasil - Projeções do Agronegócio mostra que a expectativa é de que a safra de grãos cresça 23% em uma década, com o incremento de 32,9 milhões de toneladas, para um total de 175,8 milhões de toneladas em 2020/2021. Isso levando em conta as culturas de arroz, feijão, soja, milho e trigo. Como se vê, dá para recuperar o prejuízo. O governo precisa investir em infraestrutura para que os produtos agrícolassejam postos com rapidez no mercado internacional. A falta de ferrovias e as estradas ruins fazem nossos produtos perderem competitividade. É preciso corrigir essa miopia em relação ao agronegócio.
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21/09/2012
AGRONEGÓCIO
COTAÇÃO RECORDE DOS GRÃOS FAZ O PREÇO DA TERRA DISPARAR
Empurrado pelos bons preços dos produtos agrícolas, o valor da terra subiu nos principais países produtores de grãos. No Brasil, a alta foi geral, segundo José Vicente Ferraz, diretor-técnico da Informa Economics FNP. "A situação ficou um pouco mais complicada nas regiões produtoras de frutas", afirma ele. A crise econômica mundial provocou uma redução nas importações de frutas, afetando a renda desses produtores.
Nos últimos 12 meses, no entanto, quando os produtores colocaram o foco no mercado interno, os preços da terra começaram a se recuperar, obtendo alta de 32% em 12 meses. A terra dedicada ao plantio de soja continua com forte ascensão, devido aos preços recordes da oleaginosa.
As pesquisas bimestrais da FNP indicam que o valor da terra nos Estados do Centro-Oeste e regiões do Norte e do Nordeste subiram 10% no primeiro semestre. As próximas pesquisas podem indicar evolução ainda maior porque os preços dos grãos tomaram ímpeto maior a partir de julho. Tendo a soja como base de referência nos preços, o hectare de terra já acumula elevação de 150% nos últimos 36 meses na cidade de Sinop, em Mato Grosso. Outro setor que tem um bom cenário é o da pecuária, devido à recuperação do preço da carne. O aumento da terra atingiu 180% nos últimos três anos.
Mesmo com a valorização da carne, a pecuária não consegue competir com a renda da soja que, por ser mais rentável, ocupa parte das áreas de pastagens, diz Ferraz.
ESTADOS UNIDOS
O cenário nos Estados Unidos não foi diferente. O aumento no preço da terra chegou a 36% nos últimos 12 meses, como o ocorrido no Estado de Nebrasca. No Meio-Oeste dos EUA, região mais propícia para a produção de grãos, o aumento médio no preço da terra foi de 19%, segundo acompanhamento do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Economistas da Universidade de Purdue disseram que esteve a favor desse aumento a elevação de renda líquida dos produtores, taxas de juros favoráveis, além da demanda forte por grãos e uma oferta reduzida.
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21/09/2012
AGRONEGÓCIO
CURTAS
Café - Parceria em prol das pequenas indústrias
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A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e o Sebrae planejam formar uma parceria para verificar os gargalos das micro e pequenas torrefadoras nos principais Estados que industrializam o grão. A concentração do mercado é citada como um dos problemas do setor. Segundo levantamento da Abic, 95% das cerca de mil indústrias no país são micro e pequenas companhias, e muitas delas têm atuação local e regional.
Sementes - Basf compra empresa nos EUA por US$ 1 bi
A Basf anunciou a aquisição da empresa americana Becker Underwood, que desenvolve produtos biotecnológicos para o tratamento de sementes, por US$ 1,02 bilhão. A Becker Underwood deve atingir vendas de US$ 240 milhões no ano fiscal de 2012, que se encerra em 30 de setembro. A unidade da Basf à qual será integrada apresentou vendas de 4,2 bilhões de euros em 2011. O negócio deve ser fechado até o fim do ano, mas aguarda a aprovação regulatória.
Moagem de 518,5 milhões de t
É a nova estimativa da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) para esta safra 2012/13 no Centro-Sul. Em abril, a entidade previa um processamento total de 509 milhões de toneladas de cana.
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21/09/2012
AGRONEGÓCIO
ESTOQUES EM BAIXA, PREÇOS NAS ALTURAS
Primeiro as intempéries do Hemisfério Sul causaram grandes perdas nos campos de soja e trigo de Brasil e Argentina. Agora, a mais severa seca das últimas cinco décadas dizima as lavouras de soja e milho dos Estados Unidos e de trigo, na Rússia. 0 raro fenômeno que quebrou duas sucessivas safras nos maiores celeiros agrícolas do mundo, no período de apenas um ano, fez acender a luz amarela no mercado internacional de commodities. Como a demanda mundial se mantém firme, os estoques das principais culturas têm sido consumidos e começam a atingir níveis preocupastes. No caso da soja, um grão que serve de matéria-prima para a cadeia de proteína animal e está presente em boa parte da indústria alimentícia, as reservas estratégicas são 24,1% menores do que as de dois anos atrás. Com quebra de safras em 11 dos 17 grandes países produtores de trigo, os silos do cereal também estão mais vazios, com estoques 10,5% inferiores ao período pós-colheita de 2011.0 efeito dessa escassez é a velha e conhecida pressão sobre os custos da pecuária e nos preços dos alimentos.
Neste ano, a cotação das principais commodities agrícolas voltou a testar os recordes alcançados durante a crise mundial de 2008. 0 bushel da soja, que custava US$ 11 no fim de 2011, chegou a US$ 17,57, em 21 de agosto, empatando no teto histórico. Mas o produto mais disputado no mercado, no momento atual, é o milho. A quebra na safra americana, com perdas superiores a 100 milhões de toneladas — um terço da produção estimada —, deu um duro golpe nos estoques do maior produtor mundial. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), no mês passado as reservas estavam em alarmantes 3,13 milhões de toneladas. Isso equivale a 45 dias do consumo doméstico. "O ideal é um estoque mínimo equivalente a quatro meses", diz Lucilio Rogério Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados e Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, em Piracicaba. Segundo Flávio França Júnior, diretor da consultoria Safras&Mercados, não há um problema mundial de estoques, mas a situação americana tem repercussão global. "0 mercado internacional é balizado pelo dos Estados Unidos, porque, além de maior produtor, é também o maior consumidor", diz.
O impacto no preço das carnes, óleos vegetais e panificação é considerado inevitável. Essa situação levou a FAO, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para a alimentação, a emitir alerta, pelo terceiro ano seguido, sobre a elevação acentuada no preço da comida. Para os especialistas, ainda não há risco de desabastecimento, especialmente no Brasil, onde os estoques ainda permanecem em níveis confortáveis. Mas a disputa mundial pelos produtos deve manter as cotações próximas do patamar atual, pelo menos, até meados de 2013. A torcida é, portanto, para que as lavouras de soja e milho do Hemisfério Sul, sobretudo do Brasil e da Argentina, tenham uma safra boa, e ajudem a normalizar os estoques, reduzindo a pressão sobre os preços. Sávio Pereira, assessor econômico da Secretaria de Politica Agrícola do Ministério da Agricultura, conta que o aumento da área plantada de soja no Centro-Oeste, de 25 milhões de hectares para 28 milhões de hectares, deve render uma safra recorde no ano que vem. "O prognóstico é o melhor possível", afirma Pereira. E que o clima colabore
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21/09/2012
AGRONEGÓCIO
VOLTA DAS CHUVAS REANIMA INÍCIO DO PLANTIO DE GRÃOS
Por Mariana Caetano | De São Paulo
A chuva que começou a cair há dois dias no Paraná trouxe alívio aos produtores de grãos, que aguardavam ansiosamente o retorno da umidade para acelerar o plantio. A semeadura de soja está oficialmente liberada desde ontem, mas a de milho já tinha sinal verde desde o fim de agosto. Entretanto, como em muitas regiões não caía uma gota do céu há mais de 60 dias, o início dos trabalhos estava em suspenso.
Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Paraná, cerca de 10% da área que será destinada ao milho nesta safra 2012/13 já foi semeada. O número está bem aquém dos 30% que já haviam sido plantados no mesmo período do ano passado, quando estava em jogo a semeadura do ciclo 2011/12, e dos 21% da média das últimas três safras.
"Não há mais condições ideais de plantio, mas também é cedo para falar em quebras. Em um primeiro momento, a preocupação é com perda de produtividade", avalia Marcelo Garrido, economista do Deral. Segundo ele, os agricultores preferem apertar o passo para reduzir os riscos na safra de inverno - que, iniciada mais cedo, minimiza a exposição das lavouras às geadas.
Em Ponta Grossa, cidade que deve responder pela maior área cultivada de milho no Paraná, a semeadura está praticamente na estaca zero. "Alguns se arriscaram a plantar quando veio uma chuva dias atrás, mas já dizendo que, se o milho não vingasse, plantariam feijão em cima", conta Gustavo Ribas Neto, presidente do sindicato rural local
Os mapas climáticos indicam precipitações para esta semana, ainda que localizadas, o que deve animar os produtores a iniciar os trabalhos com mais firmeza. Por ora, as previsões apontam chuvas mais abundantes apenas entre o final de setembro e início de outubro. "Com a umidade se estabelecendo, mesmo de forma incipiente, o agricultor não vai perder tempo, porque tem um zoneamento a cumprir e insumos já comprados", afirma Garrido.
O Deral estima uma área de 850 mil hectares para o milho no Paraná, queda de 13% ante o ciclo anterior, e uma safra 4% maior, de 6,83 milhões de toneladas.
Em Mato Grosso, onde temia-se que o tempo seco pudesse postegar o plantio de soja, voltou a chover no início da semana em importantes municípios produtores, como Primavera do Leste, Rondonópolis, Sorriso e Campo Verde - neste último já existem, inclusive, relatos de que o plantio já começou. A projeção do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) é que o Estado produza 24,1 milhões de toneladas de soja em 2012/13, alta de 13% ante o ciclo passado, em uma área 11% superior, de 7,9 milhões de hectares.
Ainda que haja atraso no início da safra, os produtores esperam que possíveis perdas de rendimento sejam compensadas pelos preços no mercado internacional, que seguem em níveis excelentes, favorecidos pela quebra causada pela seca nos EUA. Ontem, na bolsa de Chicago, os contratos de soja para janeiro (que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez) sofreram uma realização de lucros e recuaram 3% (51,50 centavos), a US$ 16,1775 por bushel. Os papéis de milho para março caíram 1,21% (9,25 centavos), a US$ 7,4950 por bushel.
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COMÉRCIO EXTERIOR |
21/09/2012
COMÉRCIO EXTERIOR
BRASIL E ESTADOS UNIDOS TROCAM ACUSAÇÕES DE PROTECIONISMO
Enviada no auge da campanha eleitoral nos Estados Unidos, uma carta do representante comercial dos EUA, Ron Kirk, com severas críticas à política comercial brasileira foi considerada "inaceitável" pelo destinatário, o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota. Na carta, Kirk fala da "preocupação" do governo dos EUA com o aumento de tarifas de importação no Brasil e no Mercosul. Ele cobra ("urge") a revisão do aumento de tarifas de cem produtos anunciado pelo Brasil na semana passada e o cancelamento da planejada elevação das tarifas para mais cem mercadorias, em outubro.
