Turismo Rural Brasileiro Será o Maior Destino Mundial

15/02/2013 18:35

 

Andreia Roque*
 
A Organização Mundial do Turismo estimou que pelo menos 3% de todos os turistas do mundo
orientam suas viagens para o universo rural, sendo uma das atividades potenciais das próximas
décadas. Com crescimento anual de aproximadamente 6% responde a uma nova tendência global,
onde o turista não mais deseja ser um mero expectador de sua viagem, mas sim, o protagonista, que
efetivamente vivencia a cultura e a experiência nos novos destinos visitados.
 
No Brasil, o IDESTUR – Instituto de Pesquisa do Turismo Rural detecta um percentual muito maior
de crescimento, tanto no número de empreendimentos quanto ao de consumidores, e também prevê
que o número de produtos ofertados aos turistas aumentará notadamente, nos próximos anos e em
destinos ainda não reconhecidos como é o caso do Estado do Rio Grande do Norte.
 
Mas, de maneira geral, desde os anos 50 as atividades turísticas rurais são consideradas estratégias
de desenvolvimento local em muitos países ao norte e centro da Europa; a partir dos anos 70, nos
países do sul da Europa e Estados Unidos; na década de 80 na América Latina e dos anos 90 até
hoje em alguns países do continente africano. Na Oceania, Japão e Brasil, começou a se
desenvolver a aproximadamente 20 anos. Atualmente o Brasil encontra-se no quarto lugar do
ranking mundial de oferta de destinos turísticos rurais, tendo a sua frente os percussores da
atividade Espanha, Portugal e Argentina.
 
A realidade nacional aponta a atividade como dínamo rural, uma vez que alem de valorizar os
produtos e serviços do campo, gera novas oportunidades de trabalho e agrega valor ao produto
primário por meio da verticalização da produção. Porém, após percorrer tantos destinos e vivenciar
múltiplas realidades é possível reconhecer, que o Brasil do turismo rural do século XXI, vive uma
grande transformação, procurando criar uma identidade turística profissional, moderna sem perder a
ruralidade, o que permitirá alcançar em menos de dez anos além da liderança do ranking de destinos
o status de maior destino de turismo rural mundial.
 
Vários são os fatores que me levam a fazer esta afirmação tão contundente, e para muitos,
inesperada. Porém, lhes citarei alguns elementos que embasam a minha “Teoria da Transformação”.
Se olharmos atentamente para a realidade turística rural brasileira podemos nos aperceber que este é
um universo em plena ebulição, que se manteve na informalidade, e por isso, com poucos
mecanismos eficazes de comercialização, mas em contrapartida com várias ações voltadas para a
capacitação e construção de destinos.
 
A possibilidade próxima, da aprovação do Projeto de Lei 5.077/09, que tramita na Câmara dos
Deputados, que prevê a regulamentação da atividade e reconhece ser esta, uma atividade turística,
mas com especificidades rurais, é certamente uma das primeiras ferramentas destas transformações.
Acompanhei esta construção desde seu início, e reconheço neste, um dos primeiros passos da
transformação, mas definitivo para o segmento alcançar os novos patamares almejados. A criação
de uma lei nacional, que legaliza o empresário rural do turismo e sua atividade, permitirá acesso aos
mecanismos mais eficazes de desenvolvimento, crédito, promoção e comercialização, bem como
aos deveres da profissionalização, do cadastramento e qualificação, trazendo assim o universo do
turismo rural para participar de fato da realidade turística empresarial nacional, dos convênios de
qualificação e ordenamento com Ministérios, da preparação para os grandes eventos internacionais
como a Copa, entre outros.
 
Outra importante ferramenta, para a transformação de nosso país no “Destino Mundial do Turismo
Rural” foi o amadurecimento do relacionamento comercial com operadoras e agência, e a
construção de um novo meio para a distribuição do turismo rural. As rodadas de negócios apoiadas
SEBRAE, que aconteceram durantes as duas últimas edições da Feira Nacional de Turismo Rural
iniciaram esta aproximação, e promete frutificar para ações empresariais concretas.
 
Nasce a primeira operadora de turismo voltada para a ruralidade e natureza, formatando e
colocando na prateleira produtos com experiência rural e novas empresas começam a surgir
trazendo assim uma “massa muscular” necessária para participar do mercado do turismo com
ofertas coerentes com a demanda. Agencias, começam a ter interesse pelos produtos e o turismo
rural, começa a se relacionar com tarifários, bloqueios, emissão de notas entre outros.
Todos estes elementos, acrescidos de nossa aptidão natural do campo, desde nosso passado colonial,
que permite reunir em um único destino Brasil, múltiplos produtos experiências rurais como o
Café e seus Barões, a Cana-de-Açúcar e seus Engenhos, Pampas Gaúchos e suas Tradições, os
Sertões da Paraíba, o Agroturismo do Espírito, as vivencias da agricultura familiar entre outros,
hoje enaltecidas pela “Economia da Experiência”, que trouxe para a pauta de nossas conversas
turísticas os valores da “Sociedade do Sonhos”e nos apresentou um viajante participante das
colheitas das frutas, das vindimas, e não mais um não mais um mero espectador, constroem a base
da pirâmide de transformação do turismo rural.
 
Falamos da Nova Zelândia como destino de grande Aventura, Peru como destino de Selva e Base
Comunitária, Caribe como destino de Praia, entre outros ícones destinos de Montanha, Esqui,
Pesca, Luxo, Eventos. Mas, ainda não existe no imaginário coletivo, nenhum país em especial
reconhecido como o destino de turismo rural, esta é uma oportunidade de negócio e marketing de
destino, que o Brasil pode preencher..
 
Sabemos que o desafio par a o ordenamento do segmento é colossal, mas disposição para seguir
avante com as mudanças e melhorias tão importante para o Turismo Rural Brasileiro existe, o que
contribuirá não só para a consolidação da atividade, mas também para este despertar mundial do
turismo rural. Vermos em menos de dez anos o surgimento do Brasil Rural, do Brasil do Turismo
Rural.
 
 
 
 
*Andreia Maria Roque é Professora Doutoranda pela Universidade de Aveiro em Portugal e
proprietária da Brasil Rural Operadora de Experiências Rurais. Preside o Instituto de Pesquisa
IDESTUR – Instituto de Desenvolvimento do Turismo Rural, pois acredita que pesquisas e
produtos turísticos devam andar de mãos dadas. Atualmente é presidente do Conselho da
ABRATURR, Associação Brasileira de Turismo Rural SP e atua no Caribe e América Latina em
cooperação com o IICA.

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