Patriota reagiu com uma nota divulgada à noite, em que ironiza o americano, por ter "reconhecido a legalidade" das medidas brasileiras. Ele afirma que o Brasil não abrirá mão de adotar todas as medidas que permitir a Organização Mundial do Comércio (OMC) e acusa os EUA de ser o real causador de danos ao comércio internacional, com "subsídios ilegais" à agricultura, que impactam o Brasil e os países mais pobres da África. O ministro acusa os EUA de prejudicar as negociações comerciais na OMC com "medidas protecionistas".
Kirk já começa a carta em tom de recriminação, ao informar a intenção de expressar "em termos claros e fortes" a preocupação americana. Alerta que, na avaliação americana, a alta de tarifas causa danos a exportações dos EUA em "áreas chaves" do interesse comercial do país. O argumento de que as elevações são temporárias "não mitigam o impacto negativo", queixa-se Kirk.
Ele acusa o Brasil de causar danos aos parceiros comerciais com o descumprimento de compromissos contra medidas protecionistas e faz uma ameaça velada: "Historicamente, esse tipo de ação leva os parceiros comerciais a responder do mesmo modo, aumentando o impacto negativo [ao comércio]". Kirk chama atenção, ainda, para a crescente importância do comércio de produtos industriais entre Brasil e EUA.
Fontes de Washington afirmam que a carta de Kirk tem uma faceta política, a menos de dois meses das eleições em que o presidente Barack Obama disputa a reeleição. Obama é acusado pelo adversário republicano, Mitt Romney, de ser frouxo com as medidas protecionistas e competição desleal de países emergentes, sobretudo a China. Na segunda-feira, Obama escolheu o Estado industrial de Ohio, um dos mais importantes na corrida presidencial, para anunciar a abertura de queixa na OMC contra supostos subsídios chineses à industria automobilística.
O governo brasileiro vinha minimizando atritos com o USTR com o argumento de que a agressividade dos negociadores comerciais dos EUA tinha razões eleitorais. Na resposta a Kirk, Patriota diz que ter "esperança" de que a carta, vazada pelos americanos, tenha sido motivada "por circunstâncias domésticas dos Estados Unidos".
Os americanos dizem temer que as barreiras comerciais, a princípio apresentadas como pontuais e destinadas a lidar com problemas específicos de competitividade do Brasil, se tornem uma política horizontal protecionista. Receiam também que outros países sigam o exemplo brasileiro. Autoridades brasileiras, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o próprio Patriota, afirmam que o Brasil reage aos desequilíbrios no mercado provocado pelas políticas monetárias dos países ricos.
"O mundo tem testemunhado politicas de expansão monetária maciça para resgatar bancos e indústrias", diz a nota de Patriota a Kirk. "Como consequência, o Brasil tem sido obrigado a enfrentar uma valorização artificial de sua moeda e uma enxurrada de mercadorias importadas a preços artificialmente baixos", segue a nota, que lembra a duplicação das exportações dos EUA ao Brasil, entre 2007 a 2011. Seria mais justo aumentar exportações em "ambiente não distorcido", acusa Patriota, que se diz "disposto a trabalhar com os EUA" para uma "relação comercial equilibrada e mutuamente benéfica".
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21/09/2012
COMÉRCIO EXTERIOR
GOVERNO AMERICANO PRESSIONA CONTRA ALTA DE TARIFAS DE IMPORTAÇÃO PELO BRASIL
O governo de Barack Obama faz ameaças ao Brasil por causa de sua política de elevação de tarifas de importação, insinua que poderia responder com barreiras contra bens brasileiros e faz um alerta: a atitude do Brasil pode afetar a relação entre os dois países.
Numa carta enviada ao chanceler Antonio Patriota, o governo americano ainda diz ter sido informado de que as barreiras adotadas pelo governo Dilma Rousseff nas últimas semanas não seriam as últimas. Uma nova leva de elevação de tarifas está sendo examinada por Brasília e seu debate público está programado para ocorrer em outubro.
Datada de 19 de setembro, a carta é o sinal mais claro desde o início da crise econômica da insatisfação do governo americano com a atitude do Brasil. Assinada pelo representante de Comércio do governo Barack Obama, Ron Kirk, o protesto ocorre num momento em que o presidente precisa mostrar que está defendendo os interesses de empresas e trabalhadores americanos. Em menos de dois meses, os Estados Unidos terão eleições.
O governo brasileiro classificou de "injustificável" e "inaceitável" o documento.
'Termos fortes'. Diante da crise nos países ricos, Obama e outros líderes de países desenvolvidos contam cada vez mais com as exportações aos países emergentes. Mas, para isso, precisam que esses mercados mantenham suas portas abertas. "Escrevo para declarar nos termos mais fortes e claros a preocupação dos EUA em relação aos aumentos de tarifa planejados e propostos no Brasil e no Mercosul", indica Kirk já na primeira linha.
O motivo da carta foi a decisão do governo brasileiro de elevar o Imposto de Importação para cem produtos, medida que já havia sido precedida por outras barreiras. O Brasil insiste que tem o direito legal de elevar essas tarifas, pois as aplicadas no Brasil estão próximas de 12%, e o compromisso internacional do País na Organização Mundial do Comércio (OMC) aponta para um teto de 35%.
O governo americano, porém, diz que não está seguro de que as tarifas estejam de acordo com a lei. "O aumento de tarifas no Brasil vai, de forma significativa, restringir o comércio e representa claramente uma medida protecionista", diz Kirk. Para a Casa Branca, os produtos protegidos pelo Brasil atingem de forma desproporcional as exportações americanas. Além disso, teriam sido adotadas barreiras no ano passado, cujo resultado seria "uma deterioração nas condições de acesso ao mercado do Brasil".
De forma diplomática, Kirk faz duas ameaças. A primeira é que a atitude do Brasil poderia minar a relação bilateral. A segunda, mais velada, é de que essa reação poderia se espalhar por outros parceiros comerciais, que "poderiam responder na mesma moeda".
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21/09/2012
COMÉRCIO EXTERIOR
MEDIDAS DO GOVERNO DILMA PODEM SER TIRO NO PÉ, AFIRMA ECONOMISTA
Para a economista Lia Valls Pereira, da FGV, o governo brasileiro deve mostrar por que escolheu certos produtos para sobretaxar: "Não está claro se há uma política industrial por trás disso", diz. Na lista, há de óleos minerais a produtos para fotografia. A seguir, a entrevista.
Folha -Quem é mais protecionista Brasil ou EUA? Lia Valls Pereira -A média das tarifas de importação é mais elevada no Brasil do que nos EUA. O problema é que no mundo atual não é só a tarifa que importa. Os países muitas vezes adotam tarifas baixas e utilizam outras formas de proteger seus mercados, como as barreiras técnicas e sanitárias. Mas a discussão não deve ser quem é mais protecionista. E, sim, se esse tipo de medida interessa ao Brasil e qual é o impacto sobre a economia brasileira.
Pode atrapalhar o Brasil? Mesmo que esteja dentro das regras da OMC, o aumento das tarifas de importação feito pelo Brasil foi substancial em alguns produtos. Precisamos mostrar por que escolhemos esses produtos. O que queremos com isso? Se não, fica parecendo protecionismo, como a Argentina faz.
O governo diz que é para proteger a indústria. É eficaz? Os próprios EUA servem de exemplo. Na década de 80, a moeda americana estava valorizada, e os juros, altos. Eles sofreram uma enxurrada de importados. Havia o discurso: "O resto do mundo é protecionista e nós, que somos abertos, sofremos uma enxurrada de produtos".
Eles elevaram as barreiras e todos os países reclamaram, dizendo que o problema não era do resto do mundo, mas da política econômica americana e da falta de competitividade da sua economia. Se o Brasil está sofrendo uma enxurrada de importações, qual é o motivo? Se os importados são um problema para certos setores, há instrumentos de alívio temporário, como as salvaguardas. Mas se a enxurrada atinge todos os setores, há um problema maior.
Qual é o diagnóstico?
O governo tem feito medidas para elevar a competitividade, como a desoneração da folha. Tem que melhorar a infraestrutura. Mas, se olhamos a lista dos produtos [sobretaxados], não está claro se há uma política industrial por trás disso. Parece que o governo aumentou a tarifa só porque os setores têm deficit.
O governo diz que estímulo monetário é protecionismo. Não digo que eles [EUA] não fazem. Mas neste jogo é preciso avaliar se a medida protecionista não acaba sendo um tiro no seu próprio pé.
Os EUA podem retaliar? O Brasil está legalmente dentro dos limites da OMC. Assim como tivemos vários conflitos comerciais com os EUA nos anos 80, podemos criar uma arena de conflito comercial. Se os EUA quiserem, podem questionar na OMC as exigências de conteúdo nacional. Embora muitos países as adotem, se ninguém reclama, não há problema. Mas podem questionar.
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21/09/2012
COMÉRCIO EXTERIOR
PEÑA NIETO QUER MODELO DA PETROBRAS NA PEMEX
JAMIL CHADE , ENVIADO ESPECIAL / LONDRES - O Estado de S.Paulo
O governo de Barack Obama faz ameaças ao Brasil por causa de sua política de elevação de tarifas de importação, insinua que poderia responder com barreiras contra bens brasileiros e faz um alerta: a atitude do Brasil pode afetar a relação entre os dois países.
Numa carta enviada ao chanceler Antonio Patriota, o governo americano ainda diz ter sido informado de que as barreiras adotadas pelo governo Dilma Rousseff nas últimas semanas não seriam as últimas. Uma nova leva de elevação de tarifas está sendo examinada por Brasília e seu debate público está programado para ocorrer em outubro.
Datada de 19 de setembro, a carta é o sinal mais claro desde o início da crise econômica da insatisfação do governo americano com a atitude do Brasil. Assinada pelo representante de Comércio do governo Barack Obama, Ron Kirk, o protesto ocorre num momento em que o presidente precisa mostrar que está defendendo os interesses de empresas e trabalhadores americanos. Em menos de dois meses, os Estados Unidos terão eleições.
O governo brasileiro classificou de "injustificável" e "inaceitável" o documento.
'Termos fortes'. Diante da crise nos países ricos, Obama e outros líderes de países desenvolvidos contam cada vez mais com as exportações aos países emergentes. Mas, para isso, precisam que esses mercados mantenham suas portas abertas. "Escrevo para declarar nos termos mais fortes e claros a preocupação dos EUA em relação aos aumentos de tarifa planejados e propostos no Brasil e no Mercosul", indica Kirk já na primeira linha.
O motivo da carta foi a decisão do governo brasileiro de elevar o Imposto de Importação para cem produtos, medida que já havia sido precedida por outras barreiras. O Brasil insiste que tem o direito legal de elevar essas tarifas, pois as aplicadas no Brasil estão próximas de 12%, e o compromisso internacional do País na Organização Mundial do Comércio (OMC) aponta para um teto de 35%.
O governo americano, porém, diz que não está seguro de que as tarifas estejam de acordo com a lei. "O aumento de tarifas no Brasil vai, de forma significativa, restringir o comércio e representa claramente uma medida protecionista", diz Kirk. Para a Casa Branca, os produtos protegidos pelo Brasil atingem de forma desproporcional as exportações americanas. Além disso, teriam sido adotadas barreiras no ano passado, cujo resultado seria "uma deterioração nas condições de acesso ao mercado do Brasil".
De forma diplomática, Kirk faz duas ameaças. A primeira é que a atitude do Brasil poderia minar a relação bilateral. A segunda, mais velada, é de que essa reação poderia se espalhar por outros parceiros comerciais, que "poderiam responder na mesma moeda".
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BRASIL
21/09/2012
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Brasil e Estados Unidos trocam acusações de protecionismo
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Por Sergio Leo e Alex Ribeiro | De Brasília e Washington
Enviada no auge da campanha eleitoral nos Estados Unidos, uma carta do representante comercial dos EUA, Ron Kirk, com severas críticas à política comercial brasileira foi considerada "inaceitável" pelo destinatário, o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota. Na carta, Kirk fala da "preocupação" do governo dos EUA com o aumento de tarifas de importação no Brasil e no Mercosul. Ele cobra ("urge") a revisão do aumento de tarifas de cem produtos anunciado pelo Brasil na semana passada e o cancelamento da planejada elevação das tarifas para mais cem mercadorias, em outubro.
Patriota reagiu com uma nota divulgada à noite, em que ironiza o americano, por ter "reconhecido a legalidade" das medidas brasileiras. Ele afirma que o Brasil não abrirá mão de adotar todas as medidas que permitir a Organização Mundial do Comércio (OMC) e acusa os EUA de ser o real causador de danos ao comércio internacional, com "subsídios ilegais" à agricultura, que impactam o Brasil e os países mais pobres da África. O ministro acusa os EUA de prejudicar as negociações comerciais na OMC com "medidas protecionistas".
Kirk já começa a carta em tom de recriminação, ao informar a intenção de expressar "em termos claros e fortes" a preocupação americana. Alerta que, na avaliação americana, a alta de tarifas causa danos a exportações dos EUA em "áreas chaves" do interesse comercial do país. O argumento de que as elevações são temporárias "não mitigam o impacto negativo", queixa-se Kirk.
Ele acusa o Brasil de causar danos aos parceiros comerciais com o descumprimento de compromissos contra medidas protecionistas e faz uma ameaça velada: "Historicamente, esse tipo de ação leva os parceiros comerciais a responder do mesmo modo, aumentando o impacto negativo [ao comércio]". Kirk chama atenção, ainda, para a crescente importância do comércio de produtos industriais entre Brasil e EUA.
Fontes de Washington afirmam que a carta de Kirk tem uma faceta política, a menos de dois meses das eleições em que o presidente Barack Obama disputa a reeleição. Obama é acusado pelo adversário republicano, Mitt Romney, de ser frouxo com as medidas protecionistas e competição desleal de países emergentes, sobretudo a China. Na segunda-feira, Obama escolheu o Estado industrial de Ohio, um dos mais importantes na corrida presidencial, para anunciar a abertura de queixa na OMC contra supostos subsídios chineses à industria automobilística.
O governo brasileiro vinha minimizando atritos com o USTR com o argumento de que a agressividade dos negociadores comerciais dos EUA tinha razões eleitorais. Na resposta a Kirk, Patriota diz que ter "esperança" de que a carta, vazada pelos americanos, tenha sido motivada "por circunstâncias domésticas dos Estados Unidos".
Os americanos dizem temer que as barreiras comerciais, a princípio apresentadas como pontuais e destinadas a lidar com problemas específicos de competitividade do Brasil, se tornem uma política horizontal protecionista. Receiam também que outros países sigam o exemplo brasileiro. Autoridades brasileiras, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o próprio Patriota, afirmam que o Brasil reage aos desequilíbrios no mercado provocado pelas políticas monetárias dos países ricos.
"O mundo tem testemunhado politicas de expansão monetária maciça para resgatar bancos e indústrias", diz a nota de Patriota a Kirk. "Como consequência, o Brasil tem sido obrigado a enfrentar uma valorização artificial de sua moeda e uma enxurrada de mercadorias importadas a preços artificialmente baixos", segue a nota, que lembra a duplicação das exportações dos EUA ao Brasil, entre 2007 a 2011. Seria mais justo aumentar exportações em "ambiente não distorcido", acusa Patriota, que se diz "disposto a trabalhar com os EUA" para uma "relação comercial equilibrada e mutuamente benéfica".
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Valor Econômico, 21 de setembro de 2012
Peña Nieto quer modelo da Petrobras na Pemex
Por Bruno Peres | De Brasília
Peña Nieto e Dilma: interesse em aumentar as relações comerciais entre México e Brasil em alguns setores
O presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, enfatizou ontem sua intenção, manifestada desde a campanha eleitoral, de promover uma reforma estrutural na estatal petrolífera Pemex com a finalidade de modernizá-la, apesar de resistências internas no próprio país. Em encontro com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, ficou acertado que executivos da petrolífera mexicana discutirão com representantes da Petrobras, inclusive a presidente Graça Foster, o modelo de gestão adotado pela empresa brasileira, elogiada pelo novo presidente mexicano e classificada por ele como "maior" e "mais competitiva", a partir das mudanças feitas em seu formato administrativo.
No México, grupos nacionalistas criticam a intenção do novo presidente de acabar com o monopólio estatal da petrolífera. À época de sua campanha eleitoral, Peña Nieto chegou a citar a possibilidade de lançar as ações da empresa, semelhante ao que ocorreu na Petrobras, mas com o controle do governo assegurado em questões consideradas estratégicas e sensíveis à economia do país.
"Pedi a colaboração para conhecer essas experiências exitosas que poderão servir para a modernização da empresa petroleira de nosso país. Pedi que conheçamos o que foi a reforma que transformou a Petrobras em uma grande empresa petroleira, justamente ao permitir a participação do setor privado e maior autonomia", disse Peña Nieto em entrevista após reunir-se com a presidente Dilma.
O intercâmbio de experiências referentes à gestão da Petrobras é uma das práticas do governo brasileiro avaliadas como exitosas que Peña Nieto pretende considerar em sua administração. Ele citou ainda políticas públicas na área educacional e no combate à pobreza extrema que também deverão ser estudadas por aquele país.
Peña Nieto também reafirmou o interesse em elevar as relações comerciais com o Brasil, em setores em que ambas as economias possam se encontrar, visando inclusive o maior desenvolvimento regional. O entendimento de ambos os lados é que as transações comerciais entre os dois países estão aquém da dimensão das duas economias. O interesse do novo governo mexicano é manter uma relação com o Brasil não só comercial, mas também política.
Durante o encontro, a presidente Dilma confirmou que comparecerá à posse presidencial no dia 1º de dezembro naquele país, em uma demonstração de continuidade de conversas para retomar relações entre os dois países. A possibilidade de rever a necessidade de vistos para turistas brasileiros que desejam ir ao México também deverá ser considerada pelo novo governo mexicano. Do lado brasileiro, prevaleceu a impressão de que Peña Nieto assumirá o posto presidencial com disposição de reaproximar o México dos demais países da América Latina, principalmente com uma maior convergência política no cenário internacional e em fóruns multilaterais.
Questões comerciais específicas, como uma atuação conjunta entre Petrobras e Pemex no mercado internacional, deverão ser debatidas em encontros futuros.
A própria polêmica envolvendo o acordo automotivo entre Brasil e México não foi objeto de discussão, afirmou Peña Nieto. A melhor saída para a questão, segundo disse, seria uma ampliação do comércio entre os dois países, com a garantia de aumento da presença do Brasil nas importações mexicanas
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21/09/2012
COMÉRCIO EXTERIOR
POUCOS PRODUTOS E MERCADOS
Está tudo menor este ano na balança comercial. As exportações caem, as importações, o saldo e a corrente de
comércio, também. Além da crise na Europa, a China está comprando menos do mundo e pesam as medidas protecionistas da Argentina, nosso terceiro principal parceiro. Vendemos mais para os EUA do que para o Mercosul. A soja passou o minério de ferro.
No acumulado de janeiro até a segunda semana de setembro, a média diária de exportações está 4,4% menor. As importações caíram 0,5%, enquanto a corrente de comércio encolheu 2,6%. O que chama atenção é que a redução do saldo comercial: -32%, pela média diária. Em valores absolutos, o saldo foi de US$ 14,8 bilhões, contra US$ 21,3 bilhões de 2011. Isso mostra que a queda do preço das commodities afeta diretamente o desempenho brasileiro.
Depois de dois anos de forte crescimento, a expectativa é que 2012 seja um ano de estagnação no comércio externo. — O pano de fundo é a queda da demanda mundial e um comércio mais fraco pela crise nos países ricos. O preço do minério de ferro caiu, mas a receita de soja ficou maior. O dólar mais fraco tem ajudado na exportação de manufaturados — explicou o economista Rodrigo Branco, da Funcex. As greves dificultaram embarques e desembarques de produtos. Houve paralisação em vários órgão, como na Receita Federal, no Ministério da Agricultura, na Anvisa e Guarda Portuária.
A soja passou ao primeiro lugar da pauta, deslocando o minério de ferro. A exportação do complexo soja foi de US$ 21,2 bi, maior do que a de minério de ferro e concentrados, de US$ 20,4 bi. A receita com minério de ferro caiu 23,9%, enquanto a de soja em grãos subiu 22%. Minério de ferro, soja e petróleo continuam sendo os três principais itens de exportação. Representam cerca de um terço de tudo que vendemos para o exterior. Oagronegócio como um todo é 39% da pauta.
As exportações para os americanos foram maiores do que para todo o Mercosul em US$ 3 bilhões. É a primeira que isso acontece desde 2008.O Brasil vendeu 13,4% a mais para os EUA e 16,2% a menos para os parceiros de bloco. Ainda assim, continuamos a ter déficit com os Estados Unidos, mas ele ficou menor: US$ 2,8 bilhões contra US$ 5,4 bi do mesmo período de 2011.
A Argentina comprou 18% a menos do Brasil. Nossa exportação caiu de US$ 14,6 bilhões para US$ 11,9 bi. Em fevereiro, o governo argentino aumentou as barreiras para entrada de produtos estrangeiros e, apesar das negociação com o governo brasileiro, o comércio não voltou ao normal. — Isso é ruim porque atinge principalmente produtos manufaturados brasileiros, que representam 90% das exportações para a Argentina e 20% de nossas vendas de manufaturados — disse Branco.
O comércio com a Argentina tem um perfil bem diferente do que o Brasil tem com o resto do mundo. Em geral, a pauta se concentra em commodities agrícolas e metálicas, mas para lá é de manufaturados. O encolhimento das vendas, pelas barreiras comerciais, atingiu diretamente a indústria.
A China comprou 2,6% a menos do mundo até agosto. Reflexo do crescimento mais fraco do país. Ainda assim, conseguimos exportar 0,34% a mais para lá, o que garantiu com folga a permanência dos chineses como nossos principais parceiros. Eles compraram 17,43% do que vendemos. A queda no minério de ferro foi compensada por consumo maior de soja. O problema é que 80% de nossa pauta para a China são produtos básicos. O preocupante não é a oscilação do saldo, mas a excessiva concentração em alguns produtos e em poucos mercados.
Os pontos-chave
1 Até setembro, o ano tem sido de menor exportação, importação, corrente de comércio e saldo comercial
2 As vendas para a Argentina caíram 18% e vendemos mais para os EUA do que para todo o Mercosul
3 A exportação do complexo soja superou a de minério de ferro e derivados como principal produto
COM ALVARO GRIBEL oglobo.com.br/economia/miriamleitao
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ECONOMIA |
21/09/2012
ECONOMIA
A CRISE É PERMANENTE, MUTANTE E CONTAGIOSA
Normalmente pensamos em "crise" como algo instável, um processo de transição entre uma situação que não mais se sustenta e uma nova, em que as contradições se resolvem e a estabilidade se restabelece.
Mas será que a crise não se tornou a nossa normalidade? Podemos imaginar a crise não como processo, mas sim como estado, um processo que se autoalimenta e assim se sustenta?
Gostaria de defender essa tese sobre a crise que estamos vivendo. A crise que enfrentamos, em sua essência, não é uma anormalidade que devemos procurar superar. Na verdade, ela define os tempos que vivemos. Isso não implica, necessariamente, que estejamos condenados a um mal-estar permanente. Na etimologia original da palavra na língua grega, "krisis" também significava decisão e poder de escolha. Vou defender a ideia de que isso ocorre na situação atual.
Mas, infelizmente, devemos reconhecer que a crise agora chegou ao Brasil, ou melhor, aos emergentes. Não é por acaso que hoje vemos forte desaceleração de crescimento na maioria das grandes economias emergentes, não somente no Brasil, mas também na China e na Índia.
A crise atual não se diferencia somente por seu caráter permanente. Ela também é mutante e contagiosa. Seu "ground zero", seu ponto de início, não se deu por aqui, mas ela chegou. E, para entender sua essência, devemos voltar ao ponto de origem, isto é, aos Estados Unidos.
Pax americana
A ordem econômica mundial estabelecida com o fim da Segunda Guerra Mundial, tendo os Estados Unidos como poder hegemônico, iniciou um período de estabilidade que, do ponto de vista atual, parece mais e mais como uma época de ouro. A Guerra Fria, com todos os seus riscos apocalípticos, foi no fim do dia, do ponto de vista econômico, pouco relevante.
Nessa nova ordem mundial, todos tinham seu lugar. Os Estados Unidos e os países desenvolvidos detinham a dianteira tecnológica e científica, assim alimentando sua indústria em contínuo processo de crescimento e inovação. Países periféricos, carentes da densidade institucional para concorrer com os desenvolvidos, assumiam lugar subordinado, alguns tendo a sorte de produzir algum tipo de matéria- prima. Ter essa sorte possibilitou maior integração à economia mundial, permitindo, assim, importar manufaturados ou até arriscar a construção de uma capacidade industrial local.
Essa divisão internacional do trabalho foi responsável pela ascensão da grande classe média consumidora nos países desenvolvidos. Por força do processo democrático, os trabalhadores nos países desenvolvidos aumentaram de forma contínua seus rendimentos, o que, pelo crescimento da produtividade, criou um círculo virtuoso de desenvolvimento. Contra tudo que pregava a visão marxista de um embate necessário entre as classes, capital e trabalho andaram juntos nos anos 1950 e 1960 nos países desenvolvidos.
Mas, muito em sintonia com o conceito marxista de que a base tecnológica determina a superestrutura política, social e ideológica, a partir dos anos 1970 um conjunto de desenvolvimentos possibilitou a crescente internacionalização da economia global, especialmente a industrial. De maneira crescente, o processo de produção não estava mais atado a algum local, mas poderia se espalhar, buscando nichos de vantagem competitiva. O pacto econômico e social nos países desenvolvidos entre capital e trabalho começou a se dissolver.
Apesar de ser um processo gradual, ele se acelerou de forma vertiginosa com a entrada da China como plataforma manufaturadora da economia global. Não devemos perder de vista a grande ironia de que foi justamente um país nominalmente comunista que transformou a face do capitalismo global, juntando a disciplina maoísta de sua força de trabalho com a mais "neoliberal" política de abertura para o comércio exterior e os investimentos estrangeiros.
A globalização chinesa
A ascensão econômica chinesa é certamente uma das mais importantes causas do esvaziamento e declínio da indústria dos países desenvolvidos, da decadência da classe média, do crescimento da desigualdade de renda, bem como da falta de sustentabilidade de seus generosos sistemas de previdência social. Cada um desses fenômenos é decorrente do outro, um resultado do rearranjo da economia global, em que o capital se alinha onde há mais ganho, sem limitações geográficas.
Já ficou bastante claro que o grande salto da economia brasileira nos últimos anos tem tido como motor principal o desenvolvimento chinês. Por uma variedade de canais de riqueza e renda, a simbiose entre nosso país, rico em toda variedade de matérias-primas, e a voraz demanda chinesa possibilitou uma mudança no nosso padrão de desenvolvimento. Somos sócios privilegiados da globalização chinesa.
Sofisticação do mercado facilitou a alavancagem que resultou na bolha imobiliária e de crédito
Apesar de os dados mostrarem claramente que a decadência da classe média americana já vem dos anos 70 e 80 do século passado, os mesmos avanços tecnológicos que permitiram a difração do processo produtivo em múltiplas partes espalhadas ao redor do mundo também permitiram uma enorme sofisticação dos mercados financeiros. Isso possibilitou a crescente alavancagem de renda dos americanos, aumentando seu consumo na base do crédito, e assim criando um falso senso de bem-estar que escondeu, econômica e politicamente, uma crescente deterioração da renda real. Como hoje sabemos, tudo resultou numa enorme bolha imobiliária e de crédito.
Na Europa, a dinâmica foi um tanto diferente, mas não o resultado. A união econômica imaginada ao redor do euro junta economias díspares em um projeto de convergência. Mas a moeda única não funcionou como mecanismo de convergência e, sim, de divergência.
As economias do Sul se endividaram a um custo igual ao das mais avançadas economias do Norte, possibilitando um boom de consumo que elevou o custo do trabalho. Isso aumentou fortemente a já grande divergência de competitividade entre as duas regiões do continente. Com isso, tivemos mais uma crise de dívida, nesse caso não somente dos setores privado e bancário, mas também uma crise soberana.
A crise chega aos emergentes
As dinâmicas descritas acima parecem colocar os países emergentes em lugar privilegiado nessa nova ordem econômica mundial. Isso tem sido aceito como um lugar-comum, e muitas políticas e estratégias de negócio (por exemplo, a popularidade dos Brics, grupo de países que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul como tema de investimento) acabaram tendo essa aparente obviedade como parâmetro central.
Por isso, a questão mais urgente hoje não são os últimos desdobramentos da crise europeia ou os derradeiros movimentos do Federal Reserve (Fed), o banco central americano. A questão mais urgente é a desaceleração do crescimento nas grandes economias emergentes, em especial na China e no próprio Brasil.
Acredito hoje ser possível postular que há algo em comum nesse processo, apesar da grande disparidade de condições entre as grandes potências emergentes e os países desenvolvidos.
Nos países desenvolvidos, a crise foi o desdobramento final de um processo longo onde houve uma fundamental ruptura de interesses entre uma elite hoje globalizada e uma classe média e trabalhadora local. Essa ruptura, apesar de ter uma base tecnológica, foi fundamentalmente política. Vemos nisso uma falha no processo democrático, na sua incapacidade de articular um projeto nacional frente a uma economia crescentemente global. Mas nada aconteceu por acaso. Isso decorreu de escolhas políticas.
Vemos uma repetição desse processo hoje nos emergentes. Cada uma das grandes potências emergentes já colheu os ganhos fáceis da nova globalização, mas agora enfrenta problemas estruturais para garantir a continuidade do seu desenvolvimento, para qual, o processo político não tem achado respostas adequadas.
No caso chinês, isso tem a ver com a necessidade de trocar um modelo de crescimento demasiadamente concentrado no investimento por um baseado no consumo, processo que encontra grande resistência na elite que circula entre o Partido Comunista, governo e o setor estatal, que têm a base de sustentação do seu poder no modelo centrado nos investimentos.
O Brasil enfrenta o desafio contrário. Tem que transformar um politicamente popular modelo de crescimento baseado em consumo em outro, focado em investimento e competitividade.
É na incapacidade política de responder na velocidade necessária a um conjunto de mudanças tecnológicas e econômicas que encontramos a essência da crise atual. Hoje isso não mais se limita ao mundo desenvolvido, já vemos com clareza os efeitos nos emergentes, que não podem dar respostas políticas e institucionais adequadas à rápida mudança de circunstâncias impostas pelas tecnologias modernas.
E é exatamente por isso que não podemos pensar no atual estado de crise como algo passageiro: o hiato entre a política e a tecnologia, entre a política e os mercados, não deve ter fim.
Previsões, previsões
O que diz essa conceituação da crise sobre o que deve acontecer doravante? Devemos de antemão reconhecer que uma das principais características do nosso tempo é a sua enorme complexidade, fazendo qualquer tentativa de previsão algo heroico, senão impossível. Mas uma coisa me parece clara: a economia coloca o problema, mas a solução terá que ser política.
No caso da China, a recente queda de sua taxa de crescimento deve ser vista como sendo mais estrutural e permanente do que cíclica. A relutância da liderança do Partido Comunista em lançar mais um programa de investimentos evidencia não só um delicado momento de transição política, mas o reconhecimento de que os resultados dessa política de investimento tendem a ser marginalmente decrescentes.
Não há como criar uma estrutura institucional única na zona do euro sem substancial perda de soberania nacional
Não devemos desprezar as dificuldades de se trocar um modelo baseado em investimento por outro, amparado por exportações e consumo - nenhum dos países asiáticos mais desenvolvidos conseguiu fazer isso com pleno sucesso. Fora as dificuldades de enfrentar os grupos que hoje desfrutam do modelo atual, há o fato de que o desafio de qualquer processo de liberalização, como tem que acontecer no setor financeiro, normalmente aumenta os riscos macroeconômicos.
Enquanto não devemos desprezar a capacidade da sociedade chinesa de achar soluções para seus problemas, essas dificuldades, somadas a uma já esperada implosão demográfica, devem taxar enormemente a sua capacidade de adaptação. Nos próximos anos, um crescimento perto de 7% deve ser visto como um bom resultado na China, e não devemos nos surpreender quando a taxa for de fato menor.
Na Europa, a crise é de superendividamento, com suportes institucional e político inadequados para sustentar uma união europeia. Para resolver a questão da dívida, teremos que ver um "encontro de contas" entre os credores do Norte e os devedores do Sul, algo que passa pelos vários programas de ajuste já em curso.
Mas há limites políticos e sociais para o volume de recursos que serão repassados dos devedores para os credores e a velocidade em que isso vai ocorrer. Esses limites mudam ao longo do tempo. Há uma tendência de o prolongamento da recessão nos países devedores diminuir os limites do ponto de vista político. O recente pacote de ajuda do Banco Central Europeu (BCE) deve garantir tempo para a negociação política dessas transferências e, ao mesmo tempo, construir o suporte institucional necessário à consolidação da moeda única.
Mas o problema central persiste: não há como criar essa estrutura institucional sem substancial perda de soberania nacional. Apesar disso, o terror do caos que se instalaria no continente com a dissolução do euro deve ser suficiente para levar todos os envolvidos a ceder no que for necessário. Mas o processo será bastante complicado e longo.
Talvez, surpreendentemente, o melhor colocado economicamente para superar seus problemas sejam os Estados Unidos, o "ground zero" da crise. De todos os grandes blocos econômicos, têm a melhor situação demográfica. Seus problemas fiscais, por maiores que sejam, podem facilmente ser resolvidos a tempo com um razoável mix de corte de despesas e aumento de receita. E, depois de anos de queda de sua moeda, sua indústria parece ter recuperado certa competitividade. Além disso, sua capacidade de inovação tecnológica ainda é amplamente superior à de qualquer rival.
Apesar dessas vantagens, o desafio de achar um consenso em uma sociedade tão dividida, em meio a partidos crescentemente antagônicos, pode prolongar ou mesmo piorar a crise. O possível "fiscal cliff" será um importante teste para se descobrir se, apesar de tudo, ainda existe racionalidade na política americana.
E o Brasil? A boa notícia é que o baixo crescimento deste e do último ano acabou finalmente com a falsa euforia e colocou no centro do debate questões como a competitividade e a necessidade de se pensar na oferta e não somente na demanda econômica.
Para vencer essa agenda, certos preconceitos políticos, em relação às privatizações e ao tamanho do Estado, por exemplo, precisam ser superados. Precisam ser vencidos os interesses dos grupos que desfrutam de vantagens do modelo atual, assim como ocorre na China. Sem isso, parece que estaremos condenados a ter uma taxa de crescimento potencial mais perto de 3% ao ano do que de 4% ou mais, o que não exatamente se configura como um desastre, mas é bem menos do que podemos atingir. Afinal, a escolha será nossa, como no caso também dos outros países.
Na economia globalizada de hoje, o que conta é flexibilidade e rapidez de ação: o que foi ontem uma vantagem pode ser hoje uma desvantagem, o que foi um ponto forte pode virar uma fraqueza. O tempo da política sempre será necessariamente mais lento que o do mercado, mas admitir isso não implica aceitar que nossos sistemas políticos fiquem indiferentes à necessidade de responder prontamente aos desafios atuais. A crise pode ser uma condição permanente dos nossos dias, mas como bem sabiam os gregos antigos, ela no fundo implica que temos escolhas a fazer.
Tony Volpon é diretor da Nomura Securities International, Inc.
Este é o nono de uma série de artigos sobre a crise econômica atual e seus prováveis desdobramentos no mercado internacional e no Brasil, feitos por renomados economistas a pedido do Valor
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21/09/2012
ECONOMIA
BANCOS QUEREM FIM DO PARCELAMEMTO NO CARTÃO
VICENTE NUNES
Os bancos querem suspender o parcelamento, sem juros, de compras efetuadas por meio de cartões de crédito. Essa será uma das condições impostas ao governo pelas instituições financeiras para que reduzam os encargos cobrados no crédito rotativo, que, em média, estão em 10,7% ao mês ou 238% ao ano. Segundo representantes do setor, o parcelamento é definido livremente pelos lojistas e os prazos, de até 24 meses, para pagamento impõem um custo pesado às administradoras de cartões. Para convencer o governo de que não estão restringindo benefícios aos consumidores, os bancos sinalizarão, em encontros com representantes do Banco Central e do Ministério da Fazenda nos próximos dias, que os juros do rotativo podem cair, gradualmente, para cerca de 6% ao mês.
O sistema financeiro passou a se movimentar nos últimos dias para estancar as críticas disparadas pelo governo contra os cartões de crédito. Primeiro foi a presidente Dilma Rousseff, em rede nacional de rádio e tevê, a gritar contra os juros excessivos cobrados pelos bancos nesse sistema de pagamento. Ela foi taxativa: “Não vou descansar enquanto os juros dos cartões não caírem para níveis civilizados”. Depois, foi a vez do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ressaltar os exageros praticados pelo sistema financeiro. Por último, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou serem inaceitáveis os “juros escorchantes” dos cartões.
Os bancos decidiram se antecipar a uma pesada intervenção do governo no mercado, “baixando juros por decreto”, e procuraram os diretores do BC Aldo Mendes (Política Monetária) e Luiz Pereira (Regulação do Sistema Financeiro e de Assuntos Internacionais), além de integrantes da equipe do secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, para negociar.
“Já indicamos a esses interlocutores, com os quais temos nos reunidos com frequência, a nossa disposição para conversar. Admitimos que há exageros e distorções no mercado de cartões, mas estamos dispostos a corrigi-los. E isso passa pelo fim do parcelamento sem juros, que compromete capital por um longo período, e pela redução das taxas do rotativo”, disse um executivo envolvido com o tema. “Mas que fique claro: não vamos mexer no prazo de até 40 dias para pagamento das faturas, sem juros. Isso será mantido, beneficiando quase 80% dos usuários de cartões”, acrescentou.
Renda comprometida
Na avaliação dos bancos, se quiserem continuar oferecendo parcelamento de suas vendas, os lojistas terão de recorrer a financeiras, que cobram taxas entre 3% e 4% ao mês, ou usarem recursos próprios para atender os desejos dos consumidores. “Queremos dar clareza a todas as operações, pois sabemos a importância do cartão de crédito como instrumento de pagamento. Estamos falando da segunda modalidade de financiamento do país, atrás apenas do crédito à compra de automóveis”, destacou outro dirigente de banco. “Muita gente não sabe, mas o BC não inclui os débitos parcelados no cartão no cálculo do nível de endividamento das famílias. Ou seja, o comprometimento de 43% passaria de 50%”, acrescentou.
Os responsáveis pelas áreas de cartões de crédito dos bancos já apresentaram ao BC e à Fazenda dados mostrando que o crédito rotativo, o mais caro do país, representa apenas 8% do total das operações. Dos que estão pendurados, rolando as dívidas todos os meses, 30% já caíram na inadimplência, não pagam mais nada por total incapacidade. Os bancos não querem, porém, que o BC aumente o limite mínimo para pagamento das dívidas, hoje em 15%, possibilidade que foi aventada por Alexandre Tombini em recente depoimento no Senado. Acreditam que precisam ter mais débitos pagando juros, mesmo que menores, para financiar os 40 dias sem encargos dos que pagam integralmente as contas todos os meses.
Transparência nas faturas
Para mostrar que estão em sintonia com o governo e dispostos a negociar, os bancos têm discutido com o Banco Central e o Ministério da Justiça até os modelos das faturas enviadas aos clientes, como forma de atender à exigência de transparência nas informações. O Palácio do Planalto não está, porém, satisfeito com o comportamento do sistema. Tanto que já botou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal em ação, para forçar a concorrência a reduzir os juros dos cartões de crédito.
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21/09/2012
ECONOMIA
INFLAÇÃO FICARÁ ABAIXO DE 5% SÓ EM 2013
Num cenário onde o crescimento da economia global será muito baixo ainda por uns dois anos, o governo brasileiro admite que a inflação, este ano, poderá ficar próxima dos 5,3% que o mercado prevê - por causa do choque das commodities - mas conta com um IPCA abaixo de 5% para o ano que vem.
Dos cálculos e prognósticos sobre a evolução dos preços não constam reajuste dos combustíveis para o consumidor - afinal, a gasolina brasileira é a mais cara de toda a América Latina - nem uma eventual flexibilização da meta de superávit primário para algo inferior aos 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) para aumentar o gasto público. O impacto direto de 0,54 ponto percentual no IPCA do próximo ano, decorrente da queda nas tarifas de energia elétrica, já está na conta.
O superávit poderá ser até menor, desde que a decisão seja de desonerar mais a economia dos pesados tributos que lhe retiram competitividade. E, nesse aspecto, não se descarta a possibilidade, inclusive, de tornar duradouro o incentivo da redução do IPI para os automóveis.
No 3º trimestre, PIB anualizado pode chegar a 4%
Tudo o que puder ser feito para desobstruir a atividade econômica da excessiva cunha fiscal e ajudar no controle da inflação será analisado com boa vontade pela área econômica. Mas a política fiscal deve estar associada ao ciclo econômico: mais restrita em períodos de crescimento e mais expansionista nos tempos de vacas magras.
O IPCA -15 de 0,48% em setembro sobre agosto veio acima do que esperava o governo. O entendimento, porém, é que o maior peso do aumento dos preços internacionais das commodities agrícolas concentrou-se no índice deste mês. Em outubro ele deve vir menor.
No balanço de riscos da inflação, a nova rodada de expansão monetária patrocinada pelo Federal Reserve americano (QE3) pode ser fonte de pressão nos próximos meses, mas uma desaceleração mais acentuada da China seria um neutralizador. O governo brasileiro está atento para o fato de que a transição chinesa talvez não seja tão suave quanto se imaginava e as autoridades, lá, não estão demonstrando disposição para evitar isso. Se os dados do governo da China não são confiáveis, a queda de preços do minério de ferro é um sinal inquestionável da desaceleração, avalia uma fonte graduada.
A reação da atividade econômica interna, finalmente, começou a aparecer nos indicadores e o crescimento no terceiro trimestre vai ser mais reforçado do que foi nos dois primeiros. É bastante provável que o PIB cresça 1% ou até um pouquinho mais sobre o segundo trimestre e já indique uma taxa anualizada de 4%, performance que o Banco Central esperava só para o quarto trimestre.
Para alívio dos principais gestores da política econômica, o conjunto de incentivos - fiscais, monetários e financeiros - tardou, mas não falhou. Começam a aparecer resultados concretos. A retomada da produção industrial, depois da redução dos estoques, ainda é liderada pelo setor de automóveis, mas começa a se disseminar. Esse movimento está na origem da melhora dos indicadores de confiança dos empresários e dos consumidores domésticos, assim como a visão do país no exterior.
O governo fez um trabalho para remover o mau humor que começou a contaminar os ânimos dos investidores internacionais com o Brasil nos últimos meses - motivado pela percepção de que a capacidade de a economia crescer mais do que 2% ao ano estava se esgotando.
Autoridades locais se deslocaram para os Estados Unidos e Europa, numa operação para "separar o que era conjuntural do que era estrutural" no comportamento do PIB e indicar os passos que o governo preparava para incentivar o investimento - das concessões de serviços públicos para o setor privado à redução das tarifas de energia.
"O crescimento através da expansão do consumo não se esgotou, mas governo está mudando seu foco para o investimento", comentou a fonte.
A necessidade de proceder a essa transição - do incentivo ao consumo para medidas de estímulo ao aumento da oferta - começou a ficar clara para o governo no primeiro trimestre deste ano. Em janeiro já estava nítido que, diante da crise instalada, os países maduros estavam fazendo coisas que jamais fariam em tempos de normalidade, como, por exemplo, subtrair da população parte da rede de benefícios sociais. Eles vão sair da crise, portanto, mais competitivos do que entraram.
"Se estamos chorando hoje, vamos chorar muito mais lá na frente", resumiu uma alta fonte do governo, para retratar a discussão naquele momento.
A partir desse debate, entraram na agenda do Planalto temas que entendeu-se necessário para o país avançar, como a redução do "spread" bancário e retomada da expansão da oferta de crédito pelos bancos públicos e privados, a reforma nas regras de correção da caderneta de poupança, o corte nas tarifas de energia, assim como a criação de programas de qualificação da mão de obra e tudo o mais que for preciso para melhorar a competitividade.
Os juros básicos (taxa Selic) estavam em queda desde agosto do ano anterior e o câmbio começou a se desvalorizar de março em diante. Mas foi ficando mais visível para todos, no governo, que isso não seria suficiente para colocar a economia brasileira nos trilhos.
A redução da taxa Selic de 12,5% para 7,5% ao ano pôs os juros no Brasil em um outro padrão. "Tivemos condições de convergir (para taxas reais internacionais), porque tem uma crise internacional. Agora, os outros países foram muito mais longe com a taxa de juros", comentou a fonte. Isso está sendo, de qualquer forma, um importante aprendizado. O mercado, resistente, se convenceu de que é possível o país viver num ambiente de juros em patamares mais razoáveis.
Por outro lado, para o governo também foi pedagógico, pois mostrou que juros mais baixos não é tudo, assim como desvalorização da taxa de câmbio. Há outras questões que emperram as engrenagens da economia e que precisam ser tratadas.
Agora, se a Selic vai ficar estável por um bom tempo ou não, quem dirá é a inflação, concluiu a fonte.
Claudia Safatle é diretora adjunta de Redação e escreve às sextas-feiras
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21/09/2012
ECONOMIA
MAIS CARROS MEXICANOS
O governo poderá elevar em US$ 350 milhões anuais a cota de importação de veículos prevista no acordo automotivo existente com o México, que foi renegociado em março passado para reduzir o deficit brasileiro no comércio bilateral do setor. A decisão responderia à pressão de algumas montadoras que, em apenas seis meses, já superaram ou estão prestes a exceder o limite de importação livre de impostos fixado para o primeiro ano, que vai até abril de 2013.
Ontem, após reunião com a presidente Dilma Rousseff, o presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, afirmou que quer ampliar, e não delimitar, as relações comerciais com o Brasil. Segundo ele, o acordo automotivo entre os dois países não foi especificamente tratado na reunião, mas ele disse acreditar numa maior abertura no comércio entre os dois países.
“Creio que a melhor forma de dar solução ao tema é gerando maiores incentivos, sobretudo para este mercado ou esta relação de livre mercado”, disse ele a jornalistas. De acordo com o presidente eleito, a questão poderia ser resolvida também “buscando um maior equilíbrio na balança comercial, encontrando oportunidades para que a produção do Brasil também tenha presença no México”.
Boa vontade
Uma fonte do governo mexicano disse à Reuters entender que, embora não tenha havido um pedido formal, haveria interesse do Brasil em elevar a cota de importação de veículos. Uma autoridade brasileira, que pediu anonimato, disse que a faixa de elevação da cota de importação poderia estar entre 300 e 500 milhões de dólares. Outra fonte consultada, contudo, disser que, nesse momento, não há negociações sobre o assunto.
Em março passado, as duas maiores economias da América Latina concordaram em renegociar temporariamente alguns termos do Acordo de Complementação Econômica 55, depois que o Brasil acusou um déficit no comércio bilateral e ameaçou abandonar o pacto que por muito tempo lhe favoreceu.
A ampliação da cota, que a fonte do governo mexicano descreveu como um ato de “boa vontade política”, aconteceria num momento em que o governo brasileiro procura seduzir gigantes automotivas a se instalarem em seu território. Segundo dados oficiais do México, o Brasil importou no primeiro semestre deste ano 108.996 automóveis, 135% a mais que no mesmo período de 2011.
Negociações nos bastidores O aumento das importações de carros do México já vem sendo discutido nos bastidores há algum tempo, mas ainda esbarra em dificuldades para dimensionar o fluxo de comércio que poderia ser absorvido pelo Brasil. Há duas semanas, representantes dos dois governos acertaram uma reunião para discutir o acordo automotivo, na capital mexicana, mas o encontro foi abruptamente cancelado. Segundo uma fonte do governo mexicano, “aparentemente os brasileiros ainda precisam ajustar suas cifras”.
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21/09/2012
ECONOMIA
O PIOR AGOSTO EM NOVE ANOS
A geração de empregos formais foi fraca em agosto. Segundo os dados divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, no mês passado o saldo líquido do emprego foi de 100.938, praticamente a metade dos 190 mil postos de trabalho criados no mesmo período de 2011. Foi o pior resultado para agosto nos últimos nove anos e também o mês com menor criação de vagas neste ano.
No acumulado dos oito meses do ano foi gerado 1,37 milhão de vagas com carteira assinada, o que representa uma queda de 24,5% frente ao desempenho de igual período do ano passado, quando foi criado 1,82 milhão de empregos formais. É também o pior resultado para períodos de oito meses desde 2009, quando foram criados 842 mil empregos com carteira assinada.
A perda de ritmo na geração de emprego surpreendeu até mesmo os técnicos do Ministério do Trabalho. Depois de julho, que apresentou um bom resultado, a expectativa era de que o número de vagas para os trabalhadores com carteira assinada deslanchasse. Não foi o que aconteceu. “O movimento do mercado de trabalho neste ano está bastante irregular, com enorme grau de imprevisibilidade”, observou o secretário interino de Políticas de Emprego e Salário, Rodolfo Torelly.
Impossível repetir
Torelly já está convencido de que não será possível repetir, em 2012, o desempenho do mercado de trabalho em 2011 que, depois dos ajustes feitos, ficou com um saldo líquido do emprego formal de 2,2 milhões. No máximo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) chegará à criação de 1,7 milhão de empregos — o mais provável é um número em torno de 1,5 milhão. Outros 300 mil poderão ser agregados com a incorporação das movimentações de pessoal informadas com atraso pelas empresas e também com os dados dos funcionários públicos, extraídos da Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
Para ter certeza de que esse cenário se concretizará, o Ministério do Trabalho aguarda ansioso os dados de setembro. “Assim como maio, setembro sempre é um mês muito dinâmico no mercado de trabalho. Esperamos um número bom, mas mesmo assim abaixo do resultado de setembro do ano passado”, disse Torelly. Em setembro de 2011 foram criados 251 mil novos empregos.
Vânia Cristino
A geração de empregos formais foi fraca em agosto. Segundo os dados divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, no mês passado o saldo líquido do emprego foi de 100.938, praticamente a metade dos 190 mil postos de trabalho criados no mesmo período de 2011. Foi o pior resultado para agosto nos últimos nove anos e também o mês com menor criação de vagas neste ano.
No acumulado dos oito meses do ano foi gerado 1,37 milhão de vagas com carteira assinada, o que representa uma queda de 24,5% frente ao desempenho de igual período do ano passado, quando foi criado 1,82 milhão de empregos formais. É também o pior resultado para períodos de oito meses desde 2009, quando foram criados 842 mil empregos com carteira assinada.
A perda de ritmo na geração de emprego surpreendeu até mesmo os técnicos do Ministério do Trabalho. Depois de julho, que apresentou um bom resultado, a expectativa era de que o número de vagas para os trabalhadores com carteira assinada deslanchasse. Não foi o que aconteceu. “O movimento do mercado de trabalho neste ano está bastante irregular, com enorme grau de imprevisibilidade”, observou o secretário interino de Políticas de Emprego e Salário, Rodolfo Torelly.
Impossível repetir
Torelly já está convencido de que não será possível repetir, em 2012, o desempenho do mercado de trabalho em 2011 que, depois dos ajustes feitos, ficou com um saldo líquido do emprego formal de 2,2 milhões. No máximo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) chegará à criação de 1,7 milhão de empregos — o mais provável é um número em torno de 1,5 milhão. Outros 300 mil poderão ser agregados com a incorporação das movimentações de pessoal informadas com atraso pelas empresas e também com os dados dos funcionários públicos, extraídos da Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
Para ter certeza de que esse cenário se concretizará, o Ministério do Trabalho aguarda ansioso os dados de setembro. “Assim como maio, setembro sempre é um mês muito dinâmico no mercado de trabalho. Esperamos um número bom, mas mesmo assim abaixo do resultado de setembro do ano passado”, disse Torelly. Em setembro de 2011 foram criados 251 mil novos empregos.
Agricultura
Em agosto, com exceção da agricultura e de alguns subsetores da indústria, que tiveram desempenho negativo por conta de fatores sazonais, todos os grandes setores da economia expandiram o nível do emprego. O problema é que a expansão foi baixa. Os serviços, por exemplo, geraram 54.323 postos de trabalho, o comércio 31.347, a indústria de transformação 16.438 e a construção civil 11.278 postos de trabalho.
A perda de 16.615 vagas na agricultura se deve ao encerramento do ciclo do cultivo do café. Isso foi determinante, por exemplo, para que Minas Gerais registrasse o fechamento de 2.787 vagas em agosto. No mês, além de Minas, só o Espírito Santo reduziu em 501 o número de postos de trabalho. Nos demais estados o desempenho foi positivo, apesar do fechamento de 3.340 vagas na indústria da borracha e na de fumo. Foram registrados 831 postos de trabalho a menos na indústria metalúrgica e um resultado também negativo de 136 vagas fechadas na indústria de calçados.
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IBGE mostra desemprego menor
Em contraposição aos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou, em agosto, uma taxa de desemprego de 5,3%.A taxa de agosto é a menor para o mês desde 2002 e representa uma queda significativa em relação ao mesmo mês de 2011, quando a taxa de desemprego ficou em 6%.
A Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE não pode ser comparada ao Caged, do Ministério do Trabalho. Enquanto o Caged é um registro administrativo, que deve ser preenchido e enviado por todas as empresas do país quando ocorre movimentação de pessoal, a pesquisa do IBGE se restringe às seis regiões metropolitanas e pega, além dos trabalhadores com carteira assinada, os informais.
Pelos dados do IBGE, o contingente de desocupados no país está caindo. Ele foi estimado em 1,3 milhão de pessoas em agosto no agregado das seis regiões metropolitanas, apresentando estabilidade em relação ao mês de julho mas com queda de 10,6% em relação a agosto de 2011, o que significa menos 153 mil pessoas nessa condição. Por outro lado a população ocupada nessas cidades atingiu 23 milhões, um aumento de 1,5% em relação a agosto do ano passado, representando um adicional de 328 mil pessoas ocupadas em 12 meses.
Rendimento cresce
Mais do que os dados da ocupação, o que vem segurando a demanda e garantindo o crescimento econômico, mesmo que baixo, é o aumento do rendimento médio real dos trabalhadores. O IBGE apurou para agosto um rendimento médio de R$ 1.758,10, com aumento de 1,9% em relação a julho e de 2,3% em relação a agosto de 2011. O maior aumento no rendimento em relação a agosto de 2011 foi de 7,3%, no setor de serviços domésticos. Na classificação por categorias de ocupação, o maior aumento foi registrado nos salários de empregados com carteira assinada do setor privado (4,4%).
Na análise por regiões, não houve variação da taxa de desemprego de julho para agosto. Apenas na comparação com agosto de 2011, a taxa de desemprego caiu em Salvador (2,5 pontos percentuais) e Porto Alegre (1,7 ponto percentual). Já com relação ao rendimento médio real dos trabalhadores, os salários aumentaram, de julho para agosto no Recife (5,25%), São Paulo (3,3%), Salvador (1,5%) e Rio de Janeiro (1%). Foi registrada queda em Belo Horizonte (-0,6%) e Porto Alegre ( -0,4%).
Na comparação com agosto de 2011, o salário subiu em Recife (8,7%), São Paulo (5,7%), Belo Horizonte (5,3%) e em Porto Alegre (1,5%) e recuou nas regiões metropolitanas de Salvador (4,3%) e do Rio de Janeiro (3,7%). Em agosto último, o maior salário médio era pago aos trabalhadores de São Paulo (R$ 1.899,50), enquanto os trabalhadores do Recife recebiam o menor (R$ 1.318,40).(VC)
» Ocupação O conceito usado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de ocupação e, para ser incluído na pesquisa, o trabalhador tem que declarar que está empregado ou está procurando emprego. Se ele está numa posição passiva, ou seja, deixou de procurar emprego por algum motivo, ele sai dos dados da População Economicamente Ativa (PEA).
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INTERNACIONAL |
21/09/2012
INTERNACIONAL
EM VEZ DE COMPETIR, BRASIL E MÉXICO DEVEM SE COMPLEMENTAR E BUSCAR A COOPERAÇÃO
Eliane Oliveira elianeo@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA Aos 46 anos, o presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, não está preocupado com as acusações de fraude eleitoral feitas pelas alas da esquerda. O político do Partido Revolucionário Institucional (PRI) defende o diálogo com a oposição visando às reformas estruturais a partir de 1º de dezembro, quando tomará posse. Ontem, ele conversou com O GLOBO após se reunir com a presidente Dilma Rousseff.
O senhor disse que pretende realizar reformas, especialmente na área trabalhista. Como conseguir esse objetivo num país que tem sindicatos tão fortes? O fato de o PRI não ter maioria no Congresso mexicano não seria um obstáculo?
Há um bom clima político no meu país. Um maior ambiente de civilidade e amadurecimento em todas as esferas políticas, na direita e na esquerda. Todos estão interessados em dar sua contribuição para as reformas estruturais que o país necessita. As eleições terminaram de maneira complicada, com acusações de fraude e compra de votos, principalmente por parte de seu adversário, López Obrador. Como o senhor lida com essas acusações? Haverá algum problema de legitimidade, como enfrenta até hoje o atual presidente, Felipe Calderón? Vejo um clima completamente distinto. A eleição foi um processo exemplar e não há provas e elementos que demonstrem que houve fraude. A Justiça eleitoral reafirmou a validade da votação e estamos todos convencidos de que o momento é de empreendermos um novo caminho, que é o da modernização e das reformas estruturais.
O México passa por momentos difíceis, por causa do crime organizado. Qual o primeiro passo para combater as organizações criminosas?
O tema segurança não é exclusivo do México. Faz parte da região e, para os mexicanos, é prioritário e sensível. Faremos ajustes na estratégia em vigor. Vamos buscar maior colaboração entre os vários níveis de governo, contratar mais pessoas para a segurança pública e fazer uso maior da inteligência para combater de maneira focada as organizações criminosas. A sociedade mexicana vai observar resultados de médio e longo prazos.
O México resolveria isso sozinho ou contaria com a ajuda de parceiros, como os Estados Unidos? Estou aberto a toda forma de apoio. Um tema tão importante deve levar em conta a colaboração com o esforço do nosso governo nessa matéria, sem perdermos nossa soberania.
Nos últimos anos, o México tem se distanciado de governos tidos como de esquerda e estado mais próximo dos EUA. Como será sua relação com os presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Rafael Correa (Equador) e Cristina Kirchner (Argentina)? Quero construir uma relação de diálogo e respeito com todos os presidentes da América Latina e do Caribe. Estou disposto a dar maior atenção a esses países e firmar acordos, sempre com respeito à soberania dos povos. Tendo isso como premissa, interessa-me ter uma relação cordial, respeitosa e construtiva. O fato de minha primeira viagem ao exterior como presidente eleito ser à América Latina deixa claro qual será minha prioridade.
O senhor passou pela Guatemala, que enfrenta violência na fronteira com o México, e pela Colômbia, cujos carteis de drogas também atuam em território mexicano. O senhor conversou com os líderes desses países sobre formas de cooperação? Este é meu primeiro giro pela América Latina como presidente eleito, e isso mostra que quero ter uma boa relação com as Américas Central e do Sul. Encontrei grande receptividade e interesse nesses países, e vamos trabalhar juntos num clima de confiança e integração, principalmente com o Brasil, que são fundamentais para o desenvolvimento da região.
Como México e Brasil podem trabalhar juntos sem disputar a liderança na região? Somos as duas economias mais importantes da região e, em vez de competirmos entre nós, devemos buscar a cooperação, a complementaridade e tomarmos decisões conjuntas nos fóruns e organismos multilaterais.
Qual a sua opinião sobre a Venezuela como membro do Mercosul? É um acordo regional que respeito, de caráter comercial, como os que o México tem celebrado com outros países. Criamos agora a Aliança do Pacífico, que queremos ampliar convidando outros países da região. Queremos mais comércio; por isso a relação entre México e Brasil será tão importante. Há poucos meses, o presidente Calderón teve de rever o acordo automotivo com o Brasil, porque as exportações de carros mexicanos eram bem superiores às importações de automóveis brasileiros. Como será daqui para frente? Em vez de limitarmos as relações comerciais, temos que buscar motivos para ampliá-las.
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MEIO AMBIENTE |
21/09/2012
MEIO AMBIENTE
BRASÍL É O PAÍS ONDE HÁ MAIS ESPERANÇA
Para Munasinghe, Brasil tem chances de mudar agenda ambiental antes de 'cair no penhasco'
IURI DANTAS, JOÃO VILLAVERDE / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O Brasil pode preservar grandes áreas de floresta e margens de rio e, ao mesmo tempo, desenvolver seu agronegócio. Essa é a avaliação do cingalês Mohan Munasinghe, vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e covencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2007 (com o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore). Ele esteve ontem em Brasília para uma conferência internacional de sustentabilidade. Ele critica a visão radical, "preto ou branco", dos ruralistas brasileiros no debate do Código Florestal, mas elogia a participação social na política de tratamento dos resíduos sólidos.
Para Munasinghe, a persistente crise econômica mundial tem levado os países para perto de um "precipício ambiental". Esse cenário, porém, permite também a emergência de novos métodos de consumo e costumes. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
A crise econômica mundial deprimiu o consumo das famílias. Isso pode facilitar uma mudança nos hábitos dos consumidores? Claro, afinal, estamos chegando perto do precipício. As pessoas mais espertas já perceberam que vamos cair no penhasco, e talvez a crise financeira mundial tenha sido o início desse problema. Temos energia para fazer as correções. O problema é que, ao mesmo tempo, as forças do establishment, que normalmente estão nos governos e nas grandes companhias, não querem essa mudança. A questão é: vamos mudar antes de cair do penhasco ou vamos cair, 10 milhões de pessoas vão morrer e então vamos mudar? A mudança virá. Mas não acredito que os líderes mundiais vão tomar essas decisões, estão olhando para o curto prazo, para a próxima eleição.
Os partidos verdes vêm tentando mudar isso, mas, quando chegam ao poder, repetem as práticas convencionais. Como o sr. vê essa questão?
Mudar a cara da política é importante, mas o que temos visto é que os partidos verdes têm um apelo limitado, da ordem de 10%, 15% do eleitorado, ou seja, fazem sucesso com um nicho, mas nunca chegam ao poder. E, quando fazem parte de uma coalizão, os outros partidos transformam o verde em marrom. Isso não significa, no entanto, que devemos suspender o apoio aos políticos verdes. A chave está nos movimentos sociais. Devemos encorajar os empresários a andar numa direção mais responsável, não apenas o sistema político. Temos de convencer as pessoas que isso não é um sacrifício.
Nas conferências de clima, os emergentes tentam convencer e os mais ricos hesitam em assumir compromissos porque querem construir suas indústrias... É uma questão complexa. Há dois casos relevantes de poluição: a local - não há dúvida de que nenhum país deve poluir, porque seus cidadãos vão sofrer - e a global - os gases de efeito estufa e dióxido de carbono, em que os emergentes têm a posição certa. Eles dizem: 80% dos gases liberados foram resultado de políticas dos países ricos e agora eles precisam fazer mais para resolver. É tolo para um político defender que vai poluir porque os outros o fizeram. A solução é aprendermos com a experiência dos ricos.
É factível avançar sem reduzir a dependência de combustíveis fósseis?
Há sempre a questão do custo. Há energia suficiente do Sol para suprir nossa demanda por 500 anos, mas a que preço? Um é o custo econômico, para construir os equipamentos, o que é muito caro. Mas há também os custos sociais e ambientais, que ignoramos por muitos anos. Operações como a exploração de petróleo em águas profundas, o óleo de xisto nos EUA, petróleo e gás no Ártico, todas elas têm custos ambientais altíssimos. Se incluirmos esse risco ambiental ou se fizermos essas atividades com salvaguardas, vamos descobrir que o custo é muito mais alto. E há o custo social. Se deixar tudo em questão de tecnologia, vão justificar os combustíveis fósseis para manter as empresas de petróleo.
O Brasil deveria adotar salvaguardas e tornar o petróleo do pré-sal mais caro, por exemplo? Não posso dizer nada específico sobre o Brasil, mas minha impressão é de que é bom para qualquer companhia de petróleo diversificar. Se só investe em exploração em detrimento do meio ambiente, não dura muito. Veja o Golfo do México: não fizeram direito e tiveram de gastar bilhões em indenização. Vale mais investir em preservação para evitar gastos maiores depois.
Como o sr. vê a política brasileira de resíduos sólidos? Percebo que a participação social no processo é maior. A maioria das iniciativas para lidar com resíduos sólidos no contexto urbano, nos países desenvolvidos, tem se baseado em tecnologias para tratar os resíduos. Mas precisa envolver as pessoas, porque não é apenas lidar com o volume de lixo, mas talvez reduzir a quantidade.
A questão ambiental tem atenção pontual no Brasil, nas concessões de logística, Belo Monte e outros, mas não faz parte de uma agenda permanente. Como resolver esse problema? Isso é um problema mundial. Vocês têm pessoas como Chico Mendes, como os irmãos Villas-Boas, que podem inspirar os mais jovens. Não quero fazer previsões, mas acho que o Brasil é o país onde há mais esperança, onde a mudança será feita antes de cair no penhasco. Você pode integrar sustentabilidade em todos os aspectos, de forma muito prática, não é algo que você acrescenta depois. Pode ser feito em toda parte, na energia, no agricultura.
Mas os ruralistas não veem as exigências ambientais como um benefício, mas como custo, especialmente na recomposição de áreas desmatadas. No mundo, a falta de água e a degradação da terra estão ligadas à crise de alimentos. O Brasil tem sorte porque possui mais recursos, mas se vocês desperdiçarem água e terra também vão ficar sem esses recursos. Sabemos cientificamente que podemos gerenciar os recursos florestais sem abrir mão de produção agrícola ou qualquer outra forma de exploração econômica. Há algumas áreas de floresta nas quais é preciso preservar, como margens de rio, e há outras que podem ter uso sustentável. Esses tipos de gerenciamento florestal estão bem desenvolvidos, não há mais desculpa por não usar. Não é preto e branco, como se você não interromper o desmate não haverá comida. Isso não existe.
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POLÍTICA |
21/09/2012
POLÍTICA
LEWANDOSKI AFIRMA QUE ESQUEMA ERA ACORDO DE FINANCIMANTO DE CAMPANHA
FELIPE RECONDO , MARIÂNGELA GALLUCCI , EDUARDO BRESCIANI / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski não relacionou ontem o esquema de pagamento de parlamentares no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva à compra de apoio político no Congresso. "Era um acordo de financiamento de campanha", afirmou em plenário durante a leitura de seu voto sobre os políticos que receberam dinheiro do valerioduto.
A posição de Lewandowski ontem contrastou com a do relator do julgamento, Joaquim Barbosa, segundo quem o mensalão foi um esquema de compra de votos. Ao fim da sessão, Lewandowski afirmou em entrevista que não vai detalhar no mérito de seu voto a finalidade do mensalão: compra de votos, como diz a Procuradoria-Geral da República e o relator, ou caixa 2 de campanha, como afirmam os advogados de defesa dos réus. "Não há necessidade de entrar nesse tipo de elucubração", disse o ministro.
Uma eventual vitória da versão segundo a qual o mensalão foi um esquema de caixa 2 afasta o caso do governo Lula - o ex-presidente foi um dos primeiros a dizer, ainda em 2005, quando o escândalo veio à tona, que o mensalão serviu para financiar campanhas eleitorais não contabilizadas de campanha. Em seu voto de ontem, Lewandowski condenou, assim como o relator, o ex-deputado federal e ex-presidente do PP Pedro Corrêa pelo crime de corrupção passiva por ter recebido recursos do esquema montando pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. No entanto, ressaltou que o tribunal mudou sua jurisprudência sobre o crime.
No entendimento do ministro, antes a Corte exigia que o Ministério Público indicasse qual ato o corruptor queria que o agente público praticasse em troca do dinheiro. Esse entendimento perdurava, segundo o ministro, desde o julgamento do processo que envolvia o ex-presidente Fernando Collor. Agora, disse o revisor do caso, o tribunal passou a entender que bastaria o recebimento dos recursos para que ficasse comprovada a corrupção passiva. Bastaria ao Ministério Público indicar um ato de ofício "abstrato" e "em perspectiva" para configurar o crime de corrupção.
Ao contrário do relator, Lewandowski absolveu Corrêa do crime de lavagem de dinheiro. Para o revisor, o recebimento disfarçado do dinheiro é parte do crime de corrupção. Ninguém que se deixa corromper, explicou Lewandowski, recebe dinheiro às claras. No entendimento do ministro, haveria o crime de lavagem se Corrêa tivesse engendrado um esquema, por exemplo, de mandar dinheiro para fora do País.
Por esse entendimento, Lewandowski antecipa que deve absolver todos os deputados e ex-deputados do crime de lavagem de dinheiro. Os réus seriam condenados por corrupção, mas absolvidos desse segundo crime, cuja pena é mais alta.
Lewandowski defendeu a absolvição do deputado Pedro Henry (PP-MT) por entender que o Ministério Público não conseguiu descrever qual foi sua atuação específica no esquema. Para o ministro, o parlamentar foi denunciado apenas por ser líder do PP na época. Ele destacou depoimentos em que se restringe a negociação do partido aos seus dirigentes. "O Ministério Público baseou-se apenas na sua função de líder de bancada, não descrevendo qualquer atuação."
Retomada. A sessão foi suspensa ontem no início do voto de Lewandowski. O julgamento será retomado na próxima segunda-feira, quando Lewandowski terminará seu voto sobre os réus do PP e julgará os integrantes do PL (atual PR), PMDB e PTB, incluindo o delator do esquema, Roberto Jefferson. Lewandowski disse que pretende terminar de ler seu voto na segunda-feira. Os demais ministros votariam na quarta-feira, deixando a quinta-feira para que o relator do processo comece a julgar o ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, apontado como chefe do esquema.
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21/09/2012
POLÍTICA
MOMENTO OPORTUNO
Anotícia não poderia vir em momento mais oportuno. Após uma série de reuniões em Brasília, durante a semana, avançou o processo de estruturação, em ação combinada dos governos federal e estadual, de um núcleo de enfrentamento aos desastres naturais. O Rio Grande do Sul é um dos estados brasileiros que receberá um radar meteorológico essencial para a antecipação de fenômenos como chuvas, ciclones e estiagem. O equipamento será adquirido por meio de licitação encaminhada pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O edital está em fase final e será publicado nos próximos dias. No dia 18, o secretário do Planejamento, João Motta, acompanhado por grupo de representantes do primeiro escalão do governo, apresentou ainda, no Ministério do Planejamento, ações para o Plano Nacional de Gestão de Risco e Resposta a Desastres Naturais. O Planalto irá disponibilizar R$ 18 bilhões à estruturação de sistemas de prevenção em todo o país. O Piratini tem agora prazo de dez dias para encaminhar detalhamento técnico de projetos que irão priorizar estruturas de contenção de enchentes, barragens, drenagem e contenção de encostas.
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21/09/2012
POLÍTICA
PT E ALIADOS ACUSAM OPOSIÇÃO POR GOLPE NO USO DO MENSALÃO
Com a bênção da presidente Dilma Rousseff, os principais partidos da base governista divulgaram ontem um manifesto em que acusam a oposição de golpismo ao usar politicamente o julgamento do mensalão.
O documento, que se apresenta como uma defesa da "honra e dignidade" do ex-presidente Lula, compara o atual ambiente político ao que antecedeu o golpe militar (1964) e o suicídio de Getúlio Vargas (1954). Principal réu do mensalão, o ex-ministro José Dirceu participou da decisão de escrever o manifesto, discutido na terça com Lula e o presidente nacional do PT, Rui Falcão.
O teor foi apresentado a Dilma na quarta, após ser redigido em conjunto com o PC do B e o PSB do governador Eduardo Campos (PE), que também assina o documento. Campos é citado como um dos cotados para disputar a Presidência em 2014.
Assinada também pelos presidentes do PMDB, Valdir Raupp, PDT, Carlos Lupi, e PRB, Marcos Pereira -coordenador da campanha de Celso Russomanno em São Paulo-, a nota acusa PSDB, DEM e PPS de pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal). O objetivo seria transformar o mensalão num "julgamento político, golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula".
Sob o título "À sociedade brasileira", a carta é uma resposta à nota divulgada pela oposição após publicação de declarações atribuídas ao empresário Marcos Valério Fernandes de Souza na revista "Veja". Segundo a reportagem, Valério diz que Lula chefiou o esquema.
"As forças conservadoras revelam-se dispostas a qualquer aventura. Não hesitam em recorrer a práticas golpistas, à calúnia", diz a carta, que chama a reportagem de "fantasiosa" e de "amontoado de invencionices".
RETA FINAL
O manifesto coincide com a definição de rito no Supremo que deve levar Dirceu a ser julgado às véspera do primeiro turno da eleição, no dia 7. Entre os motivos para sua divulgação está a tentativa de aplacar a irritação de Lula. Segundo interlocutores, o ex-presidente repete que há uma tentativa de desmonte de sua imagem e que não permitirá que seu governo fique na memória como o palco de maior escândalo de corrupção da história. "É um gesto mais pessoal do que político. Lula está muito chateado. Isso abateu o velho", disse Carlos Lupi.
Presidente do PC do B, Renato Rabelo diz que o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, foi responsável por incluir os ataques mais contundentes. Falcão mostrou a carta para Dilma um dia depois de ter se reunido com Dirceu no instituto Lula. A reunião fora originalmente convocada para discutir uma estratégia para mitigar o impacto eleitoral do julgamento do mensalão. Lula concordou com a elaboração da nota. Falcão não confirma a conversa com Lula nem com Dilma.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) também está organizando manifestação em apoio a Lula. Ontem, durante ato na Paulista, os sindicalistas entoaram o coro de "Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo." A oposição disse que o manifesto governista demonstra "desespero" com a perspectiva de derrota nas eleições.
Colaborou GABRIELA GUERREIRO, de Brasília
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